Macron, o europeu, prometeu unir França
Audácia, mas também protecção e união: estas foram as palavras-chave do discurso de Emmanuel Macron, o novo Presidente francês. A campanha para as legislativas já abriu.
Para que não houvesse dúvidas, Emmanuel Macron entrou em cena, na esplanada do Louvre, onde os seus apoiantes festejavam a vitória, ao som do hino da União Europeia, a Ode à Alegria de Beethoven. “Vocês escolheram a audácia, e vamos persegui-la. Porque é o que a Europa e o mundo esperam de nós. Esperam que a França os espante de novo, que a França seja ela própria”, afirmou o novo Presidente francês. “Foi a França que ganhou”, atirou aos apoiantes.
Macron, que ganhou com 64,8% dos votos, face a 35,2% de Marine Le Pen, compreende que nem todos os que votaram nele aderiram às suas ideias. Prometeu unir o país. “Sei que as divisões da nação conduziram alguns a um voto extremo. Conheço as cóleras, as dúvidas, as ansiedades que alguns exprimiram. É minha responsabilidade ouvir-vos e lutar contra todas as formas de desigualdade, garantindo a unidade da nação.”
Unidade, protecção, segurança — palavras que o novo Presidente francês repetiu várias vezes, e não por acaso expressões muito usadas na campanha pela sua adversária, Marine Le Pen. Prometeu a quem votou pela candidata da extrema-direita “trabalhar durante os próximos anos para que deixem de ter razões de votar pelos extremos”.
Mas onde a candidata da extrema-direita queria exorcizar a União Europeia como se fosse um demónio que se tinha apoderado do corpo de França, Macron prometeu manter os laços. “Defenderei a Europa, é a nossa civilização que está em jogo, a nossa maneira de sermos livres. Vou trabalhar para reforçar os laços entre a Europa e os cidadãos”, assegurou. Entre os apoiantes de Macron, aqueles que encheram a rua do Rivoli para entrar no carrossel do Louvre e festejar a sua eleição, havia muitos jovens, com gosto em verem França na União Europeia. Alguns levavam a bandeira de estrelas da UE.
“Espero que ele não tire França da UE. São os estrangeiros que limpam o Metro, os edifícios; se ele os manda sair, quem é que vai fazer estes trabalhos?”, interroga Assna Joumet, de 71 anos, antiga esteticista, que trabalhou na Chanel e na Dior. “Só desejo que faça o bem para os franceses”, conclui. Um desejo suficientemente forte para trazê-la para esta multidão, de impermeável azul-celeste.
“Foi para bloquear Le Pen”
Manon Laroche tem 21 anos, é loura e tem caracóis e algumas sardas. É estudante de Relações Internacionais. Na primeira volta, votou no socialista Benoît Hamon, e se era uma das muitas pessoas que estavam na longa fila na rua do Rivoli, para aceder à esplanada do Louvre, onde Macron fazia a festa da sua eleição, não votou nele por grande convicção. “Foi para bloquear Marine Le Pen”, explicou ao PÚBLICO.
O mesmo aconteceu com 43% dos eleitores de Macron, segundo um estudo de opinião do instituto Ipsos: deram-lhe o seu voto apenas para evitar que Le Pen chegasse ao Palácio do Eliseu. Manon Laroche votou no socialista Benoît Hamon na primeira volta das presidenciais. “Ele queria mudar o sistema. Não gosto muito das ideias de Macron, sobretudo na economia.”
Por isso, ainda não sabe se vai votar nele nas legislativas, que são já em Junho — 39% dos que votaram neste domingo em Macron também não estão certos de quererem dar uma maioria parlamentar ao político que se definia como não sendo “nem de direita nem de esquerda”. “Vamos ver, depende das pessoas que apresentar como candidatos, das ideias que tiverem”, diz a estudante universitária.
Macron sabe que não está tudo ganho e que a campanha das legislativas (de 11 e 18 de Junho, com duas voltas) começou logo que foi anunciado o resultado das presidenciais. Face aos apoiantes, com a pirâmide de vidro da esplanada do Louvre do arquitecto Ieoh Ming Pei atrás, apelou à mobilização para as novas eleições: “A nossa tarefa será construir uma verdadeira maioria, uma maioria forte, de mudança. Ainda vou precisar mais de vocês”, afirmou.
Embora muitos tenham votado por obrigação, para fazer frente a Le Pen, há muitos entusiastas. Os que levavam telemóveis para seguir as emissões de rádio e televisão deram o alerta, quando se soube o resultado, na longuíssima fila que percorria toda a fachada do Museu do Louvre, como uma centopeia de todas as cores. Explodiram a gritar “ganhámos!” quando as televisões mostraram o rosto de Macron às 20h, quando todas as urnas fecharam.
“Viva a esperança!”, gritava um jovem alto, negro, de impermeável curto cinzento, que filmava a multidão, eléctrico. Havia muitos franceses negros entre os apoiantes de Macron que foram comemorar.
“Macron Presidente!”, começaram a gritar. Em Paris, o voto em Marine Le Pen é residual. Na primeira volta, a 23 de Maio, teve apenas 4,99%. Desta vez, terá tido cerca de 10%, disse no Twitter a presidente da Câmara de Paris, a socialista Anne Hidalgo. “Orgulhosa dos parisienses!”, comentou.