Entrada das Misericórdias no Montepio? "É prematuríssimo"
O presidente da União das Misericórdias Portuguesas alerta para a "enorme descapitalização" do sector, com a excepção da Santa de Casa da Misericórdia de Lisboa, cuja "capacidade financeira" é destacada por Manuel Lemos.
O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP), Manuel Lemos, não confirma nem descarta a possibilidade de as misericórdias entrarem no capital da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG). “É prematuríssimo”, reagiu quando o PÚBLICO o questionou com a notícia do Correio da Manhã, desta segunda-feira, que dá esta possibilidade como segura, adiantando que a ideia tem vindo a ser discutida, estando a aguardar que aquela instituição seja convertida numa sociedade anónima.
O presidente da UMP garante que “não houve quaisquer contactos nesse sentido”, pelo que “não faz sentido estar nesta fase a falar disso”. Apesar disso, Manuel Lemos parece não descartar completamente a hipótese. “Estudaremos o que nos vier a ser proposto. Faremos tudo para ajudar, num quadro de consenso generalizado, mas também de enorme descapitalização das misericórdias”, avisou, sustentando que “durante a crise, as misericórdias foram a almofada social do país - e é assim que tem de ser - mas por causa disso estão fortemente descapitalizadas”.
Quanto à hipótese de ser a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa a entrar no capital da CEMG, Manuel Lemos muda de tom. “Essa sim tem capacidade financeira. Mas a Misericórdia de Lisboa tem um estatuto diferente – os seus membros são nomeados pelo Governo – e, portanto, essa matéria depende do Governo. Com certeza, o provedor Pedro Santana Lopes tem condições para fazer isso, mas não tem nada a ver connosco”.
O cenário de participação das Misericórdias no capital da CEMG surge numa altura em que a hipótese de entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a do Porto no capital da Caixa Económica Montepio Geral, o principal activo dos cerca de 650 mil mutualistas da Associação Mutualista do mesmo nome, tem sido comentada publicamente, nomeadamente depois de o ministro do Trabalho, Vieira da Silva o ter assumido.
“O Governo vê sempre com simpatia o reforço da associação entre as diversas instituições e famílias da chamada economia social”, disse Vieira da Silva, na semana passada, acrescentando que “esse reforço é visto com muita naturalidade” e que nada opõe a uma “interacção mais forte entre instituições que prosseguem fins de natureza social e que têm peso económico na sociedade portuguesa”.
Já Pedro Santana Lopes, provedor da Santa Casa da Misericórdia, também já comentou a possibilidade, explicando, em entrevista à TVI, que “descartar [essa hipótese], não descarto. Basta o Governo dizer que gostava de ver a Santa Casa de Lisboa e outras instituições da área social para eu achar que se pode ser uma obrigação. E compreendo a perspectiva do Governo". No entanto, alertou, "a Santa Casa não entra em aventuras".