Santa Casa: "Temos obrigação de estudar" entrada no banco Montepio
O ministro Vieira da Silva convocou a semana passada o provedor, Pedro Santana Lopes, e o vice-provedor, Edmundo Martinho, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa. O tema foi uma solução para o Montepio.
Os associados da Associação Mutualista Montepio Geral (AMMG) estão, esta quinta-feira, reunidos em assembleia-geral, num quadro de turbulência e guerras internas. E numa altura em que surgem informações apontando para a abertura do capital do banco Montepio a parceiros da economia social.
A hipótese de entrada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa e a do Porto no capital da Caixa Económica Montepio Geral, o principal activo dos cerca de 650 mil mutualistas, já vinha sendo mencionada nos bastidores há muito tempo, e foi esta quinta-feira divulgada pelo Diário de Notícias.
Uma solução que o Governo está a promover para reduzir a interdependência entre o banco e a Associação e que é posta em cima da mesa num momento em que há uma preocupação ao mais alto nível de estabilizar o grupo. E quando as guerras internas, protagonizadas pelo presidente da Associação Mutualista, Tomás Correia, e pelo do banco Montepio Geral, Félix Morgado, atingiram um ponto alto. Se Tomás Correia é visado em várias investigações criminais, que já culminaram na sua constituição como arguido, à gestão de Félix Morgado é imputada uma alegada operação imobiliária fictícia para gerar lucros.
O PÚBLICO apurou que foi neste contexto que, na semana passada, o ministro Vieira da Silva convocou ao Ministério do Trabalho e da Segurança Social, que tutela a AMMG, o provedor, Pedro Santana Lopes, e o vice-provedor, Edmundo Martinho, da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa.
Um encontro que serviu para Vieira da Silva abordar “com algum detalhe” a possibilidade de a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa entrar no capital do Montepio. Uma proposta que é apresentada pela primeira vez de forma mais concreta e dada a conhecer publicamente pelo Governo.
Inquirida a Santa Casa da Misericórdia sobre os termos de uma eventual “negociação” para assumir posição no banco Montepio, fonte próxima de Pedro Santana Lopes sublinhou: “O Governo está a construir essa hipótese e a Santa Casa da Misericórdia tem obrigação de a estudar”.
Mas esta é uma solução com obstáculos pela frente. Desde logo, há dificuldades em convencer um potencial parceiro estratégico, em especial da economia social, como é a entidade presidida por Santana Lopes, a investir num banco sem pedir uma avaliação independente.
E, em 2016, a participação da Associação Mutualista no banco Montepio estava contabilizado nas contas em mais de dois mil milhões de euros: a soma do capital social de 1,770 mil milhões de euros com 240 milhões de euros de unidades de participação (UP) do Fundo de Participação da Caixa Económica Montepio Geral (CEMG). Estes títulos, ao contrário do capital social, estão cotados e transaccionam-se na bolsa acima dos 0,40 cêntimos. É este o valor atribuído pelos investidores à instituição liderada por Félix Morgado, com cerca de 5% de quota de mercado. Em comparação, à cotação actual, o BCP, com mais de 20% de quota de mercado vale 2,5 mil milhões de euros, e o BPI, com cerca de 11% de mercado, 1,3 mil milhões.