Se Juppé substituir Fillon, Le Pen pode ser eliminada à primeira volta em França

As surpresas não acabaram ainda nas presidenciais francesas. O candidato da direita pode vir a cair e é tudo menos garantido que Macron será Presidente.

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Alain Juppé quer uma vaga de fundo para substituir Fillon Regis Duvignau/REUTERS

François Fillon não desiste da sua candidatura às presidenciais, mas o partido está a desistir do seu candidato, que está prestes a ser constituído arguido por ter dado empregos fictícios a familiares. E está a criar-se uma vaga de fundo para que o substituto seja Alain Juppé, o derrotado nas primárias do centro-direita, um político mais ao centro, que uma sondagem saída nesta sexta-feira diz que ganharia a primeira volta das presidenciais – eliminando da corrida Marine Le Pen.

O inquérito Odoxa conclui que se Juppé substituísse Fillon como candidato de Os Republicanos, ficaria em primeiro lugar na votação de 23 de Abril, com 26,5%, batendo, por muito pouco, Emmanuel Macron, com 25% – que surge pela primeira vez à frente da líder da extrema-direita na primeira volta. Le Pen teria 24% e seria eliminada. Há muito tempo que uma sondagem não desenhava um cenário sem Marine Le Pen no tira-teimas de 7 de Maio, quando será realmente eleito o próximo Presidente da República.

Tudo isto não passaria de um cenário de sondagens, não fosse o caso de pela primeira vez se desenhar de facto a  possibilidade de Alain Juppé substituir Fillon, de cuja campanha já desertaram mais de uma centena de políticos, desgostosos com a sua atitude de desafiar a justiça e os tribunais. “Não vou ceder, não me vou render, não me vou retirar", garantiu Fillon na quarta-feira, ao anunciar ter sido convocado pelos juízes para prestar declarações a 15 de Março, quando deverá ser constituído arguido no processo dos empregos fictícios. Continua a dizer-se vítima de um “assassínio político sem precedentes”.

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François Fillon vê-se a braço com uma onda de mais de uma centena de demissões na sua campanha Regis Duvignau/REUTERS

O jornal Le Parisien avança que Juppé, presidente da câmara de Bordéus, que até agora se tem mantido leal a Fillon, decidiu avançar se o candidato renunciar, isto porque o seu campo político está numa situação que classifica como "um suicídio colectivo". Juppé fez saber através dos seus próximos que “está pronto”. Mas quer sentir “uma vaga de fundo” a exigir o seu avanço. "O apelo não pode vir só dos meus apoiantes. Tem de ser mais amplo", cita o diário parisiense.

E essa vaga está a formar-se. Já chegaram ao Conselho Constitucional (equivalente ao supremo tribunal) os primeiros apadrinhamentos – pessoas que ocupam cargos eleitos que dão o seu apoio a um candidato presidencial – a Juppé. Todos os candidatos têm de reunir 500 destes apoios.

A reentrada em cena de Juppé seria uma nova reviravolta nestas atribuladas eleições. Macron, que se tornou no inesperado favorito, poderia perder os eleitores centristas que se viram sem opções quando Juppé foi batido nas primárias da direita por Fillon. E se Macron e Juppé disputassem as preferências dos eleitores, o papão eleitoral que Marine Le Pen tem feito crescer durante os últimos meses pode perder gás – e até ser eliminado na primeira volta.

Fonte próxima de Fillon, citada pelo Politico, avança que o candidato deverá desistir da corrida presidencial caso não sinta que a sua candidatura tem apoio e força suficientes. A avaliação será feita domingo, após um comício que está a ser organizado para a praça do Trocadero, em Paris. "Ele pode lutar contra juízes, mas não consegue lutar contra o seu próprio partido durante muito mais tempo", disse esta fonte.

Mas a posição oficial de Fillon continua a ser de confrontação, apesar estar de cada vez mais só. Jean-François Copé, ex-líder da UMP (o nome anterior do partido Os Republicanos), anunciou que não irá ao Trocadero. Grande parte dos elementos da organização Jovens com Fillon anunciou a sua demissão da campanha. A União dos Democratas e Independentes (centrista) retirou-lhe o apoio. A candidatura de Fillon parece-se cada vez mais com a série Game of Thrones, em que várias famílias se enfrentam para conquistar o poder, ironizou no Twitter o senador Roger Karoutchi.

Há também apelos a uma contra-manifestação no domingo contra a corrupção dos eleitos “e pelo respeito ao povo, à justiça e à imprensa” na Praça da República, relata a televisão BFM. E interrogações sobre a afluência ao comício de Fillon: especula-se que os apoiantes da Manif pour Tous, os integristas católicos e opositores ao casamento gay estejam presentes em força. 

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