Vanessa Fernandes regressa ao triatlo: “Oito anos depois, volto inteira”

A atleta oficializou o regresso à alta competição, de olhos postos nos Jogos Olímpicos de 2020. O plano passa por dar passos seguros para reactivar as qualidades que fizeram dela "um fenómeno".

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LUSA/MIGUEL A.LOPES
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Um dia no início de Agosto do ano 2020 saberemos se o plano de Vanessa Fernandes resultou. Algures na segunda semana dos Jogos Olímpicos de Tóquio decorrerá a prova de triatlo feminino. Por essa altura, já saberemos se (e como) Vanessa lá chegou. Para já, a única coisa que é garantida é que a filha de Venceslau Fernandes vai fazer o caminho de regresso ao triatlo, a modalidade que a consagrou como uma das melhores atletas da história do desporto português e que lhe deu uma medalha de prata nos Jogos de Pequim em 2008. Aos 31 anos, e quase uma década depois de ter abandonado a modalidade, sem nunca ter deixado de fazer desporto, Vanessa Fernandes assumiu o regresso ao palco olímpico como o objectivo, sem se comprometer com um lugar, seja ele abaixo do oitavo que conseguiu em 2004 ou acima do segundo que conquistou em 2008.

Todo o discurso de Vanessa Fernandes andou à volta de finalmente ter encontrado o que lhe faltava para voltar ao triatlo. “Oito anos depois, volto inteira”, declarou a atleta de Perosinho, que abandonara a modalidade pouco tempo após os Jogos de 2008, regressando depois à vida desportiva em provas de atletismo de estrada e em corta-mato. O que faltava, diz, era voltar ao convívio olímpico, que foi o que aconteceu em 2016, ano em que foi suplente não utilizada na equipa feminina da maratona. “Esta decisão já vem de há muito tempo. A minha ida aos Jogos foi muito interessante para mim, meteu as minhas ideias no lugar. Foi aí a minha viragem”, confessou a atleta.

Até esse dia de Agosto em Tóquio, Vanessa Fernandes vai ter três anos e meio de trabalho pela frente, os dois primeiros para se testar em competição, o tempo restante para ir em busca da qualificação olímpica. “Será acompanhada por profissionais em várias áreas para garantir que os passos são dados na altura certa e que os degraus são subidos um de cada vez sem deixar nenhum por subir”, diz Lino Barruncho, seleccionador nacional de triatlo, que tem trabalhado diariamente com Vanessa Fernandes no Centro de Alto Rendimento do Jamor desde Dezembro passado.

”O motor não gripou”

Ouvindo as palavras de Vanessa Fernandes e de muitos dos que a acompanharam e vão continuar a acompanhar, a ideia forte é que algo mudou. Vanessa já não é a miúda que se mudou para o Jamor com 15 anos, nem a adolescente que esteve em Atenas 2004 ou a jovem adulta que foi a Pequim 2008. Palavra ao pai, Venceslau Fernandes, antigo ciclista vencedor de uma Volta a Portugal. “Tinha 18 anos em Atenas... Não digo que era uma criança, mas não tinha a noção de todas as coisas que a rodeavam. Agora, já tem essa noção, já sabe aquilo que quer e sabe qual a direcção que tem de ter para o que ela procura”, diz o antigo ciclista ao PÚBLICO, lamentando, citado pela agência Lusa, alguns erros que o próprio cometeu na gestão da carreira da sua filha mais velha: “Se calhar fui o grande responsável por muita coisa, mas fiz tudo sempre a pensar no melhor para a Vanessa. Estou arrependido de a ter deixado sair com 14 anos.”

Mas há duas coisas que não mudaram em Vanessa Fernandes, o talento natural para o desporto e o espírito competitivo. “Ainda vai ter algumas provas importantes e ainda está ao alcance dela. O motor não gripou, não avariou. O motor está lá, é uma questão de o reactivar. É uma lutadora nata, tem uma capacidade de sofrimento muito grande e estou convencido que vai conseguir os objectivos”, diz o “Velho Lau”, para quem a paragem competitiva foi benéfica para o reequilíbrio de Vanessa: “Fez-lhe bem para recuperar a motivação e a saúde que lhe estava a faltar. Mas ela não esteve totalmente parada, continuou a fazer atletismo e continuou a andar de bicicleta. Na natação é natural que tenha um pouco mais de dificuldade e vai ter de trabalhar mais. Mas ela trabalha, tem motivação para fazer tudo.”

O espírito competitivo de Vanessa, reconhece Lino Barruncho, pode tornar-se num problema, tendo em conta o hiato competitivo da atleta do Benfica no triatlo. “Mantém as qualidades físicas e psicológicas, continua a ser um fenómeno, e as coisas podem andar muito rápido, mas temos de a saber travar nas alturas certas. É uma perfeccionista, sempre o foi. Temos de saber respirar e saber dar um passo atrás para poder dar dois à frente”, diz o treinador. Ir a Abu Dhabi no início de Março, para a primeira prova da época do World Tour, chegou a estar nos planos, mas “um passo maior que a perna resultou numa pequena lesão” que inviabilizou que voltasse já à competição, apontando esse regresso para uma prova da Taça da Europa, em Quarteira, em Abril.

Medalhas olímpicas não é algo que Vanessa Fernandes possa ou queira prometer. Pelo menos, não agora. “As coisas estão a ser feitas ao meu ritmo. É um ciclo que estou a iniciar e haverá muita coisa pelo meio”, diz. A competição, desta vez, não lhe vai roubar nada, não vai ser igual aos anos em que deu “o que tinha e o que não tinha” e em que entregou “a alma e o coração” sacrificando a sua identidade. Agora, vai ser nos seus próprios termos. “Sinto-me com tudo, confiante e capaz. É um passo que sempre tive algum receio de dar. Mas agora estou equilibrada comigo mesma. Basicamente é isto. É simples.”     

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