Europeus tentam encontrar tom certo para lidar com Trump

Merkel mantém-se prática em relação ao assunto dominante na cimeira informal de Malta: Donald Trump. Theresa May apresenta-se como mensageira dos EUA, despertando reacções diferentes.

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May apresentou-se como uma "ponte" entre a UE e Trump YVES HERMAN/Reuters

Os líderes europeus têm interesse em ter uma boa relação transatlântica, disse na cimeira europeia informal de La Valetta (Malta) a chanceler alemã, Angela Merkel. Isto “sempre que seja possível”, acrescentou.

O novo Presidente dos Estados Unidos foi um dos principais assuntos da cimeira, embora não estivesse na agenda oficial; foram também discutidos o “Brexit” e um acordo com a Líbia para cortar o número de migrantes e refugiados a chegar por barco à Europa. Os europeus ainda não sabem como lidar com o novo fenómeno.

"Haverá coisas que a União Europeia e os Estados Unidos podem continuar a fazer juntos, como a luta contra o terrorismo internacional, e haverá áreas em que teremos de trabalhar mais sozinhos, como investir na Defesa, apostar em acordos comerciais internacionais ou cooperar mais com África e zonas de origem de refugiados e imigrantes”, declarou Merkel - e não falou mais de Trump. Notou o Frankfurter Allgemeine Zeitung que a chanceler tentou não dar demasiada importância ao tema não oficial.

O primeiro-ministro português, António Costa, declarou que os membros da UE estão “unidos” na mesma posição. "Há uma vontade comum de prosseguir uma excelente relação de amizade com os Estados Unidos, mas também uma atitude de firmeza clara relativamente à Administração Trump", disse, citado pela agência Lusa.

A reunião teve, durante a manhã, a presença da primeira-ministra britânica, Theresa May, que se apresentou como a única líder que se encontrou já pessoalmente com o novo Presidente americano, e trouxe uma mensagem dos EUA: Donald Trump quer, para continuar a apoiar a NATO, que todos os países cumpram os seus compromissos financeiros de gastar pelo menos 2% do seu orçamento (quando apenas três países além dos EUA e Reino Unido o fazem).

Fontes governamentais britânicas dizem que May aconselhou os restantes líderes a trabalhar “de modo construtivo” com o novo Presidente americano e que um confronto apenas iria “beneficiar os que querem prejudicar” a Europa, segundo o site Politico.

No final da reunião da manhã, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, comentou que “não há dúvidas” de que Londres será “muito útil” no forjar de uma relação com Trump. Tusk declarou ainda que Trump será “mais um desafio do que uma ameaça”, cita o diário espanhol El País – voltando atrás nos comentários de há dias.

Mas nem todos os líderes europeus apreciaram a posição de May, e o Presidente francês, François Hollande, disparou uma farpa indirecta: “Muitos países têm de perceber que o seu futuro está primeiro na União Europeia e não em sabe-se lá que relação bilateral com os Estados Unidos”, declarou ao chegar à cimeira. Hollande acrescentou ainda que “ninguém sabe” o que quererão os EUA da NATO.

Já a Presidente da Lituânia, Dalila Grybauskaite, comentou que não havia necessidade de ter May como “ponte” entre a UE e Trump: “Comunicamos com os EUA todos o dias principalmente pelo Twitter”, declarou.

Na véspera da reunião um diplomata europeu dizia ao diário Financial Times que este novo modo de operar da Administração americana deixava os europeus confusos. “O nosso ponto de partida em relação a Trump é que estamos a ver um modo de governar a que não estamos habituados”, declarou. “Não sabemos se cada tweet é uma acção política real ou uma piada.”

Merkel e May deram um passeio pelas ruas da capital maltesa e a chanceler alemã gostou do que ouviu: “Estou satisfeita por ouvir Theresa May dizer que quer uma Europa forte”, afirmou Merkel na conferência de imprensa. “Agora cabe-nos a nós, enquanto 27, determinar quão forte é a Europa e como resolvemos os nossos problemas”, declarou, citada pela agência Reuters.

Os europeus chegaram ainda a acordo face a um plano de ajuda financeira ao governo da Líbia para impedir mais saídas de migrantes e refugiados, apesar de todas as dúvidas de que funcione (o país está em guerra e tem três governos) e das consequências humanitárias (os traficantes de seres humanos na Líbia são conhecidos pela sua especial brutalidade para com refugiados e migrantes que atravessam o país para tentar chegar à Europa). A UE vai dar mais 200 milhões de euros ao país em assistência financeira. “É a primeira vez em vários meses que conseguimos progresso e unidade num assunto tão controverso”, congratulou-se o primeiro-ministro de Malta, Joseph Muscat.

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