Conselheira de Trump “inventa” massacre em defesa de directiva contra muçulmanos

Kellyanne Conway referiu-se, numa entrevista, ao “massacre de Bowling Green” para justificar decisão do Presidente de impedir a entrada nos Estados Unidos de cidadãos de sete países muçulmanos. Mas já fez um tweet a admitir o erro.

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Kellyanne Conway com o Presidente Donald Trump na véspera da tomada de posse CHRIS KLEPONIS/ EPA

Kellyanne Conway, conselheira de Donald Trump – conhecida por ter cunhado a expressão “factos alternativos” –, e uma das estrategas da sua campanha eleitoral, mencionou, numa entrevista, um massacre perpetrado por dois cidadãos iraquianos na cidade de Bowling Green, no estado de Kentucky, para justificar a decisão do Presidente de proibir a entrada nos Estados Unidos de cidadãos provenientes de sete países maioritariamente muçulmanos. Só que o “massacre de Bowling Green” nunca existiu, e Conway foi profusamente criticada e ridicularizada nos media.

Um dia após a polémica, esta sexta-feira, Conway fez um tweet admitindo o erro e corrigindo-o.

Entrevistada por Chris Matthews no programa Hardball da cadeia de televisão MSNBC, Kellyanne Conway referiu o “massacre” para comparar a decisão de Trump com aquela que foi tomada pelo seu antecessor, Barack Obama, quando em 2011 decretou uma revisão dos critérios de acolhimento de refugiados iraquianos.

“Aposto que é uma novidade para as pessoas que o Presidente Obama decretou uma proibição de seis meses para os refugiados do Iraque depois de dois iraquianos terem vindo para o nosso país, terem sido radicalizados e terem estado por trás do massacre de Bowling Green. A maioria das pessoas não sabe disso, porque não foi noticiado”, disse Conway.

Na realidade, o dito “massacre” não chegou a existir. Como o jornal The Guardian recorda, o que aconteceu foi que, em Maio de 2011, dois cidadãos iraquianos, Mohamad Shareef Hammadi, de 25 anos, e Waad Ramadan Alwan, de 41, foram julgados e condenados pela tentativa frustrada de enviar armas e dinheiro para a Al-Qaeda no Iraque. E foi na sequência desse processo que Obama decretou alterações à política de acolhimento de refugiados iraquianos.

Em 2012, os dois acusados foram condenados por terrorismo e sentenciados a cumprir, respectivamente, prisão perpétua e 40 anos numa prisão federal americana.

Apesar disso, as declarações de Kellyanne Conway foram de algum modo corroboradas pelo senador republicano Rand Paul, eleito em 2010 pelo estado do Kentucky, que noutra entrevista à MSNBC se referiu também ao “massacre de Bowling Green”, onde vive.

Entretanto, o mayor Bruce Wilkersono presidente da câmara de Bowling Green, assinou uma declaração à imprensa, citada pela CBS, onde diz que "a declaração não está correcta" e que "não houve qualquer massacre" na sua cidade. No entanto, compreende que quando alguém fala em directo na televisão possa enganar-se, mas agradece o esclarecimento. 

 

 

O Guardian cita, a propósito, o estudo recentemente realizado pelo Cato Institute que mostra que entre 1975 e 2015 nenhum cidadão dos países muçulmanos na “lista negra” de Donald Trump – Iraque, Irão, Síria, Iémen, Líbia, Sudão e Somália – matou americanos em ataques terroristas levados a cabo nos Estados Unidos.

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