Faltam dados sobre religiões minoritárias

O Censos não especifica números de membros de igrejas como a Mórmon. Dados que existem são facultados pelas próprias instituições que tendem a inflacionar.

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A Igreja Mórmon baseia-se na Bíblia e no Livro de Mórmon Nuno Ferreira Santos

A falta de dados robustos sobre religiões dificulta o trabalho de analistas, de investigadores e das próprias igrejas. O Censos, por exemplo, tem uma pergunta opcional sobre religião, mas denominações como a Igreja Mórmon nem sequer aparecem isoladamente – o Censos mostra que os católicos são mais de 7,2 milhões, os protestantes mais de 75 mil, e os ortodoxos mais de 56 mil.

É por isso que as afirmações sobre crescimento são feitas com cautela. Paulo Mendes Pinto, que estuda a relação entre o Estado e as religiões e dirige a Revista Lusófona de Ciência das Religiões, fala do peso dos mórmones a partir dos dados publicados num guia das tradições presentes em Portugal, Cosmovisões religiosas e espirituais, promovido pelo Alto Comissariado para as Migrações: os números vêm das respectivas instituições religiosas. Muitos destes dados estão em recomposição devido às mudanças nas migrações, quer do Leste, onde há mais ortodoxos, quer do Brasil, de onde vêm mais evangélicos, sublinha.

Investigadora nesta área, Helena Vilaça, do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, ressalva que “todos os grupos religiosos têm tendência a inflacionar” os números, algo que “tem a ver com a necessidade de afirmação simbólica dentro do país”, esclarece. Os mórmones, um grupo discreto, serão exemplo de uma religião em Portugal onde há uma discrepância entre o seu peso estatístico e o seu peso simbólico – pelo número de membros, era expectável terem maior visibilidade. “Os protestantes históricos ou os ortodoxos são ultra minoritários, mas como participam em cerimónias com os católicos têm uma visibilidade que os mórmones não têm."

Paulo Mendes Pinto, que é também coordenador da área de Ciência das Religiões da Universidade Lusófona, onde foi criado recentemente o Instituto de Cristianismo Contemporâneo, diz que esta é uma igreja “muitíssimo bem organizada, com uma política de apoio social que permite uma fidelização que outras não permitem”.

Helena Vilaça nunca orientou, com pena, uma tese académica sobre mórmones. Mas, pelas observações que já fez no terreno, acha que se trata de uma igreja que trabalha com um público interclassista e com classes sociais mais baixas. Investe no aumento do número de membros, muito através dos missionários. “Embora possam ter uma concepção conservadora de família, contribuem para a saída do ciclo vicioso da pobreza”, analisa.

Num artigo recente, a socióloga referiu que em Portugal cerca de 6% da população pertence a religiões minoritárias; destes, a maioria (41%) são protestantes/evangélicos — estes serão os que, na sua opinião, estarão a crescer mais em Portugal. De acordo com a Aliança Evangélica Portuguesa os evangélicos somam 250 mil.

Recentemente, um estudo do Centro de Estudos de Religiões e Culturas (CERC) da Universidade Católica Portuguesa, que abrangia os anos de 1999 e de 2011 e era baseado em quatro mil entrevistas, mostrava que o número de católicos tinha diminuído (correspondiam a 79,5% da população). Na categoria “outros cristãos” não se detalhavam as religiões (tinham aumentado de 1,5% para 1,6), mas dava para perceber que os não cristãos (muçulmanos, judeus, hindus, budistas, por exemplo) subiram de 0,2% para 0,8%. Registava-se ainda um aumento do número de protestantes (de 0,3% para 2,8%), incluindo evangélicos, e de Testemunhas de Jeová (de 1% para 1,5%). Sobre os mórmones, nada de dados.

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