Tunísia detém sobrinho do autor de atentado em Berlim
Autoridades tunisinas detiveram ainda outras duas pessoas com ligações a Anis Amri.
A polícia da Tunísia deteve o sobrinho do autor do atentado de Berlim, em que morreram 12 pessoas e ficaram feridas quase meia centena. O jovem disse que o seu tio era o "emir" de um grupo jiahdista na Alemanha, conhecido como brigadas Abu al-Walaa.
As autoridades detiveram ainda mais duas pessoas com ligações a Anis Amri, o tunisino de 24 anos que na segunda-feira conduziu um camião contra uma feira de Natal e foi abatido ontem pela polícia em Milão, depois de uma "caça ao homem" de vários dias. Na Alemanha, procuram-se eventuais cúmplices do atentado de Berlim
O Daesh já confirmou a identidade do autor do ataque, num comunicado divulgado pela Amaq, agência do autoproclamado Estado Islâmico. E divulgou um vídeo de pouco mais de três minutos em que Amri diz querer vingar os muçulmanos vítimas de bombardeamentos aéreos, apelando a atentados contra os "cruzados".
Numa nota informativa, o Governo da Tunísia revela que as três pessoas têm entre 18 e 27 anos e pertencem à mesma célula terrorista que Anis Amri, e está activa entre Fouchana, a Sul de Tunes, e Oueslatia, a cidade onde vive a família de Amri.
Para escaparem à vigilância policial, o sobrinho, apresentado como filho da irmã de Anis Amri, comunicava com o tio através de uma aplicação que permite comunicações encriptadas, a Telegram, refere o mesmo comunicado. Anis Amri tinha-lhe enviado dinheiro por via postal, usando uma identidade falsa, para que o filho da irmã pudesse ir ter com ele à Alemanha.
De acordo com o Ministério do Interior tunisino, o sobrinho de Anis Amri dizia pertencer a um grupo terrorista na Alemanha denominado brigada Abu al-Walaa, e que o tio lhe tinha enviado várias vezes dinheiro, para o incentivar a juntar-se a ele.
Como viajou por três países?
As autoridades alemãs, e as francesas, estão a tentar responder a uma pergunta fundamental: como é que um homem que era procurado em toda a Europa, a seguir ao atentado de Berlim, pode viajar pela Alemanha, França e Itália, até ser morto num confronto com a polícia, junto à estação de comboio de Sesto san Giovanni, nos arredores de Milão, quando finalmente, num controlo ocasional, lhe pediram os documentos de identificação, que ele não tinha?
Entre segunda, dia do atentado em Berlim e sexta-feira, quando foi morto em Itália, percorreu mais de 1000 km na Europa das fronteiras abertas pós-Schengen, contabiliza o Le Monde. Dentro da sua mochila, foi encontrado um bilhete de comboio, que mostrava que ele tinha iniciado uma viagem em Chámbery, no Leste de França, e passado por Turim, antes de chegar a Sesto San Giovanni, uma subúrbio industrial de Milão, com uma comunida migrante muçulmana significativa.
Sobram dúvidas sobre como chegou ali sem ser detectado antes, mas também sobre porque se dirigiu ali - para se encontrar com alguém, para obter novos documentos, para sair da Europa? De Sesto San Giovanni partem autocarros para o Sul de Itália, para a Europa de Leste e para os Balcãs - além de ter ligação de mero para Milão.
Mesmo após a morte de Amri, as investigações e a busca de possíveis cúmplices prossegue em vários países, que reforçaram a segurança durante a época do Natal. França, Reino Unido e Alemanha reforçaram patrulhas policiais e 100 investigadores alemães a trabalhar no caso durante o período das festas, para tentar descobrir pistas e eventuais cúmplices, disse o ministro do Interior de Berlim, Thomas de Maizière.
Itália está a ter particular cuidado com a segurança do Vaticano, onde o Papa Francisco preside às celebrações do Natal - a Reuters relata que há carros da polícia e jipes militar a cada 100 metros nas ruas de Roma que conduzem ao Vaticano.
Em Espanha, os serviços de informações estão a investigar as possíveis comunicações através da Internet de um residente naquele país com Anis Amri, a 19 de Dezembro, o dia do atentado em Berlim, anunciou o ministro do Interior, Juan Ignacio Zoido.
Tunísia não quer jihadistas de volta
Na capital tunisina, algumas centenas de manifestantes juntaram-se junto ao Parlamento para protestar contra o repatriamento de tunisinos que sejam condenados por terrorismo, ou considerados por países europeus um risco de segurança - essa é a política seguida pelos países da União Europeia, e Anis Amri só não tinha sido mandado de volta, tanto de Itália como da Alemanha, uma vez recusado o pedido de asilo, porque não tinha documentos e a Tunísia não um reconhecia como um cidadão nacional.
Calcula-se que de 5000 tunisinos estarão ainda nas fileiras do Daesh - depois da revolução de 2011, o país enfrenta o aumento da ameaça jihadista, potenciada ainda pelo desmoronar das instituições na Líbia, um Estado que não recuperou da revolta que derrubou o ditador Muammar Khadafi, também em 2011. Atentados que visaram directamente turistas afectaram os rendimentos do turismo, uma das principais fontes de rendimento do país.
Na sexta-feira, o ministro do Interior, Hédi Majdoub, disse no Parlamento que 800 tunisinos que já pertenceram a uma organização extremista tinham regressado ao país.
E o Presidente Béji Caïd Essebsi, em declarações que criaram polémica, disse que não se podia travar o seu regresso: "Muitos querem voltar. Não se pode impedir um tunisino de regressar a casa. Mas é evidente que vamos estar vigilantes, embora claro que não os vamos pôr todos na prisão, porque não haveria prisões suficientes. Vamos vigiá-los" , disse.
Por isso mais de mil pessoas saíram à rua para protestar em Tunes, numa manifestação promovida por várias organizações não governamentais, relata a AFP. "Não ao regresso", dos jihadistas, lia-se nos cartazes.