Passaporte volta em 2017 para "exportar" actores portugueses
Programa da Academia Portuguesa de Cinema já pôs Albano Jerónimo em Vikings e trouxe a Lisboa directores de casting de James Bond, Luc Besson ou Borgen. Em 2017, vira-se também para a América Latina.
O Programa Passaporte, que na sua edição inaugural de 2016 colocou Albano Jerónimo na série Vikings e apresentou vários actores portugueses a potenciais futuros empregadores no Brasil ou em Inglaterra, vai voltar em 2017, desta vez em Abril e com a câmara apontada para a América Latina e os países hispânicos. Cruzando um grupo de actores e actrizes de perfis variados e directores de casting internacionais, o Passaporte é uma ideia da directora de casting Patrícia Vasconcelos no âmbito da Academia Portuguesa de Cinema para “mostrar ao mundo que é um erro parar em Espanha” quando se procuram actores.
O programa propõe reunir numa série de entrevistas e workshops em Lisboa intérpretes portugueses com directores de casting de grandes produções internacionais de cinema, televisão e também publicidade. “Temos actores incríveis, incríveis”, diz Patrícia Vasconcelos, que depois de 27 anos de carreira conhece como poucos o elenco do sector em Portugal. “E é uma pena estarem só aqui. Há actores fantásticos e que têm a vantagem de não terem sotaque”, sublinha, comparando-os com os espanhóis e reflectindo sobre o percurso que muitos colegas seus fazem em busca de novos rostos e que, diz, tende a ficar pelo país vizinho.
Este ano, do Passaporte saiu Albano Jerónimo para a quinta temporada da série Vikings, produzida na Irlanda para o History Channel (e transmitida em Portugal nos canais Mov e TVSéries), mas também resultou a relação de Joana Ribeiro com um “super-agente em Inglaterra, Richard Cook”, detalha Patrícia Vasconcelos, e o agenciamento de Mina Andala também em Inglaterra. O director de casting brasileiro André Reis, que trabalha com a Globo, indicou a Patrícia Vasconcelos que o “encontro no Passaporte” com Maria João Bastos “despertou o contacto” que fez com que a actriz esteja agora a filmar nova novela no Brasil.
Com um orçamento de cerca de 38 mil euros protocolado entre a Academia Portuguesa de Cinema, de que é fundadora com o presidente do organismo, Paulo Trancoso, e o Instituto do Cinema e do Audiovisual (ICA), o programa beneficiou desse apoio no âmbito do Ano Português do Cinema e do Audiovisual (APCA), lançado em 2015 pelo então secretário de Estado Jorge Barreto Xavier com um programa inicialmente pouco detalhado mas que um ano depois permitiria o surgimento do Passaporte.
Os resultados do programa aparecem numa altura em que vários actores portugueses ganham espaço no mercado internacional. Para além dos já estabelecidos no mercado americano como Joaquim de Almeida, Daniela Ruah e mais recentemente Diogo Morgado, no próximo ano Ivo Canelas será parte do elenco das séries Emerald City, da NBC, e Into the Badlands, do canal AMC; Pêpê Rapazote, que tem agentes em vários países e já outras participações em séries americanas, estará no sucesso Narcos, do Netflix. Sem relação com o Passaporte, demonstram a importância de uma rede de agenciamento exterior, mas também são dois exemplos da busca por rostos de várias origens activada pela intensa produção audiovisual actual.
O Passaporte 2016 trouxe a Lisboa no final de Maio, fruto dos contactos de Vasconcelos, Debbie McWilliams,“uma diva do casting em Inglaterra” que trabalha no franchise James Bond, a directora de casting britânica Priscilla John (Mamma Mia!), o irlandês Frank Moiselle, que apetrechou de actores séries como Os Tudors e agora Vikings, o brasileiro Francisco Accioly, que faz o casting para o realizador Fernando Meirelles, Anja Philip (da série Borgen), Juliette Ménager, que trabalha em publicidade para grandes marcas como a Chanel ou a Nespresso –em cujos castings algumas actrizes portuguesas participaram na sequência do Passaporte –, ou Nathalie Cheron, que trabalha com o cineasta francês Luc Besson, entre outros.
Vieram de mercados que Vasconcelos acredita que “tinham hipótese de levar actores portugueses para fora” e participaram de várias formas nos três dias do Passaporte. A principal, para os cerca de 40 actores seleccionados, foi juntarem-se numa espécie de “speed dating” para conhecerem potenciais agentes e lhes mostrarem o seu trabalho. A outra foram as sessões de trabalho abertas a outros inscritos para aprenderem com os peritos a fazer um bom showreel (compilação de imagens de trabalhos prévios) ou uma boa self-tape (imagens para uma audição pré-gravada e à distância).
A próxima edição do Passaporte terá um orçamento de 62 mil euros, dos quais 40 mil vindos do ICA no âmbito, desta feita, de Lisboa Capital Ibero-americana da Cultura 2017 e do seu programa associado na área do cinema, explicou ao PÚBLICO Paulo Trancoso. Patrícia Vasconcelos terá novamente directores de casting anglo-saxónicos “porque o mercado começa lá, com as séries”, mas o “Passaporte 2017 será mais virado para a América Latina”. A lista de países está ainda por definir mas virão seguramente a Lisboa “directores de casting do México”, da Argentina, do Brasil e, na Europa, de Espanha. Convidará “o director de casting de Narcos”, por exemplo. Em 2017 o Passaporte decorrerá entre 23 e 27 de Abril e as inscrições abrem em Janeiro.
De Isabel Ruth e Lídia Franco a Anabela Moreira, Ivo Alexandre, Cristóvão Campos ou Victoria Guerra, o primeiro grupo ainda irá recolher dividendos do programa, acredita. “Pode demorar até dois ou três anos até a coisa se dar: está-se a ler um guião” e vem aquele rosto, aquela imagem, à mente, exemplifica. Para se candidatarem, os actores têm de dominar línguas, ser membros da Academia de Cinema, ter interesse numa carreira internacional e o material de apresentação necessário, das fotografias ao showreel. Na primeira edição inscreveram-se cerca de 270 actores e uma comissão escolheu perto de 40, quando tinha sido inicialmente pensado um grupo de apenas 30. “Em 2017 serão cerca de 20”, determina Patrícia Vasconcelos.
No primeiro Passaporte esteve também a Spotlight, o directório internacional online de actores – “é impossível estar nos castings sem estar na Spotlight”, frisa Patrícia Vasconcelos – que na primeira edição ofereceu um ano de inscrição aos actores seleccionados e aos participantes nos workshops, e que voltará em 2017.