“O público apaixonou-se pelos Vikings, mesmo quando matam monges indefesos”
Série regressa esta segunda-feira com Ragnar e os seus vikings na moda – mais Albano Jerónimo, antecipando já a próxima temporada. "Tudo o que pensamos saber sobre os vikings é errado, ou são só os clichés", diz o autor, Michael Hirst, ao PÚBLICO.
Há três anos, uma série pela qual poucos arriscariam bons prognósticos surgia num canal, o História, de onde não vem grande ficção norte-americana. Vikings era uma colecção de bons penteados, portes atléticos e os melhores argumentos que o autor de Elizabeth ou Os Tudors conseguia fazer com metade do orçamento que tem hoje. Na próxima temporada, terá o português Albano Jerónimo no seu elenco. Michael Hirst, em entrevista ao PÚBLICO, promete “choque” mas também mais mundos.
Fenómeno de popularidade num espaço-tempo em que os vikings estão tão na moda quanto a fantasia de raízes medievais de A Guerra dos Tronos, Vikings regressa esta segunda-feira para a última tranche de episódios da quarta temporada – a maior de sempre, com 20 episódios no total, o 11.º dos quais irá para o ar às 22h15 no TVSéries. “Esta segunda parte da temporada é a mais emotiva de todas, as vidas de todas as personagens mudam de formas muito dramáticas”, diz o produtor britânico.
Michael Hirst conseguiu convencer o Canal História, que produziu Vikings, a fazer a sua primeira série de ficção depois de ter tido Cate Blanchett como Elizabeth em dois filmes e Jonathan Rhys Meyers a levar os Tudors à lúxuria ou Os Bórgias à televisão. Transformou Travis Fimmel em Ragnar Lothbrok, uma figura emblemática da cultura nórdica. Lagertha, Rollo, Athelstan ou Ivar são agora nomes conhecidos para milhões de espectadores. Ao telefone com o PÚBLICO, o produtor e argumentista não renega a História, mas privilegia o drama. No episódio final, antevê-se a próxima temporada, em que entram Rhys Meyers e o português Albano Jerónimo.
O percurso de Vikings, desde a estreia em 2013, foi sempre em ascensão – mais espectadores, melhores críticas, visivelmente mais dinheiro.
Ainda noutro dia estava a pensar que quando começámos tínhamos um barco e cerca de 30 vikings, mais um Grande Salão e quatro edifícios. Agora temos dois hectares de edifícios, temos muitos barcos, centenas de figurantes vikings. A série mudou e está a reflectir o que aconteceu aos vikings na realidade – os primeiros vikings a chegar a Inglaterra e França eram pequenas forças de um ou dois barcos que faziam saques rápidos a um ou dois mosteiros; mas com o tempo esses raides cresceram para exércitos de muitos barcos a viajar para várias zonas a Ocidente na Europa. O meu plano sempre foi continuar a expandir a série, levá-la a novos locais na peugada dos vikings. Mas para o fazer tive de conseguir um público que se relacionasse com as personagens. No início disseram-me que ia ser muito difícil, porque ninguém gosta dos vikings – violadores, saqueadores, pagãos ignorantes. Mas tudo o que pensamos saber sobre os vikings é errado, ou são só os clichés. É uma cultura e um povo fascinante e vou mostrar-vos isso.
O que contribuiu para esta expansão?
Acho que o público se apaixonou pelos nossos espantosos actores, mesmo quando estão a matar monges indefesos. E a última evidência disso, do crescimento da série, é o empenho de quem está a pagar por ela. Uma série é tão boa quanto o seu público. Se o público diminui, o canal vai cancelar a série. Este é um negócio impiedoso. Mas no nosso caso há desde sempre empenho da MGM e do Canal História – cada episódio custa hoje o dobro do que custava quando começámos. O valor de produção é muito elevado.
Com tanta experiência na ficção histórica, como é que equilibra facto e ficção? Quando é preciso decidir, o que pesa mais?
Escrevo a partir de material histórico há bastante tempo e gosto de pesquisar, de ler, da preparação, e quando o faço é que começam a emergir os enredos e as personagens. Tenho um consultor histórico que me aconselha sobre o que é autêntico e verosímil. E depois escrevo a minha saga, a minha história, que tem de se sobrepor à pesquisa – não estou a escrever um documentário. Se não fosse dramática, ninguém veria a série, por mais fiel que ela fosse à verdade. Mas tenho de a manter o mais autêntica possível, e se o responsável pelos Estudos Escandinavos da Universidade de Harvard me diz que é a primeira vez que a sua cultura é levada a sério de forma inteligente, vivo bem com isso.
Na próxima temporada, vai trabalhar com Albano Jerónimo. Já pode dizer-nos alguma coisa sobre o papel dele e por que o escolheram?
Ainda não o conheci e nunca posso contar nada sobre as novas personagens, porque é algo que deve ser uma surpresa. Mas é óptimo que a série agora chegue a todo o mundo e tenhamos actores de tantos países diferentes – e os vikings foram a tantos lugares que a sua história tem significado para muitas pessoas.
Notícia corrigida a 23/2/2018: grafia do nome Athelstan