Nas escolas públicas de topo mais de metade dos alunos chumba pelo menos uma vez
Novo indicador do desempenho das escolas vem confirmar que o nível de insucesso no secundário é elevado, mesmo nas escolas públicas que mais se destacam nos rankings feitos com base nas notas dos exames.
Os resultados dos seus alunos nos exames do ensino secundário catapultaram-nas para os lugares cimeiros do ranking de 2015, mas são menos de metade os estudantes das escolas públicas melhor classificadas nesta ordenação que conseguiram, cumulativamente, concluir o secundário sem chumbar no 10.º e 11.º ano e ter positiva nos exames nacionais do 12.º.
Esta é uma das formas de medir o desempenho das escolas que se tornou possível com um novo indicador para o ensino secundário elaborado pelo Ministério da Educação, que foi disponibilizado nesta terça-feira através do portal InfoEscolas. Chamam-lhe “percursos directos de sucesso” e é contabilizado seguindo o percurso individual dos alunos durante o ensino secundário.
No final emerge um novo retrato das escolas, já que é possível saber o que está para além das médias dos exames, no caso se houve ou não retenções nos dois primeiros anos do secundário. E não só. Os resultados obtidos por cada escola neste indicador são comparados a nível nacional com os registados pelos alunos que à entrada do secundário, ou seja, nas provas finais do 9.º ano, tiveram notas semelhantes.
Para o secretário de Estado da Educação, João Costa, este é o indicador “mais robusto para analisar o sucesso” dos estudantes e, pelo caminho, o desempenho dos estabelecimentos de ensino. Isto porque ajuda a perceber se o trabalho desenvolvido em cada escola permitiu que os seus alunos tivessem percursos de sucesso — e se a percentagem dos que o conseguiram é superior ou inferior à verificada em outras escolas que receberam alunos com o mesmo nível de desempenho.
Privadas saem-se melhor
O PÚBLICO analisou as dez escolas públicas e privadas que ficaram melhor classificadas no ranking do secundário de 2015, feito com base nas notas dos exames. No caso das públicas, só em três se verifica que pouco mais de metade dos alunos conseguiram “percursos directos de sucesso”, ou seja, passaram de ano no 10.º e 11.º e chegaram ao 12.º em 2015/16 e conseguiram positiva nos exames finais. São elas as escolas secundárias José Falcão (52%) e a Infanta D. Maria (51%), de Coimbra, e a secundária do Restelo (51%), em Lisboa.
Nas outras sete a percentagem de alunos que nunca chumbaram no secundário e tiveram notas positivas nos exames de 2015/16 oscilou entre os 49% da Escola Secundária Clara de Resende, no Porto, e os 43% registados pela Secundária Pedro Nunes, em Lisboa. O PÚBLICO tentou sem sucesso falar com os directores destas escolas, uns já tinham saído, outros adiaram eventuais comentários uma vez que ainda não tinham analisado este novo indicador.
Ao contrário do que se passa nas escolas públicas, os colégios que ocuparam os dez primeiros lugares do ranking do secundário, com as melhores médias nos exames, também se saem bem neste indicador. As percentagens de alunos com percursos de sucesso variam aqui entre os 68% do Colégio de São Teotónio, de Coimbra, e os 91% do Colégio Nossa Senhora do Rosário, no Porto.
Nove destas dez escolas privadas conseguem, de resto, uma taxa de percursos de sucesso superior àquela que seria de esperar tendo em conta os resultados de outros estabelecimentos de ensino que receberam alunos com o mesmo nível de desempenho.
Já no grupo das dez escolas públicas melhor classificadas no ranking das médias de exame, apenas quatro conseguiram ter mais alunos com “percursos de sucesso directo” do que o esperado face nível dos alunos que receberam no 9.º ano.
Ranking alternativo
Este novo indicador já se encontrava disponível, no ano passado, para o 3.º ciclo, o que permitiu ao PÚBLICO elaborar um ranking alternativo, que acompanhou a tradicional ordenação das escolas em função das médias dos exames. Em declarações aos jornalistas, o secretário de Estado João Costa indicou que tal também é possível agora para o secundário, referindo que estes dados mostram, por exemplo, que escolas que aparecem no meio da tabela nos rankings saltam para os lugares cimeiros se a variável em causa for o indicador dos “percursos directos de sucesso”. Isto quer dizer que fizeram “um trabalho de progressão muito maior” do que outras, acrescentou.
É um indicador que “compara o que é comparável” e que “não premeia a retenção nem a selecção dos alunos” pelas escolas, frisou ainda. Ou seja, as escolas que têm a tendência de chumbar os alunos nos anos anteriores aos de exame, com o objectivo de garantir bons resultados nestas provas nacionais, acabam por ser penalizadas nesta nova forma de encarar o seu desempenho.
Para além do indicador de sucesso, foram disponibilizados outros três novos indicadores do desempenho, que têm na base a comparação de resultados entre disciplinas e que permitem constatar que há variações que dependem mais do trabalho desenvolvido pelas escolas do que do contexto de origem social dos alunos. Segundo João Costa serão, por isso, um “instrumento de trabalho” útil para as escolas.
O governante garantiu, de resto, que serão reforçados os mecanismos de apoio àquelas que consistentemente apresentem piores desempenhos.
O presidente da Associação Nacional de Directores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDE), Filinto Lima, aplaude. “Os rankings de escolas feitos exclusivamente com os resultados dos exames são muito redutores e estes dados são uma mais-valia porque permitem avaliar o valor acrescentado para os alunos desde que entram numa escola até que saem”, comentou, para frisar de seguida: “ É essa a forma de perceber a importância que o ensino tem no percurso de um estudante.”