Duterte quer participar na "nova ordem mundial" da China e da Rússia
O Presidente filipino disse que o país pode abandonar o Tribunal Penal Internacional, seguindo o exemplo de Moscovo.
Ainda não existe, mas a “nova ordem mundial” tem já o primeiro inscrito – o controverso Presidente filipino, Rodrigo Duterte. “Se a China e a Rússia decidirem criar uma nova ordem, eu serei o primeiro a juntar-me”, disse esta quinta-feira o líder das Filipinas, antes de partir para o Peru onde vai participar na cimeira Ásia-Pacífico, ainda ao abrigo da actual “ordem mundial”.
As palavras de Duterte foram acompanhadas de mais uma promessa polémica. O Presidente filipino disse que o país pode vir a seguir o exemplo da Rússia e abandonar o tratado que estabelece o Tribunal Penal Internacional. “Eles são inúteis, os do [tribunal] internacional criminal. Eles [a Rússia] saíram. Eu posso sair a seguir. Porquê? Só os pequenos como nós é que são castigados”, disse Duterte.
Na véspera, a Rússia tinha anunciado a retirada do Estatuto de Roma, acusando o TPI de falta de independência. Ao contrário das Filipinas, porém, a saída da Rússia não tem grandes efeitos práticos, já que Moscovo nunca ratificou o tratado – deixando, por isso, o país fora da jurisdição do tribunal com sede em Haia. O Kremlin diz que Duterte deverá encontrar-se com o homólogo russo, Vladimir Putin, no sábado à margem da cimeira de Lima, mas o tema da reunião será a exploração de recursos energéticos, segundo a Reuters.
As queixas de Duterte surgem depois de um procurador do TPI ter dito, no mês passado, que o tribunal poderá ter competência para julgar os responsáveis pelas execuções extrajudiciais que têm marcado a guerra ao narcotráfico lançada por Duterte. As últimas estimativas apontam para que tenham sido mortas mais de 2400 pessoas em operações muito criticadas por organizações de defesa dos direitos humanos.
Para além da ofensiva violenta que tem lançado nas ruas de várias cidades filipinas, Duterte tem chocado vários líderes mundiais pela sua postura de desafio, dirigida sobretudo aos EUA – aliados históricos das Filipinas. Em Setembro, sugeriu que poderia deixar de realizar manobras militares com a Marinha norte-americana e tem referido várias vezes que pretende “expulsar” os conselheiros militares que têm apoiado o Exército filipino a combater uma insurgência de extremistas islâmicos no sul do país.
Ao mesmo tempo, tem indicado uma progressiva abertura a negociar com a China os direitos territoriais sobre pequenos recifes no Mar do Sul a troco de investimento chinês. A generalidade dos analistas vê na diplomacia de Duterte uma forma de conseguir retirar o máximo de benefícios no contexto do confronto velado entre os EUA e a China.