A surpresa revelou-se vazia: FBI não encontrou indícios de crime nos novos emails de Clinton
Candidatura democrata agradece as boas notícias. A campanha continua extremada e há quem tema violência no dia das eleições.
Afinal, os novos e-mails de Hillary Clinton não fizeram o FBI mudar a sua avaliação de que não houve actividade criminosa na gestão que a então secretária de Estado fez da sua conta de correio electrónico. O director do organismo de investigação, James Comey, que deixou a campanha em alvoroço ao anunciar, a onze dias das eleições, a descoberta de mais e-mails num computador de uma assessora da candidata democrata, veio agora dizer que não há qualquer indício de crime e que não altera a avaliação anterior: não há base para uma acusação.
O anterior anúncio de Comey levantou uma onda de críticas de políticos, antigos procuradores e até agentes do FBI por poder potencialmente interferir na eleição e deitar a perder a reputação de independência da agência.
A campanha democrata reagiu prontamente saudando a nova informação, dada numa carta aos líderes do Congresso, e agradecendo esta ter vindo a público antes do dia das eleições.
Mas, diz o diário The New York Times, se a nuvem que pairava sobre Clinton desde o anúncio foi definitivamente afastada, já há quem questione os motivos de Comey divulgar a informação de que as mensagens estavam a ser investigadas ainda antes de fazer qualquer ideia sobre o que continham, especialmente se levou apenas poucos dias a tirar uma conclusão.
E há ainda quem lembre que basta as palavras “Clinton”, “e-mails” e “FBI” aparecerem na mesma notícia para a democrata descer nas sondagens – foi, pelo menos, o caso quando Comey foi ao Congresso declarar que não havia motivos para acusação (embora aí também se possa dever à crítica do chefe do FBI ao classificar a gestão do email como “extremamente negligente”).
Supervisão pelas próprias mãos
A campanha de Trump não reagiu imediatamente ao anúncio. A anterior declaração de Comey sobre os e-mails tinha merecido de Trump o comentário de que “afinal a eleição pode não ser fraudulenta”. E na campanha, Trump continuou como se não tivesse ouvido falar da carta de Comey. "Hillary Clinton vai estar sob investigação muito, muito tempo, provavelmente levando a uma acusação", disse, perante uma multidão que respondeu: "Prendam-na!". "É um sistema fraudulento e ela está protegida por ele - não devia poder concorrer à presidência", declarou, citado pelo britânico The Guardian.
Este argumento de uma possível fraude eleitoral em larga escala está a levar alguns grupos a organizar-se para “supervisionar” a votação, e a contra-esforços de grupos de protecção de minorias.
A campanha de Trump fez um apelo directo a que cidadãos comuns vejam o que se passa nos locais de voto. É normal a existência de observadores nestes locais, “mas Trump encorajou pessoas a irem por si próprias ver o que se passa”, disse ao diário britânico Rick Hansen, professor de Direito da Universidade da Califórnia.
“Estas são pessoas sem treino, exaltadas com o que Trump tem dito. Estou preocupado que possa haver confrontos e potencial violência na eleição”, declarou.
O site Politico fala de esforços organizados de grupos racistas como o Movimento Nacional Socialista (neonazi), o Partido Americano da Liberdade (supremacista branco), e fracções do Ku Klux Klan para observar o dia eleitoral. Também um dos maiores grupos anti-governo, os Oath Keppers (que costumam aparecer armados em público), prometeu uma “operação sabotagem 2016” para observar potenciais actos de fraude.
Temendo a intimidação de minorias, a Associação Nacional para o Avanço das Pessoas de Cor (NAACP) classificou o programa de observar as eleições dos republicanos como “bullying cívico” e, para tentar contrariá-lo, juntou-se com uma centena de grupos de defesa de latinos, americanos de origem árabe e muçulmanos, para mobilizar activistas que irão também aos locais de voto verificar que não há intimidação. “Não nos vamos deixar enganar: vimos já violência em comícios de Trump, o KKK a apoiar esta campanha, nacionalistas brancos a aparecerem na sede da NAACP”, enumerou Cornell William Brooks, presidente da NAACP. “Está fora de questão que haja violência na eleição? Talvez não.”
A tentativa de assassínio que não o foi
A campanha de domingo foi ainda marcada por uma acção de protesto num comício de Trump em Reno, no estado do Nevada, que levou a uma comoção e a rumores exagerados. Um homem chegou perto do palco e ergueu um cartaz dizendo “Republicanos contra Trump”. Foi apupado, agarrado, seguiu-se um burburinho e alguém gritou: “Arma!”.
Trump foi levado pela segurança para fora do palco. Afinal o cartaz foi confundido com uma arma que nunca existiu. Mas isso não impediu que dois apoiantes da campanha de Trump – o seu filho e o responsável pelas redes sociais – usassem o Twitter para dizer que o candidato tinha acabado de sobreviver a uma tentativa de assassínio.
“Hillary fugiu da chuva. Trump está de volta ao palco minutos depois de uma tentativa de assassínio”, lia-se no Twitter do seu gestor de redes sociais Dan Scavino. Horas depois de os serviços secretos confirmarem que não havia qualquer arma, de o homem com o cartaz ter sido libertado pelos agentes e entrevistado por vários jornalistas (queixando-se de ter sido agredido, e quase estrangulado, pela multidão), a versão do atentado contra a vida de Trump mantinha-se na rede social do responsável da campanha do republicano.