Falta comida e medicamentos, sobra violência nas ruas

A uma crise política que paralisa e crispa o país, os venezuelanos suportam uma crise económica que os faz passar fome, adoecer e causa insegurança.

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Manifestação contra o Governo, em Caracas, em Maio Marco Bello / Reuters

O ano de todas as crises na Venezuela tem sido também o ano das prateleiras vazias nos supermercados, das filas para comprar comida racionada, dos cortes de luz, da falta de medicamentos e dos preços absurdos.

A escassez de bens alimentares tem já um reflexo na balança dos venezuelanos. Segundo os dados da Fundação Bengoa, a população registou uma perda de peso média entre os cinco e os 15 kg e perto de 25% das crianças apresentam sinais de malnutrição. A desvalorização acelerada da moeda limita a importação de bens essenciais e, por isso, são comuns as imagens de corredores inteiros nos supermercados vazios.

A solução é suportar as filas intermináveis sem sequer saber que bens estão disponíveis, nem em que quantidades, ou suportar a especulação do mercado negro. Em Maio, um engenheiro de Maracay dizia ao PÚBLICO que o preço de um frango assado custava o equivalente a metade do salário mínimo de 15 mil pesos.

Esta semana, a organização Human Rights Watch publicou um relatório que abordava outra dimensão da crise venezuelana: o difícil acesso a medicamentos. Há muitos fármacos em falta nas farmácias e hospitais, e os que existem são caros. A taxa de mortalidade materna subiu 79% nos primeiros cinco meses do ano, em relação aos dados de 2009, revelou o Ministério da Saúde, e a taxa de mortalidade infantil cresceu 45% em relação a 2013. Os profissionais clínicos atribuem esta degradação das condições nos hospitais à ausência de medicamentos e à pouca manutenção das instalações hospitalares, segundo a HRW.

O impasse político que tem paralisado a acção governativa coincidiu com a queda do preço do crude nos mercados internacionais – desde 2014 que o valor caiu cerca de 60%. A Venezuela está entre os dez maiores produtores de petróleo do mundo e a sua economia depende quase em exclusivo deste sector.

Em pano de fundo está a crescente insegurança no país. O crime violento é um problema tradicionalmente grave na Venezuela, mas os últimos tempos têm visto um crescimento preocupante. Caracas, onde em média onze pessoas foram assassinadas por dia em 2015, é hoje a cidade mais violenta do planeta.

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