Bulgária mantém (para já) apoio a Bokova na corrida à ONU
Depois da troca de palavras entre Berlim e Moscovo, primeiro-ministro admite rever decisão se directora-geral da Unesco não tiver melhor prestação na próxima votação
O Governo búlgaro anunciou que mantém o apoio à candidatura de Irina Bokova, directora-geral da UNESCO, à liderança das Nações Unidas, depois de rumores da sua iminente substituição pela vice-presidente da Comissão Europeia Kristalina Georgieva. Sófia afirma, no entanto, que pode rever a sua posição se Bokova não se sair melhor na próxima votação.
“Prometemos apoiar e é isso que vamos continuar a fazer até 26 de Setembro”, disse o primeiro-ministro búlgaro, Boiko Borisov, no início de uma reunião extraordinária do conselho de ministros. O encontro chegou a ser apontado como o momento em que o Governo conservador iria deixar cair o nome de Bokova, candidata que cumpre os dois critérios que têm sido apontados como decisivos na escolha do sucessor de Ban Ki-moon: ser mulher e da Europa de Leste, a região a quem caberia agora o cargo pela rotatividade entre blocos geográficos que se tornou norma na ONU.
No último fim-de-semana surgiram várias informações de que em seu lugar, o executivo passaria a apoiar a actual vice-presidente da Comissão Europeia Kristalina Georgieva, numa candidatura vista com bons olhos pela Alemanha. Em Bruxelas, Martin Selmayr, chefe de gabinete do presidente da Comissão Europeia, afirmou também que a búlgara “seria uma secretária-geral forte que deixaria muitos europeus orgulhosos”.
Borisov diz, no entanto, que Sófia “não se deixará influenciar por países terceiros” e garante que a directora-geral da Unesco tem “o total apoio do Governo e da diplomacia búlgara”. Mas com uma condição: “Se depois de dia 26 ela não for primeira ou segunda [mais votada], não temos maneira de continuar e iremos então decidir como actuar”.
Bokova não foi além do quinto lugar na votação de sexta-feira, a quarta já realizada entre os 15 membros do Conselho de Segurança, obtendo sete votos de encorajamento (que equivalem a “sim”), cinco de desencorajamento (“não”) e três sem opinião (abstenção), depois de ter ocupado o terceiro lugar na ronda de 29 de Agosto. Tal como em todas as anteriores rondas, o antigo primeiro-ministro português, António Guterres, foi o mais votado, obtendo 12 votos de encorajamento, seguido pelo ministro dos Negócios Estrangeiros da Eslováquia, Miroslav Lajcak.
A candidatura de Bokova foi pela primeira vez falada pelo anterior executivo socialista búlgaro, ainda em 2014, e só em Fevereiro deste ano, o actual Governo de centro-direita formalizou o seu apoio. Na reunião desta terça-feira, o primeiro-ministro não escondeu a falta de entusiasmo, ao apontar a “má impressão” causada pela recusa da candidata em comparecer numa reunião do Governo para a qual tinha sido convocada e deixou mesmo a entender que, se o seu nome não tivesse sido avançado pelo anterior executivo, “já teria retirado a candidatura”.
As notícias sobre a troca de candidatas irritaram os apoiantes de Bokova e sobretudo a Rússia, que na segunda-feira acusou a chanceler alemã, Angela Merkel, de ter tentado pressionar o Presidente Vladimir Putin a apoiar Georgieva – versão negada por Berlim, que acusou Moscovo de fazer declarações “hostis”. Segundo o jornal búlgaro em língua inglesa Sofia Times terá sido este diferendo a afastar, pelo menos para já, o apoio à comissária europeia. O jornal acrescenta também que não foi ainda afastada a hipótese de outro país, caso da Hungria, vir a apresentar o nome de Georgieva, algo que seria inédito.
A posição de Sófia foi conhecida horas depois da desistência de Christiana Figueres, a diplomata costa-riquenha que liderou as negociações para o acordo do climático aprovado em Dezembro de 2015, que na última votação ficou em nono lugar entre dez candidatos. A corrida está longe, no entanto, longe de estar fechada e nada, nas regras que ditam a escolha do secretário-geral da ONU, impede o surgimento de candidatos de última hora, capazes de gerar consenso entre os cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, com direito de veto.