Áustria adia presidenciais por problemas na cola dos boletins por correspondência

Repetição das eleições já não se vai realizar a 2 de Outubro, mas sim a 4 de Dezembro.

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Os candidatos às presidenciais austríacas, Norbert Hofer (à esquerda) e Alexander van der Bellen (à direita) HEINZ-PETER BADER / AFP

Mais uma vez, os votos por correspondência estão no centro de problemas nas eleições presidenciais austríacas. Foi a sua contagem que levou o Tribunal Constitucional a declarar a votação de Maio inválida, e foi um problema na cola do sobrescrito dos boletins de voto que levou ao actual adiamento de umas eleições que podem levar um político de extrema-direita à chefia de Estado de um país da União Europeia pela primeira vez.

O ministro do Interior, Wolfgang Sobotka, já tinha dado conta do problema, antecipando já que poderia não ser possível realizar a votação na data marcada. Esta segunda-feira, confirmou que de facto a escala da falha pode levar a problemas e assim a eleição ficou adiada para o dia 4 de Dezembro.

“Os envelopes com problemas têm cola no topo e de lado. Estes não fixam bem e podem ser abertos facilmente após 20 a 25 minutos”, declarou Sobotka. O Governo não consegue saber exactamente quantos envelopes têm este problema, Assim, será o próprio Estado, através da sua imprensa nacional, a tratar dos boletins por correspondência (os envelopes para esta votação tinham sido encomendados a uma empresa privada). 

Estas eleições estão a ser seguidas com especial atenção porque um dos dois candidatos, Norbert Hofer, é do partido de extrema-direita FPÖ (Partido da Liberdade).

Na votação de Maio, o outro candidato na corrida, o independente apoiado pelos ecologistas Alexander Van der Bellen, venceu por uma pequena margem – 31 mil votos. 

O FPÖ invocou problemas com a votação postal e recorreu à justiça, que anulou o resultado eleitoral. O Tribunal Constitucional defendeu que embora não tenha sido deliberado, um desleixo na contagem pode ter afectado o resultado. As irregularidades incluíram votos contados demasiado cedo ou por responsáveis sem autoridade para o fazer. 

Desta vez, Hofer lidera as sondagens, ainda que com menos de 5 pontos percentuais de diferença. 

O país está sem Presidente desde 8 de Julho, quando o anterior detonator do cargo, Heinz Fischer, se demitiu. Os substitutos interinos são o speaker do Parlamento e os seus dois adjuntos.

O papel do Presidente é sobretudo ceremonial, mas com o cargo vem o poder de demitir o Governo. Hofer ameaçou, no passado, fazê-lo. 

A mudança de data poderá custar até 2 milhões de euros, segundo o jornal Kurier. O Governo terá de aprovar legislação especial para permitir este adiamento, que precisa apenas de maioria simples; já uma actualização dos cadernos eleitorais para permitir o voto a quem entretanto fez 16 anos precisa de uma maioria de dois terços, segundo o diário Die Presse

O analista político Thomas Hofer defendeu não ser claro que candidato poderá beneficiar do adiamento no imediato. Mas com a confiança nas instituições democráticas já baixa, o adiamento “irá causar ainda mais danos”. E quem beneficia com a desconfiança no sistema democrático é a extrema-direita. 

O candidato Hofer não demorou a usar este problema como prova de que o país precisa de uma mudança. “Só queremos o nosso país de volta”, declarou num vídeo no Facebook. 

Em conferência de imprensa, Van der Bellen não escondeu que preferia uma votação a 2 de Outubro, mas disse que é necessário assegurar que todos os que quiserem votar o consigam fazer. Terminou com uma nota de optimismo: “Não se deixem desencorajar. Ânimo! Vamos ganhar a 4 de Dezembro.”

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