Tusk avisa May que negociações só avançam após notificação formal do "Brexit"
Presidente do Conselho Europeu mantém pressão para que Londres ponha processo rapidamente em marcha. Primeira-ministra britânica repete que Londres demorará o tempo que for necessário
O Governo britânico insiste que não vai desencadear o processo formal para a saída da União Europeia antes do início do próximo ano. Mas nesta quinta-feira, o presidente do Conselho Europeu deixou claro que também Bruxelas não vai aliviar a pressão para que Londres accione o quanto antes o artigo 50º do Tratado de Lisboa. “A bola está do vosso lado”, disse Donald Tusk à saída do encontro em Downing Street.
O pequeno-almoço em Londres foi o primeiro encontro entre Tusk e a nova primeira-ministra britânica, Theresa May, desde o referendo de 23 de Junho, e dele se esperava que ajudasse a perceber o tom que vai marcar os próximos meses de contactos. Mas nem May nem Tusk disseram nada que sugira que as negociações que têm pela frente serão mais fáceis do que a complexidade do processo e os interesses divergentes de ambas as partes sugerem.
“Eu sei que não é fácil, mas ainda espero que vocês estejam prontos para iniciar o processo tão cedo quanto possível”, disse o presidente do Conselho.
Com o fim das férias, May está sob crescente pressão – tanto dos líderes europeus, como da oposição interna e do mundo dos negócios – para explicar quando vai pôr em marcha o processo e quais os seus objectivos para as negociações. Mas a líder conservadora insiste que o seu executivo precisa de tempo para preparar um plano, pelo que não accionará o artigo 50 antes do início de 2017.
Questionada quarta-feira no Parlamento sobre como pretende controlar a imigração ou se quer manter o acesso ao mercado único europeu, May voltou a recusar entrar em detalhes, dizendo que não pretende “revelar prematuramente” a posição de Londres, nem estar “a comentar permanentemente cada avanço e recuo das negociações”.
De visita às capitais europeias antes da cimeira informal de Bratislava, onde os restantes 27 Estados-membros vão discutir o futuro da UE perante a anunciada saída britânica, Tusk voltou a fechar a porta a contactos informais sobre o “Brexit” até que Londres desencadeie oficialmente o processo. “Essa é a posição partilhada por todos os Vinte e Sete”, afirmou, garantindo que na reunião na Eslováquia não será discutido o futuro das relações entre a UE e Londres – “para isso, sobretudo para o início das negociações, precisamos de uma notificação formal”. “Dito de forma simples, a bola está do vosso lado”, sublinhou. Ainda assim, Tusk afastou a ideia de crispação entre Bruxelas e Londres, dizendo não ter dúvidas de que “o objectivo estratégico comum é criar relações o mais próximas possível”.
Mas num sinal de que também May continua irredutível na sua posição, a primeira-ministra britânica disse a Tusk que os dois lados devem “trabalhar em conjunto para que o processo de saída do Reino Unido da UE seja suave”. “É por isso que estamos a demorar tempo a preparar as negociações”, afirmou a sua porta-voz no final da reunião, que descreveu como “amigável”. A líder conservadora garantiu ainda a Tusk que o Reino Unido quer continuar a ser “uma voz forte” na UE enquanto dela fizer parte, sobretudo em matéria de política externa e de cooperação.
Com a incerteza a prolongar-se, as atenções centram-se nas duas questões que serão essenciais na definição da futura relação que o Reino Unido: a imigração e o acesso ao mercado único. Vários ministros têm dado sinais contraditórios – reforçando a ideia de que o Governo está ainda longe de ter um esboço de plano para o “Brexit” – sobre o difícil equilíbrio entre as duas questões.
Mostrando que será ela a ter a última palavra, May rejeitou esta semana a introdução de um sistema de imigração por pontos, semelhante ao criado pela Austrália, contrariando a posição da equipa ministerial que formou para liderar as negociações. E depois de o ministro para o “Brexit” ter dito no Parlamento que é “improvável” que o país tenha acesso ao mercado único se isso implicar limitações na liberdade de circulação, um porta-voz de May veio explicar que David Davis estava a expressar “uma opinião pessoal” e não a posição oficial do executivo.