“Vamos ter um Agosto com fogos, como é tradicional, e é doloroso dizer isto”

Para o presidente do Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil, Duarte Caldeira, o grande problema dos incêndios continua a estar na falta de prevenção.

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Para Duarte Caldeira, o fim-de-semana que passou poderá ter sido o mais problemático do ano Paulo Pimenta (arquivo)

Por volta das 16h desta segunda-feira havia em Portugal 155 incêndios activos e 3277 pessoas a combater as chamas, apoiadas por 953 carros e 30 meios aéreos. No domingo, foram 455 incêndios. Para o presidente do conselho directivo do Centro de Estudos e Intervenção em Protecção Civil, Duarte Caldeira, é um dia preocupante, tal como foi o de ontem, e tal como poderão ser os restantes dias do mês.

“Vamos continuar a ter um Agosto como é tradicional, e é doloroso dizer esta palavra, mas é o que a evidência histórica nos diz. Ao longo de todo o mês de Agosto, e em particular neste último fim-de-semana e hoje.”

Para Duarte Caldeira, este poderá ter sido o “fim-de-semana mais problemático deste ano”. Mas não é, porém, sublinha, “surpreendente que assim seja”. E enumera as “variáveis conhecidas”: o perfil meteorológico, as temperaturas “elevadíssimas”, os ventos típicos de Agosto, dias sucessivos de temperaturas “altíssimas”, a humidade no solo que acaba por secar…

De acordo com a agência Lusa, e segundo a meteorologista do IPMA, esta semana vai manter-se quente, mas não tanto como no fim-de-semana, em que as temperaturas ultrapassaram os 40 graus em algumas zonas do país: “As temperaturas vão baixar ligeiramente, mas vai manter-se tempo típico de Verão nas regiões do interior, com as temperaturas máximas a variarem entre os 35 e os 40 graus.”

Para Duarte Caldeira, o problema é continuar a faltar “o ordenamento estrutural” do espaço rural. “Mantém-se o problema gravíssimo com o qual o país não tem sabido lidar de forma eficiente ao longo dos anos”, nota o especialista. E descreve: locais onde a população idosa “já não trabalha a terra”, casas no meio da floresta, “sem critério urbanístico, florestal ou territorial, uma desconexão entre propriedade privada e propriedade do Estado”, sendo que a percentagem estatal é “residual” e a privada está “diluída por cerca de meio milhão de proprietários”.

“É uma floresta disseminada por pequenos proprietários que impede a sua regeneração. É um cocktail de variáveis que redundam nisto, variáveis económicas, políticas, culturais e sociais. O problema só poderá ser verdadeiramente encarado quando houver uma estratégia política integrada que envolva estas quatro dimensões”, defende Duarte Caldeira, que destaca não ser possível fazer muito mais quanto ao combate, porque há formação de bombeiros e há meios aéreos. “O problema está antes do combate”, alerta.

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