PCP e BE criticam atitude de Rocha Andrade mas impor demissão cabe ao Governo
Governo deve "fazer a leitura política e tirar ilações", dizem os comunistas e os bloquistas, que se escusam pedir saída do secretário de Estado. E criticam falta de separação entre o poder político e o poder económico.
Nuno Magalhães, líder parlamentar do CDS, tinha criticado o "silêncio ensurdecedor" do PCP e do Bloco de Esquerda sobre as viagens dos secretários de Estado ao Europeu de futebol a convite da Galp, mas pouco tempo depois os comunistas e os bloquistas tomaram uma posição.
Para o PCP, Rocha Andrade, secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, teve uma “atitude criticável” e a solução para o caso deve ser tomada dentro do Governo, onde o primeiro-ministro, o secretário de Estado e o resto do executivo “devem fazer a leitura política, tirar ilações e decidir o que fazer nesta situação”.
Fugindo a falar na palavra "demissão" ou se o partido considera que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais deve deixar o executivo, Jorge Pires, da Comissão Política do Comité Central do PCP que falava aos jornalistas numa conferência de imprensa dedicada aos problemas da banca, preferiu garantir, por várias vezes, que “com os deputados do PCP esta situação não aconteceria”.
Jorge Pires recusou que o PCP tenha agora uma atitude “branda” por dar apoio à maioria de esquerda no Parlamento - ao contrário das posições críticas em situações semelhantes no passado - e disse que o partido não tem que “decidir o que deve fazer” o primeiro-ministro e o resto do Governo. “Não se trata de ser cauteloso, ser duro ou mole”, vincou o responsável comunista, insistindo na necessidade de ser o executivo a fazer a auto-análise. “Situações como estas não contribuem para a necessária separação entre o poder político e o poder económico. E essa separação não tem sido feita ao longo dos anos e prejudica a vida democrática do nosso país.”
No Porto, em conferência de imprensa, o líder da bancada parlamentar bloquista seguiu o rumo traçado pelo PCP. Pedro Filipe Soares considerou "eticamente reprovável qualquer comportamento que legitime a promiscuidade entre governantes ou deputados e grandes grupos económicos" e defendeu que o comportamento do secretário de Estado deve ter "consequências políticas".
Citado pela Lusa, o dirigente bloquista recusou fazer "sugestões políticas" e salientou que "as demissões do Governo dependem do Governo", mas admitiu a necessidade de tirar "ilações políticas" de "comportamentos eticamente reprováveis" como os de eleitos que tenham viajado a convite da Galp para assistir a jogos da selecção de futebol. "Falta saber a dimensão do universo de agentes políticos que receberam viagens para ir a França ver o Europeu. Exigimos total transparência no que toca a membros do Governo envolvidos nestes presentes, mas também de deputados ou deputadas envolvidos em presentes idênticos", notou Pedro Filipe Soares.
"Um governante que pertence a um ministério que está em litígio com um grupo económico tem uma responsabilidade aditivada face a outros governantes", disse, acrescentando que isto "mancha claramente a folha de serviço" de Rocha Andrade, um secretário de Estado que o BE considera estar a "desempenhar um papel positivo no Governo". De acordo com o bloquista, "nenhum deputado ou membro do BE recebeu este tipo de presentes e, se tivesse recebido, teria rejeitado".
Por seu lado, o primeiro-ministro vai manter-se em silêncio sobre o caso. Contactada pela Lusa, fonte do gabinete de António Costa refere que não haverá comentários e remete para as declarações de secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, Fernando Rocha Andrade, o qual considera que não há conflito de interesses.