Ataque terrorista de motivação desconhecida mata pelo menos nove pessoas em Munique
Munique esteve mais de seis horas em lockdown. Já passava da uma da manhã (meia noite em Portugal) quando a polícia deu a situação como controlada. Atacante suicidou-se e terá agido sozinho.
Houve um atentado terrorista em Munique, no Sul da Alemanha, isso é a única coisa que parece certa. Pelo menos nove pessoas morreram, vítimas de tiros de um homem de 18 anos num centro comercial, que se pôs em fuga, espalhando o pânico por toda a cidade. Um ataque islamista? Ou da extrema-direita islamófoba? Tanto há testemunhas que dizem ter ouvidogritar “malditos turcos!” como allahu akbar (Deus é grande, em árabe”).
O décimo morto, encontrado a cerca de um quilómetro do centro comercial, é o atirador que se suicidou, diz a polícia. O atacante foi identificado como um homem de 18 anos, "iraniano de Munique", segundo a informação divulgada em conferência de imprensa que aconteceu já depois das 2h (01h em Portugal). Hubertus Andra, chefe da polícia de Munique, esclareceu, no entanto, que ainda é cedo para tirar quaisquer conclusões, garantindo que a investigação vai continuar "nas próximas horas".
Há adolescentes entre os mortos e crianças entre as 21 pessoas feridas (há registo de três feridos críticos). A identidade das vítimas não será revelada até todos aos familiares serem contactados, adiantou Hubertus Andra.
We found a man, who killed him himself.
— Polizei München (@PolizeiMuenchen) July 22, 2016
We assume, that he was the only shooter. #gunfire #munich
Andra, que classificou este dia como o mais difícil da sua carreira, limitou-se a dizer que o atacante vivia em Munique "há algum tempo" – tinha dupla nacionalidade –, recusando-se a especificar há quanto tempo. Pelo menos mais de dois anos, confirmou depois de muito pressionado por jornalistas. O homem transportava uma mochila vermelha, que a polícia temia que contivesse explosivos – foi enviado um robô para examinar o corpo. O chefe da polícia não deu mais informações sobre isso, garantindo que as autoridades vão agora investigar o passado deste homem, que não tinha cadastro nem estava identificado pelas autoridades.
Já antes da conferência de imprensa, no Twitter, em três línguas (alemão, inglês e francês), a polícia deu a situação como controlada. Inicialmente, suspeitou-se que o ataque tinha sido perpetrado por três pessoas, que estariam em fuga mas pouco depois da 01h30 (00h30 em Portugal continental), as autoridades levantaram o alerta, acreditando que o homem encontrado morto agiu sozinho. Os transportes públicos que estiveram sem funcionar durantes horas já circulam normalmente.
Sobre a questão dos três suspeitos, o chefe da polícia explicou que duas pessoas fugiram do local de carro a alta velocidade, o que levantou suspeitas, mas foi entretanto confirmado que nada tinham a ver com o ataque.
Shooting in #Munich shopping mall #OEZ!! People running away to seek shelter!! pic.twitter.com/PB189s6RQy
— Thamina Stoll (@thaminastoll) July 22, 2016
Pelo menos uma centena de pessoas testemunhou o atentado, diz a polícia, que já ao final da noite apelou ao envio de imagens e vídeos que possam ajudar à investigação. É esse material agora que vai ser investigado, tal como o círculo do homem que levou a cabo este ataque.
Foram parados todos os transportes na cidade e para fora da cidade – é possível apanhar um comboio em Munique para quase qualquer outra cidade importante do centro da Europa. As auto-estradas foram cortadas, e a polícia dizia não saber se os atacantes em fuga ainda estariam na cidade ou se já teriam conseguido sair do centro urbano.
Por segurança, as autoridades pediram aos habitantes para ficarem em casa e não espalharem boatos, nem partilharem nas redes sociais imagens eventualmente chocantes do ataque, que aconteceu na zona do estádio olímpico.
Este centro comercial, o maior da Baviera, foi inaugurado quando a cidade recebeu os Jogos Olímpicos de 1972. Não fica longe do local onde atletas israelitas foram feitos reféns por um comando palestiniano, que matou onze deles.
O quarteirão do centro comercial, no Norte da cidade, foi fechado pela polícia e rapidamente começaram a correr rumores, sem confirmação, sobre tiroteios noutras zonas da cidade. A polícia falava em atiradores em fuga, não capturados, e declarou uma situação de “ameaça de terror aguda”. Houve helicópteros a sobrevoar a cidade, e a polícia pediu reforços a cidades vizinhas, e também à Áustria – a fronteira não fica longe. Dois outros estados federais alemães ficarão em alerta, a Renânia do Norte-Vestefália e a Saxónia, diz a Deutsche Welle.
É fácil suspeitar quase imediatamente de que se trata de um ataque terrorista ligado ao Estado Islâmico – em especial depois de um rapaz de 17 anos ter atacado na semana os passageiros de um comboio no Sul da Alemanha com um machado e uma faca, ferindo cinco pessoas, antes de ser abatido pela polícia, num ataque reivindicado por esta organização jihadista. Mas um porta-voz da polícia de Munique frisa não ter pistas que apontem para uma motivação islamista neste atentado.
“Sou alemão!”
A possibilidade de um ataque da extrema-direita não é algo que surja do nada. Os ataques a centros de refugiados, por exemplo, dispararam, com a crise dos refugiados do Médio Oriente em 2015. A política de portas abertas aplicada pela chanceler Angela Merkel permitiu a entrada na Alemanha de mais de um milhão de refugiados no ano passado.
JUST IN: President Obama briefed on shooting in #Munich: "Still an active situation." https://t.co/P2QiLRS034 https://t.co/08RvWAJb32
— ABC News (@ABC) July 22, 2016
As tensões provocadas pela chegada destas pessoas alimentaram um sentimento anti-imigração e anti-islão que já existia, que se expressou nas manifestações do movimento Pegida, em Dresden – o grupo quer agora avançar para a criação de um partido –, e no crescimento da formação de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD).
Um vídeo muito pouco claro, que se tornou viral na Internet, e que a polícia ainda não conseguiu confirmar a sua autenticidade, mostra um homem armado, cujos traços não se conseguem distinguir, que grita algo que parece ser “sou alemão”, e um chorrilho de palavrões, num parque de estacionamento junto ao centro de comercial. O seu aspecto geral (usa botas militares, por exemplo) faz mais um militante de extrema-direita – um neonazi – mas não se podem tirar grandes conclusões a partir deste curto vídeo de pouca definição.
Igrejas, mesquitas e o parlamento regional do estado da Baviera abriram as suas portas para acolher pessoas obrigadas a ficar em Munique, sem poderem ir para as suas casas nos arredores da cidade ou fora dela, devido ao encerramento dos transportes e das auto-estradas – tal como aconteceu nos atentados de Paris, em Novembro de 2015.
O Governo alemão está a preparar uma reunião de emergência para sábado. O atentado aconteceu num momento em que vários membros do Executivo estavam de férias e até fora do país. O ministro do Interior, Thomas de Maziére, estava num avião, a viajar para os EUA – quando aterrou, foi informado do ataque e anunciou que iria voar de volta para Berlim.
A chanceler Angela Merkel também não estava em Berlim. Quem primeiro prestou declarações foi o seu porta-voz, Peter Altmaier, que afirmou que “não serão excluídas nenhumas teorias” da investigação.
O Presidente norte-americano, Barack Obama, foi o primeiro líder mundial a lamentar o ataque em Munique, sublinhado ser cedo para se tirarem conclusões. "Não sabemos ainda o que está exactamente a acontecer lá, mas é óbvio que os nossos corações estão com aqueles que possam ter sido feridos", afirmou.
Já o Presidente francês, François Hollande, deixou "uma mensagem pessoal de apoio" à chanceler alemã, Angela Merkel, segundo um comunicado do Palácio do Eliseu.
Também Marcelo Rebelo de Sousa expressou a sua "solidariedade e vivo repúdio pelo acto de violência gratuita", numa mensagem partilhada no site da Presidência da República. O Presidente da República diz estar "horrorizado por mais este momento trágico que afecta a Alemanha e atinge toda a Europa" e prestou "fraterna amizade" ao homólogo alemão, "na certeza de que os valores do respeito pelos Direitos Humanos, da Democracia e do Estado de Direito prevalecerão no combate contra os seus inimigos".