Para Merkel, os britânicos não podem escolher apenas os benefícios da UE
Chanceler alemã admite que a comunidade europeia precisa de alternativas para sair da crise. Barack Obama afirma que o processo de integração europeia está interrompido.
A chanceler alemã prometeu aos seus deputados no Bundestag que o Reino Unido não pode apenas escolher os benefícios que lhe convêm na União Europeia sem ter nenhuma das responsabilidades, como ter as vantagens de acesso ao mercado único rejeitando o livre movimento de pessoas.
“Vamos garantir que as negociações não avançam de acordo com o princípio das conveniências. Deve existir e existirá uma diferença de relevo entre um país que quer fazer parte da família da União Europeia e aqueles que não querem”, afirmou Angela Merkel.
A chanceler alemã defendeu nos últimos dias numa abordagem mais moderada em relação ao voto britânico para abandonar a União Europeia do que alguns dos seus parceiros. Enquanto líderes europeus como Jean-Claude Juncker, o presidente da Comissão Europeia, ou François Hollande, Presidente francês, afirmavam que os britânicos devem avançar rapidamente para as negociações de saída, Merkel apelou à calma e na segunda-feira defendeu a ideia de que Londres “precisa de algum tempo para analisar a situação”.
Mas esta terça-feira, ainda antes de partir para Bruxelas, onde jantará com outros líderes em antecipação do Conselho Europeu de quarta-feira, Merkel deu mostras de que, por muito que queira uma relação próxima no pós-“Brexit”, nem tudo será permitido aos britânicos, que já sugeriram quererem continuar no mercado único europeu, por exemplo.
Matteo Renzi, o primeiro-ministro italiano, com quem Merkel esteve reunida em Berlim na segunda-feira, fez declarações no mesmo sentido à CNN. “É impossível pertencer à comunidade escolhendo só as coisas boas, tirando as más. Em todas as famílias, é preciso aceitar o bom e o mau. Este é o problema desta campanha.”
Merkel ofereceu um exemplo de como as coisas devem funcionar. A Noruega tem acesso ao mercado único “porque em troca aceita migração livre da União Europeia, entre outras coisas”.
“Posso apenas aconselhar os nossos amigos britânicos a não se iludirem a si próprios, no que diz respeito às decisões que devem ser tomadas”, disse a chanceler, atacando o argumento-chave dos que no Reino Unido defenderam a saída da União, prometendo “recuperar o controlo das fronteiras” e reduzir o número de imigrantes vindos de outros países europeus.
Numa mensagem destinada aos restantes Estados-membros, Angela Merkel admitiu que a comunidade europeia está em crise, mas assinalou que é suficientemente forte para resistir à saída do Reino Unido e encontrar uma saída. “A União Europeia é forte quanto baste para continuar o seu caminho mesmo com 27 membros”, disse a chanceler. “Todas as propostas que permitam uma saída da crise mantendo os Vinte e Sete são bem-vindas.”