Sondagens revelam crescimento do "não" no referendo britânico

Libra está a cair, quando a possibilidade de um "Brexit" se torna mais real.

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Boris Johnson é o líder da campanha pela saída da UE REUTERS/Phil Noble

Há uma maioria de britânicos a favor da saída da União Europeia (51%), conclui a média das seis últimas sondagens realizadas na semana passada pela organização não-governamental What UK Thinks.

Esta é a segunda vez, desde o início de Maio, que a saída está à frente da permanência na UE nesta análise do What UK Thinks que acompanha a tendências de vários estudos de opinião desde Setembro de 2015.

Outras sondagens divulgadas nesta segunda-feira também confirmam esta tendência: o estudo da YouGov para o programa Good Morning Britain do canal de televisão ITV dá 45% aos partidários da saída da UE e 41% aos que querem permanecer; o inquérito online feito a 19 mil assinantes do jornal Daily Telegraph atribui 69% aos partidários do “Brexit” (saída do Reino Unido da UE) e apenas 29% aos que estão decididos a ir votar no dia 23 de Junho para o país continuar a fazer parte da União Europeia. Mas Boris Johnson, o ex-presidente da câmara de Londres conservador que lidera a campanha pela saída, é colunista neste jornal, pelo que este resultado não é surpreendente.

As empresas de apostas – vistas muitas vezes como um indicador mais fiável do que as sondagens – mostram um ligeiro decréscimo na tendência para que o resultado do referendo seja permanência do Reino Unido na UE: o campo da saída desceu abaixo dos 70% de probabilidade (para 69%...) pela primeira vez nas últimas seis semanas, disse à Reuters a firma IG Group.

Os mercados responderam com turbulência a esta análise e à publicação de outras sondagens que confirmam a tendência, a três semanas do referendo sobre a permanência do Reino Unido na UE. A libra chegou ao nível mais baixo das últimas três semanas (1,4353 dólares ao fim da manhã desta segunda-feira em Londres).

“As sondagens continuam a mexer com a moeda, que enfrenta este mês um alto nível de incerteza”, disse à AFP a analista Ana Thaker da empresa PhillipCapital UK, que prevê flutuações “ainda mais pronunciadas”, à medida que se aproxima a data da votação.

"Uma trapaça"

O primeiro-ministro, David Cameron, que propôs a realização do referendo prometendo fazer campanha pelo campo da permanência na UE, usou as sondagens e a desvalorização da libra para lançar alertas sobre os efeitos drásticos para a economia de uma saída do espaço europeu. O “Brexit”, avisou, teria “o efeito de uma bomba sobre a economia britânica e condená-la-ia a uma década de incerteza”.

Seria necessário estabelecer novos acordos comerciais bilaterais com todos os parceiros, depois de sair do bloco dos Vinte e Oito, sublinhou Cameron, numa conferência de imprensa conjunta com rivais políticos: a trabalhista Harriet Harman, o líder dos Liberais Democratas, Tim Farron, e Natalie Bennet, líder do Partido Verde. Juntaram-se para denunciar a campanha pela saída da UE como uma “trapaça”.

“Já é tempo de Vote Leave [a campanha oficial pela saída] dizer a verdade sobre o seu projecto económico para um Reino Unido fora da Europa”, declarou Cameron, que está a colocar o seu futuro político em jogo com este referendo.

Mas Boris Johnson, o conservador que lidera da campanha pela saída e que é também o candidato à sucessão de Cameron na liderança dos tories, continua a construir a sua visão de que nada acontecerá e de que a permanência na UE constitui um “enorme risco” para estabilidade do Reino Unido.

Johnson defende que o que Cameron e a campanha pela permanência na UE estão a dizer é que “vale a pena sacrificar a democracia em nome dos ganhos económicos”. “A democracia é um ingrediente vital para o sucesso económico. A falta de controlo democrático sobre os impostos, as ajudas estatais para as siderurgias e a imigração tiveram consequências desastrosas para o Reino Unido”, declarou, numa conferência de imprensa nesta segunda-feira.

A campanha dos que querem permanecer na União Europeia perdeu o argumento democrático, afirmou Johnson.

O que o decorrer da campanha tem revelado, sobretudo, é uma tensa guerra entre os tories, com os insultos a cruzarem-se nos media, quando não há argumentos sólidos para justificar quer a saída, quer a permanência na UE. O ex-primeiro-ministro John Major entrou na liça com um feroz ataque.

Afirmou na BBC que o Sistema Nacional de Saúde, muito criticado mas apreciado, estaria tão seguro como um hamster na presença de uma jibóia faminta, se Boris Johnson, Michael Gove e Ian Duncan Smith – as figuras gradas dos conservadores na campanha pela saída – subissem ao poder após o “Brexit”. Encorajou os britânicos a questionar os “factos” avançados pelo “bobo da corte” Boris Johnson. “O que têm feito é alimentar os cidadãos com uma galáxia de informação imprecisa e francamente falsa”, afirmou, contundente.

Esta segunda-feira, os líderes das dez maiores centrais sindicais britânicas apelaram, numa carta dirigida ao jornal The Guardian, aos seus seis milhões de membros a votarem para o país permanecer na União Europeia, com o aviso que a saída daria via livre a um governo conservador para desarticular direitos dos trabalhadores em áreas como dias de descanso pagos ou licenças de maternidade e paternidade.

 

 

 

 

 

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