Grécia começou a evacuar acampamento de Idomeni
Atenas insiste que não vai usar força para retirar as cerca de 8700 pessoas que continuavam acampadas junto à fronteira com a Macedónia.
Quase três meses depois de a Macedónia ter encerrado a sua fronteira à passagem de refugiados, a polícia grega começou nesta terça-feira as operações para esvaziar o campo de Idomeni, onde mais de oito mil pessoas esperavam ainda uma oportunidade para seguir viagem em direcção a Norte. Atenas espera encerrar o acampamento até ao final da semana.
A ordem de evacuação – prometida há semanas, falada há vários dias – foi dada na segunda-feira à noite, e pouco depois centenas de polícias, incluindo forças antimotim, chegavam à fronteira com a Macedónia. O Governo grego insiste, no entanto, que quer evitar ao máximo o uso da força contra os refugiados, muitos dos quais crianças, explicando que o objectivo é esvaziar o campo “pela persuasão”.
As operações decorrem longe dos olhares dos jornalistas, impedidos de se aproximar do acampamento, à excepção de equipas de reportagem da televisão pública e da agência de notícias estatais. No ar, um helicóptero da polícia acompanhava a evacuação. Testemunhas contaram que os agentes começaram a entrar no campo às 4h da madrugada, passando de tenda em tenda para convencer os refugiados a embalar os seus pertences e a entrar nas dezenas de autocarros fretados para os levar até centros de acolhimento oficiais.
“A evacuação está a decorrer sem qualquer problema”, assegurou Giorgos Kyritsis, porta-voz do serviço de coordenação para a crise migratória, na mesma altura em que o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados insistia que todas as transferências deveriam ser voluntárias. Ao início da tarde, 1100 pessoas tinham já sido levadas para os centros de abrigo erguidos pelas autoridades na região de Salónica, 80 quilómetros a sul de Idomeni, que as autoridades dizem ter capacidade para acolher cerca de cinco mil pessoas.
O porta-voz explicou ao jornal britânico Guardian que “sete dos abrigos são antigos edifícios industriais e dois são campos com tendas ao ar livre” mas, apesar de rudimentares, os refugiados terão ali acesso a electricidade, água corrente.
As condições em Idomeni, um mar de tendas que foi tomando conta do que eram até aqui campos de cultivo, são tão más que a promessa de um tecto bastará para convencer muitos a adiar o sonho de procurar asilo no Norte da Europa. Mas um jornalista da Reuters fotografou também outros ocupantes a fugir em direcção aos campos, recusando a solução oferecida pelas autoridades gregas. Uns temem ser expulsos, outros ficar fechados em centros de detenção. “Já fiz as minhas malas. Se não usarem a força vou continuar aqui durante mais algum tempo. Caso contrário, tenho de sair. Não vou lutar. Fugi da Síria porque não queria lutar com ninguém”, explicou à BBC o sírio Rezan.
No campo de Idomeni há sírios e iraquianos – elegíveis para serem recolocados em países da União Europeia apesar de esta ainda não ter conseguido realizar a operação de redistribuição das primeiras 60 mil pessoas –, mas também magrebinos que podem ser expulsos, ou afegãos e iranianos, a quem só está a ser oferecida a fórmula normal de pedido de asilo.
Kyritsis disse esperar que “idealmente até ao final da semana” seja possível esvaziar Idomeni, onde segundo os últimos cálculos viviam até esta terça-feira cerca de 8700 pessoas. “Mas não temos um limite rígido, trata-se de uma estimativa”, afirmou o responsável, repetindo que ninguém será arrastado à força do local.
Depois de Macedónia ter anunciado, a 9 de Março, o encerramento total da sua fronteira, o acampamento foi crescendo, na proporção inversa à degradação das condições de higiene, acolhimento e alimentação dos que ali se foram amontoando, na esperança de que Skopje regressasse atrás na sua decisão. Chegaram a estar ali cerca de 14 mil pessoas, quatro mil das quais crianças, superando em muito a capacidade de resposta das autoridades e das organizações humanitárias que ali acorreram. À medida que a sobrelotação aumentava, multiplicaram-se também incidentes com a polícia grega e com os guardas de fronteira macedónios.
Aos poucos, muitos foram desistindo, aceitando a oferta de acolhimento em centros criados pelo Governo para albergar os cerca de 50 mil pessoas bloqueadas no país desde que as nações dos Balcãs fecharam as suas fronteiras. Só nos últimos 15 dias, 2500 pessoas foram transferidas, segundo os cálculos da polícia.
Apesar de insistir que não usará a força contra os refugiados, o Governo de Atenas, dominado pelo partido de esquerda Syriza, estava sob pressão – das organizações humanitárias, da União Europeia, dos agricultores locais – para esvaziar o campo, com piores condições do que muitos na Turquia ou na Jordânia, os países que acolhem a grande parte dos mais de quatro milhões de refugiados sírios. Numa primeira reacção à evacuação, a ONG Save the Children disse estar preocupada com as poucas condições dos centros de acolhimento. “Muitas crianças, especialmente as desacompanhadas, já passaram por demasiados traumas. Agora que a evacuação começou é essencial que as famílias sejam mantidas juntas e que as crianças sejam transferidas para instalações onde possam viver em condições que cumpram os padrões europeus e internacionais”, disse à Reuters Amy Frost, chefe das operações no país.