Porto de Lisboa está completamente paralisado há dois dias
Braço de ferro entre estivadores e operadores portuários mostra estar firme, sem grandes margens para as cedências que pediu a Ministra do Mar
O conflito latente tem quase cinco anos. Agora parece ter entrado, assumidamente, num clima de guerra aberta, em que ninguém parece ceder. Desde que entrou em vigor o período de greve convocada pelo Sindicato dos Estivadores do Porto de Lisboa (SECT), na quarta-feira, que aquela estrutura portuária está completamente paralisada. Algo que não acontecia há mais de dois anos, apesar dos sucessivos pré-avisos de greve entregues pelos estivadores.
Em períodos de greve anteriores, os operadores e concessionários optaram por não recrutar trabalhadores fora da Empresa de Trabalhadores Portuários (ETP), pelo que o porto continuou a funcionar. Desta vez, a atitude foi diferente, e o confronto foi assumido: os patrões escalaram trabalhadores fora dessa empresa, nomeadamente da Porlis, uma empresa do universo do grupo Tertir, como a lei do trabalho portuário os autoriza a fazer. A consequência foi a paralisação total. Durante dois dias seguidos. Os patrões escalaram nove desses trabalhadores. O resultado foi todos os outros cumprirem greve.
Ninguém se atreve a adivinhar como vai acabar este conflito, apesar da ministra do Mar já ter apelado, em declarações ao PÚBLICO, ao bom senso de todos, recusando-se a pensar em greves definitivas. Porém, cada dia de paralisação acarreta consequências muito pesadas, como ainda esta quinta-feira o secretário-geral da Associação Nacional de Armazenistas, Comerciantes e Importadores de Cereais e Oleaginosas (ACICO), Miguel Ascensão, alertou em carta enviada a vários membros do Governo, incluindo o Primeiro-ministro. “A greve em curso dos estivadores do porto de Lisboa, sem data prevista para o seu termo, está a pôr gravemente em causa o normal abastecimento da indústria agro-alimentar e pecuária nacionais, para além de causar prejuízos incalculáveis, fruto da imobilização dos navios”, lê-se na missiva.
A ACICO recorda que Portugal importa 80% das suas necessidades em matéria de cereais e oleaginosas, que o sector da pecuária depende na sua maioria das rações fabricadas com matérias-primas importadas e que as indústrias agro-alimentares correm o risco de parar completamente a sua laboração.