Grécia retoma deportações de refugiados para a Turquia
Nesta sexta-feira deverão sair 140 pessoas. Activistas protestam contra o acordo da UE com o Governo turco.
Dois ferries com 120 refugiados deixaram esta sexta-feira a ilha grega de Lesbos com destino à Turquia. As autoridades cumprem assim o acordo destinado a deter a chegada em massa de migrantes à Europa, que começou a ser aplicado esta segunda-feira.
O primeiro grupo a sair era constituído por 44 paquistaneses, segundo o ministro turco do Interior. Foram recebidos na localidade de Dikili por duas dezenas de polícias vestidos à civil, adianta a Reuters. O segundo barco levava a bordo 79 migrantes do Egipto, Afeganistão e Iraque.
Pelo menos dois activistas (três, segundo a BBC) mergulharam perto do pequeno ferry, agarrando-se à âncora e fazendo o “v” de vitória, tentando impedir a sua partida do porto de Mytilene. Foram retirados da água pela guarda costeira. Cerca de 30 manifestavam-se junto aos portões do cais, gritando “Parem as deportações”, “UE, devias ter vergonha” e “Liberdade para os refugiados”. O protesto dirige-se contra o que os activistas consideram ser uma violação dos direitos humanos de pessoas que estão a fugir da guerra e da pobreza.
Segundo o acordo, Ancara aceita todos os refugiados e emigrantes que tenham entrado na Grécia por vias irregulares desde 20 de Março (só desde essa data já chegaram cerca de 6 mil), caso não tenham requerido asilo ou o seu pedido tenha sido rejeitado. Por cada refugiado sírio que regresse à Turquia, a UE aceitará outro que tenha feito um pedido de entrada oficial. A Turquia receberá 3 mil milhões de euros, levantamento da obrigatoriedade de visto para o espaço Schengen e avanços nas negociações para a candidatura do país à União Europeia.
Já na segunda-feira, um primeiro grupo de pessoas, maioritariamente do Paquistão e Afeganistão, foram levadas de Lesbos e Chios com destino à Turquia. Logo de seguida, o processo foi congelado devido a um elevado número de pedidos de asilo. Cada pedido é avaliado individualmente e a Grécia comprometeu-se a dar uma resposta em 15 dias. Mas foram poucos os especialistas em direito de asilo, prometidos pela UE no quadro do acordo, a chegar às ilhas para fazer essa avaliação, refere a AFP. O Governo grego prevê que a próxima vaga de deportações demore mais 15 dias a concretizar-se.
Uma vez em território turco, os não-sírios são enviados para centros de deportação e os sírios para campos de refugiados, onde substituirão aqueles que serão recebidos na UE. Os deportados são acompanhados por guardas da agência europeia de controlo de fronteiras Frontex, cuja porta-voz referiu não estar a haver problemas com o transporte dos refugiados do campo para o porto, avança a BBC. “Houve escoltas para cada deportado e uma equipa de auxílio”, afirmou Ewa Moncure. “Para além disso, a bordo do ferry seguia um médico e tradutores”.
Por seu lado, a agência francesa refere que na quinta-feira 150 pessoas conseguiram fugir do campo de Samos, sendo depois convencidas a regressar, segundo avançou uma fonte governamental grega. O mesmo aconteceu na semana passada em Chios, quando pelo menos 600 pessoas deixaram o campo de Vial. Em Samos e Lesbos, dezenas de emigrantes terão dado início a uma greve de fome para impedir a sua expulsão. "Arriscámos as nossas vidas para chegar aqui e não queremos voltar para a Turquia, porque nos mandam de volta para o Paquistão, disse um homem identificado como Ali à AFP. "Não queremos pedir asilo na Grécia, queremos ir para a Alemanha". Os paquistaneses são o quarto maior grupo de migrantes a chegar à Grécia, depois dos sírios, afegãos e iraquianos - chegaram 5317 nos primeiros três meses do ano, adianta a BBC.
A aplicação do acordo continua a ser dificultada pela chegada de novos refugiados em situação irregular, que todos os dias desembarcam nas ilhas, às dezenas – ainda que o número seja agora muitíssimo inferior quando comparado com os milhares que no Verão passado diariamente chegavam à Europa.
De quinta para sexta-feira, 149 emigrantes chegaram da Turquia, de acordo com os dados publicados todos os dias pelo Governo grego. Desde o início do ano, e até 4 de Abril, entraram 152.137 pessoas, 35% crianças, e mais de metade (53%) chegaram a Lesbos. Pelo menos 366 morreram na travessia entre a Turquia e a Grécia.
A lei internacional de asilo impede que o requerente seja deportado até que o seu caso seja deliberado. Enquanto isso não acontece, a pressão recai nos centros de acolhimento que nas últimas semanas se converteram em espaços de detenção em massa e que ameaçam atingir o ponto de ruptura. É lá que são retidos todos os migrantes e requerentes de asilo que continuam a chegar à Grécia. As Nações Unidas afirmam que vivem já cerca de 600 pessoas para além do limite naquele que é o maior centro de detenção do país, em Moria, na ilha de Lesbos. Noutros espaços há mulheres grávidas, em aleitamento e crianças sem o devido acesso a comida e serviços básicos, segundo alerta a agência de protecção de refugiados da ONU, o ACNUR.