Guerra aberta na Síria, falhanço em Genebra
Assad recupera, à bala e à bomba, o terreno perdido para os rebeldes. Luz vermelha para a diplomacia.
Desde que se fala em pôr termo à guerra na Síria que as várias “soluções” propostas giram em torno de Assad como lobos em redor de um animal inatacável. Com ele, sem ele, idealmente à margem do seu poder e do seu exército, imaginam-se negociações onde se gize uma qualquer transição para um futuro de onde Assad já não conste. A isso tem ele respondido com o poder que ainda lhe resta, e não é pouco: o exército e o apoio de fortes aliados, como a Rússia. E dos seus planos não consta um afastamento, forçado ou voluntário, antes pelo contrário. É por isso que, no meio do caos em que se encontra a Europa face à vaga de refugiados – que da Síria emana como torrente imparável – ele decidiu intensificar o ataque às cidades ou territórios em poder dos rebeldes. Alepo, um dos bastiões do chamado Exército livre da Síria (oposição armada com apoio ocidental), está agora sob fogo, terrestre e aéreo. A Rússia confirmou, através do seu ministério da Defesa, que desde o início da semana foram realizadas 237 missões da aviação russa, atingindo 875 alvos nas províncias sírias de Alepo, Latakia, Homs, Hama e Deir-al-Zor. Esta ofensiva, a coberto da ajuda militar russa, com a qual Assad pretende recuperar o seu poder nas áreas antes perdidas, inviabilizou as cândidas negociações de Genebra (onde a ONU procurava uma solução diplomática para o conflito) e acirrou ainda mais a onda de refugiados, devido ao intensificar dos combates. Em Londres, numa reunião de promitentes doadores na ajuda aos refugiados, David Cameron ainda sugeriu que se pode “impedir que as pessoas pensem que não têm outra opção a não ser arriscar a vida numa viagem perigosa para a Europa”. Lamentavelmente, para Cameron e para a União Europeia no seu todo, as balas e as bombas que dilaceram a Síria gritam o contrário. Arriscar a vida, ficando ou partindo, é a sina única de milhares. E sem solução à vista.