Vitorino Silva, a surpresa que veio de Rans
Ficou célebre o seu abraço a António Guterres num congresso do PS em 1999. O candidato conhecido por Tino de Rans conseguiu 152 mil votos e ficou a escassos 30 mil de Edgar Silva, apoiado pelo PCP.
Não ultrapassou Edgar Silva nem Maria de Belém, mas obteve um dos resultados mais surpreendentes na noite em que Marcelo Rebelo de Sousa foi eleito Presidente da República sem precisar de uma segunda volta.
De entre os candidatos sem apoio directo ou indirecto dos partidos, a surpresa nestas eleições presidenciais veio do Norte. Vitorino Silva, mais conhecido como Tino de Rans, alcançou 3,28% dos votos, ficando muito próximo do candidato apoiado pelo PCP, Edgar Silva, que obteve 3,95%.
O candidato que ganhou notoriedade após uma intervenção no XI Congresso do PS, em 1999, quando era presidente da Junta de Freguesia de Rans, no concelho de Penafiel, foi o sexto mais votado nas eleições, entre dez candidatos, com pouco mais de 152 mil votos.
Edgar Silva teve mais 30 mil e Maria de Belém — que desempenhava o cargo de ministra da Saúde num governo socialista quando Vitorino discursou naquele congresso em 1999 —, mais 44 mil votos, quando faltam apenas contabilizar os votos dos emigrantes nos Estados Unidos e de uma freguesia onde a população boicotou o acto eleitoral.
No distrito do Porto, o candidato natural de Rans ultrapassou Maria de Belém e Edgar Silva, tendo sido o quarto mais votado, com 5,68% dos votos. Olhando a uma escala menor, para o concelho de Penafiel, o calceteiro de 44 anos alcançou 22% dos votos, ficando em segundo lugar.
Na sua freguesia natal, onde estão inscritos 1536 eleitores e votaram 1021, Vitorino Silva eclipsou os outros candidatos e conseguiu 60,93% das preferências. O segundo candidato mais votado em Rans, o vencedor das presidenciais não foi além de 27,3%.
Este resultado levou Tino de Rans, nome com que se apresentou em 1999, a disponibilizar-se para mostrar a sua terra ao novo chefe de Estado. “Eu disse [a Marcelo Rebelo de Sousa] que ganhou as eleições com muita dignidade e ofereci-me para lhe fazer uma visita guiada a Rans”, revelou, depois de dizer que esta foi “uma grande vitória [pessoal]”. A partir de uma sala na torre 2 das Amoreiras, em Lisboa, Vitorino Silva defendeu que o tratamento diferenciado aos dez candidatos fez com que as eleições fossem “inquinadas”. Isto não fez com que o candidato perdesse o humor, gracejando que, ao chegar ao sexto lugar, “contava ir à Liga Europa”, refere a Lusa.
Quanto aos restantes candidatos sem apoio directo ou indirecto dos partidos, à excepção de Paulo Morais, nenhum deles chegou a 1% dos votos. O candidato que fez da luta anticorrupção a sua maior bandeira teve 2,15% da preferência dos eleitores, obtendo 99,5 mil votos, e assumiu que o resultado ficou “muito aquém do esperado”.
O antigo número dois de Rui Rio na Câmara do Porto e vice-presidente da associação Transparência e Integridade deu os parabéns ao Presidente recém-eleito e reconheceu que esperava “um resultado mais substancial” face ao “conjunto de causas” que defendeu durante a campanha, afirmou citado pela agência Lusa. Ainda assim, Paulo Morais defende que o tema do combate à corrupção “não pode sair mais da agenda política” e salientou que, com a sua campanha, foi possível “marcar a agenda da própria campanha eleitoral”.
Henrique Neto, empresário e militante do Partido Socialista, não foi além de 0,84%, apesar de ter sido o primeiro a apresentar a candidatura a Belém, em Março de 2015. Na Marinha Grande, concelho onde exerceu grande parte da sua actividade empresarial, atingiu 5,29%.
Depois de dar os parabéns a Marcelo, o candidato mais velho desta corrida declarou esperar que o novo Presidente “surpreenda” e manifestou um “desejo profundo” que este “possa ser um factor positivo das mudanças profundas que o país precisa”. Henrique Neto alertou ainda para os “meses difíceis” que o país tem pela frente.
Com 0,3% e 0,23%, respectivamente, Jorge Sequeira e Cândido Ferreira foram os menos votados entre os dez candidatos que foram a votos.
Com a segunda pior votação, Jorge Sequeira, admitiu que o resultado “não é satisfatório” mas acredita que “se pode dizer que é uma vitória”, uma vez que começou “do zero”. O psicólogo e speaker motivacional de Braga referiu ainda que Marcelo Rebelo de Sousa tem “mérito” por se ter tentado “desvincular dos partidos que o suportam, CDS e PSD”.
No restaurante de Leiria que escolheu para assistir à divulgação dos resultados eleitorais, o médico Cândido Ferreira, o menos votado, lamentou o que considera ter sido a ausência de debate de temas importantes durante a campanha eleitoral.