Extrema-direita com vitória histórica nas eleições regionais francesas
Frente Nacional ficou à frente em seis das 13 regiões e foi o partido mais votado. Sarkozy rejeita acordo ou retirada de listas para travar formação de Le Pen na segunda volta.
A Frente Nacional obteve resultados históricos na primeira volta das eleições regionais, que se realizaram este domingo em toda a França. Com os votos ainda a serem contados, o partido liderado por Marine Le Pen obtinha 30,6% e estimava-se que ultrapassasse os sete milhões de eleitores.
O chefe de redacção do jornal Le Monde lembrava, no Twitter, que no “21 de Abril”, o partido então liderado por Jean Marie Le-Pen, tinha obtido 4,8 milhões de votos. “É preciso comparar o choque”, escreve Luc Bronner. O “21 de Abril” é como os franceses evocam a primeira volta das presidenciais de 2002, quando Le Pen passou à segunda volta contra Jacques Chirac, ficando à frente do socialista Lionel Jospin. Muito aconteceu desde então e a Frente Nacional (FN) tem vindo a implantar-se aos poucos por todo o país.
Mas os resultados deste domingo representam um enorme salto, mesmo em relação às eleições departamentais. Nas últimas, em Março, a FN chegou aos 24,24%, o melhor resultado de sempre em eleições locais. Os atentados de 13 de Novembro em Paris entraram pela campanha e fizeram com que esta fosse dominada pelos temas preferidos da extrema-direita: a segurança, o terrorismo e a imigração.
“O movimento nacional é agora sem contestação o primeiro partido nacional. O povo exprimiu-se”, afirmou Marine Le Pen diante dos militantes. “Agradecemos aos franceses por não terem caído na campanha de calúnia de que fomos alvo”, disse em seguida.
Uma cidade rendida à Frente Nacional
Segundo Le Pen, a Frente Nacional, é “o único partido realmente republicano porque defende a nação e a soberania”. “Somos também o único partido que vai recuperar os territórios esquecidos, já recuperámos Calais, onde obtivemos mais de 50%, vamos recuperar os subúrbios e o mundo rural”, disse, entre aplausos. Calais é a cidade onde se concentram os refugiados e os imigrantes que chegam a França a querer alcançar o Reino Unido, através do Canal da Mancha.
Na região Norte-Pas-de-Calais-Picardia, as estimativas chegaram a dar 49,1% à Frente Nacional, quase nos 50% que tornariam uma segunda volta desnecessária, mas desceram e estavam em 42% já pelas 21h. Em 2010, o partido obteve apenas 18,68% na região correspondente – estas 13 regiões, às quais se juntam os territórios de Guadalupe, Guiana Francesa, Martinica e Reunião, foram criadas por fusões das anteriores 22 regiões da França metropolitana.
Como antecipavam as sondagens, a lista que reúne Os Republicanos, de Nicolas Sarkozy, a duas pequenas formações centristas, fica em segundo lugar, com 27% dos votos e liderando em quatro regiões, enquanto o Partido Socialista se fica pelos 22,7% e vence em duas regiões. Uma coligação de partidos de esquerda estava à frente na Córsega, onde a segunda volta não contará com a extrema-direita.
As sondagens também já o indicavam: a líder da FN, Marine Le Pen, e a sua sobrinha, Marion Maréchal-Le Pen, obtiveram mais de 40% dos votos nas regiões em que eram cabeças de lista, Norte-Pas-de-Calais e Provence-Alpes-Côte d’Azur (PACA), respectivamente.
Para além destas duas regiões importantes, o partido de Le Pen impõe-se noutra região-chave,a Alsácia-Champagne-Ardenas-Lorena, no Leste do país. Aqui, o cabeça de lista é o vice-presidente da extrema-direita, Florian Philippot, que conseguiu entre 35 e 39%. Quando os primeiros resultados foram conhecidos no Palácio dos Congressos de Estrasburgo, na sala reservada pela FN, ouviram-se gritos de “Florian, Florian”, antes de se entoar a Marselhesa. “Os resultados são históricos para os patriotas”, considerou Philippot.
União de esquerdas?
O porta-voz do Governo, Stéphane Le Foll, pediu entretanto uma “união de forças da esquerda” para a segunda volta. O secretário nacional dos Verdes, Emmanuelle Cosse, candidato pela Ile-de-France, apela mesmo à “fusão das listas da esquerda e dos ecologistas”. O PS explicou que a decisão será tomada pela direcção nacional do partido e não localmente.
Sarkozy, por seu turno, apoiando-se no seu segundo lugar, recusa juntar as suas listas a outros candidatos e defende ainda que o seu partido não deve apoiar socialistas que possam bater os candidatos da extrema-direita. “Vou propor ao comité político recusar qualquer fusão ou retirada de listas. A clareza e a constância são as únicas escolhas políticas à altura do interesse nas vossas regiões e do nosso país”, anunciou. O comité reúne já às 11h de segunda-feira.
Hollande foi durante bastante tempo o Presidente mais impopular da História francesa, um dado que se alterou nas últimas semanas, por causa da sua resposta, vista como firme, aos atentados. Mas o facto de ter chegado aos 50% de notas positivas não teve impacto nestas eleições, as últimas antes das presidenciais de 2017.