Atiradora de San Bernardino "jurou fidelidade ao Estado Islâmico"
A informação foi avançada por três investigadores do FBI à estação CNN. Juramento não significa que o ataque tenha sido ordenado pelo grupo terrorista.
A polícia federal dos EUA diz ter encontrado uma ligação entre o ataque na Califórnia, na quarta-feira, e o extremismo do autodesignado Estado Islâmico. Três investigadores dizem que Tashfeen Malik, uma das responsáveis pelo massacre de 14 pessoas na cidade de San Bernardino, partilhou uma mensagem no Facebook a jurar fidelidade ao grupo terrorista.
A notícia foi avançada pela estação CNN, com base em três agentes do FBI que têm acompanhado as investigações ao ataque de quarta-feira. Tashfeen Malik (que entrou nos EUA no ano passado com passaporte do Paquistão) e o seu marido, Syed Farook (nascido nos EUA), entraram numa sala de uma organização sem fins lucrativos do condado de San Bernardino e mataram 14 pessoas. Nesse ataque e no tiroteio que se seguiu com a polícia ficaram feridas 21 pessoas. Malik e Farook foram mortos durante essa troca de tiros.
De acordo com o canal norte-americano, os investigadores não disseram de que forma, nem por que meios (telemóvel ou computador), Tashfeen Malik partilhou a mensagem na rede social, mas afirmam que o fez numa conta com um nome diferente do seu.
A partilha na Internet do juramento de lealdade ao autodesignado Estado Islâmico e ao autoproclamado califa, Abu Bakr al-Baghdadi, é uma marca de vários terroristas que lançaram ataques mortíferos, como os atentados contra o jornal satírico Charlie Hebdo e uma mercearia de produtos judaicos, em Paris, em Janeiro passado.
Um desses atacantes, o francês Amedy Coulibaly, deixou um vídeo em que presta lealdade "ao califa dos muçulmanos, Abu Bakr al-Baghdadi". Também os norte-americanos Elton Simpson e Nadir Soofi juraram lealdade ao autodesignado Estado Islâmico antes de terem lançado um ataque durante um concurso de caricaturas de Maomé, em Maio, em Garland, no estado do Texas.
O facto de Tashfeen Malik ter feito o mesmo não significa que o ataque de quarta-feira em San Bernardino tenha sido ordenado directamente por membros do grupo terrorista – até ao momento, não há qualquer reivindicação da autoria do ataque, ao contrário do que aconteceu tanto nos atentados de Janeiro como no massacre de 13 de Novembro, também em Paris, que fez 130 mortos.
Medo na comunidade muçulmana
A informação de que Tashfeen Malik teria uma ligação ao extremismo do Estado Islâmico – nem que seja por adesão à ideologia, mesmo sem intervenção de terceiros – vem dificultar ainda mais a vida de milhões de muçulmanos norte-americanos, que têm sido alvo de manifestações de ódio, principalmente depois dos atentados de Novembro em Paris, e à semelhança do que aconteceu após o 11 de Setembro de 2001.
Mahmoud Tarifi, um dos líderes do Centro Islâmico de Claremont, na Califórnia, disse ao jornal Los Angeles Times que se preparou para mais uma vaga de sentimentos anti-muçulmanos assim que ouviu os nomes dos dois atiradores de San Bernardino. "Todos os muçulmanos se preocupam com o facto de serem vitimizados. Foi assim que nos sentimos após o 11 de Setembro e os ataques em Paris."
Um outro muçulmano norte-americano, residente em San Bernardino, Aslam Abdullah, disse ao mesmo jornal que o ataque de quarta-feira marca "um momento crucial", porque permite à maioria dos muçulmanos declarar que não se identifica com acções violentas.
"Nós ficamos mais deprimidos do que qualquer outra pessoa, quando alguém que se identifica com a nossa fé é suspeito", disse Abdullah. "Agora os muçulmanos estão novamente a ser julgados. A comunidade muçulmana não aprova o terror. Associar o terror a todos os muçulmanos seria absurdo."
Do outro lado do país, no estado de Nova Jérsia, o responsável pelo Conselho de Relações Americano-Islâmicas, Nihad Awad, manifestava os mesmos receios, ao mesmo tempo que condenava o ataque em San Bernardino.
"Há muita ansiedade entre os muçulmanos americanos porque já vimos isto acontecer no passado. Já vimos o que significa tirar conclusões precipitadas", disse Nihad Awad, numa sala onde se destacava uma faixa com a frase "As nossas sinceras condolências às pessoas de San Bernardino".
Presente na mesma cerimónia, o mayor de Jersey City, Steve Fulop, disse que as autoridades locais "estão ao lado da comunidade muçulmana", e condenou a polémica levantada por Donald Trump, candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano.
Há duas semanas, Trump disse que viu "milhares e milhares" de muçulmanos a celebrarem nas ruas de Nova Jérsia a queda das torres gémeas do World Trade Center. Essa declaração tem sido desmentida praticamente todos os dias – por jornalistas e políticos, tanto do Partido Democrata como do Partido Republicano –, mas o candidato mantém a sua afirmação e aponta como provas relatos de rumores que surgiram naquela época.
Curtis Sliwa - doing tv commentary on 9/13/2001. Good job Curtis. Please send your apologies to @realDonaldTrump. pic.twitter.com/g07VZmNmAW
— Donald J. Trump (@realDonaldTrump) December 1, 2015
No apology, @realDonaldTrump. Callers to @curtisandkuby on 9-11 said they saw 12 teens celebrating in Paterson.https://t.co/6h6VNIZZMG
— Curtis and Kuby (@curtisandkuby) December 1, 2015
O rumor de que os atentados de 2001 em Nova Iorque e Washington foram festejados por muita gente nos EUA persiste até hoje, mas não há qualquer registo em vídeo ou testemunhos credíveis de que "milhares e milhares" de pessoas saíram para as ruas em Nova Jérsia – ou em qualquer outro estado norte-americano – para comemorarem o ataque.
William McKoy, um dos responsáveis políticos da cidade de Paterson (de onde partiu o rumor, em 2001), também criticou Donald Trump na conferência desta sexta-feira, em Nova Jérsia, organizada pelo Conselho de Relações Americano-Islâmicas: "Todos temos direito à nossa própria opinião. Não temos direito aos nossos próprios factos."