EDP estreia-se em Moçambique com mini-central eléctrica

Projecto em parceria com as Nações Unidas recolhe financiamento de 1,75 milhões para electrificar aldeia de 4000 habitantes com energia solar e biomassa.

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EDP vai produzir electricidade a partir de resíduos de algodão REUTERS/Randall Hill/Files

Ainda há muito trabalho pela frente, mas já está “meio caminho andado” para levar electricidade à aldeia moçambicana de Titimane, em 2017. A EDP, em parceria com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), assegurou um financiamento de 1,75 milhões de euros para construir no próximo ano uma mini-rede que levará electricidade aos quatro mil habitantes desta aldeia na província do Niassa, revelou ao PÚBLICO o director de planeamento da empresa, Pedro Neves Ferreira. Trata-se da estreia da EDP no mercado moçambicano, onde a empresa ainda não tem qualquer actividade, apesar de se ter mencionado a possibilidade de realizar investimentos em barragens com a chinesa CTG (maior accionista da EDP).

É um “projecto pioneiro” porque assenta na construção de uma mini eléctrica com uma “lógica totalmente empresarial, que vai cobrar tarifas aos clientes” pela electricidade produzida a partir do sol e da biomassa (queima de resíduos de algodão) “e com isso cobrir todos os seus custos operacionais”, explicou o gestor.

A construção desta nova empresa tem o apoio da Sociedade Algodoeira do Niassa - Grupo João Ferreira Santos (SAN – JFS), que é quem compra a produção de algodão aos habitantes de Titimane e passará a produzir as pellets de restolho de algodão para queima na central de biomassa. “Podemos dizer que somos os dois promotores privados que puxam a carroça e levam o projecto para frente”, adiantou o director da EDP. Os outros parceiros são o Governo de Moçambique e o fundo de energia moçambicano FUNAE.

A empresa não será “geradora de grande lucro, mas será financeiramente sustentável”, pois, uma vez efectuado o investimento inicial, “todos os custos de operação, manutenção e substituição dos equipamentos” serão garantidos pelas tarifas, explicou Pedro Neves Ferreira. “Se olharmos para os custos totais a 20 anos, são o mesmo que este investimento à cabeça, por isso estamos a falar de um modelo que viabiliza pelo menos metade” dos encargos totais, adiantou o gestor.

O cultivo do algodão pesou na selecção de Titimane entre 30 potenciais aldeias isoladas por somar a componente de biomassa à energia solar. “Foi algo que nos agradou a nós e às Nações Unidas e permite criar um círculo virtuoso interessante”, destacou Pedro Neves Ferreira. “A compra dos resíduos de algodão vai garantir que os agricultores praticamente dupliquem as suas receitas, porque agora são obrigados a queimá-los ”, afirmou.

A expectativa é que o projecto melhore as condições de vida de uma aldeia onde ainda se cozinha com lenha, e onde há restrições em serviços essenciais como a escola, o centro de saúde e o acesso a água potável, mas também que melhore a situação económica das famílias e surja algum emprego ligado à central.

Sem querer detalhar a fatia de investimento que caberá à EDP, Pedro Neves Ferreira adiantou que “entre doadores internacionais e o Governo moçambicano, estão cerca de um milhão e tal de euros”. Destes, 860 mil euros dizem respeito a financiamentos da Energy and Environment Partnership (EEP) e do OFID/ARE (fundo da OPEP).

A proporção de capital da EDP nesta nova empresa  é algo que está ainda a ser discutido com o executivo moçambicano, assim como o contrato de concessão e toda a estrutura tarifária, que prevê a utilização de uma solução de pré-pagamento. Há uma série de temas que “ainda vão ser afinados entre os parceiros”, reconheceu o gestor.

Certa é a ambição da EDP em replicar este modelo noutros pontos de Moçambique: “Com Titimane pretendemos demonstrar que há uma lógica comercial viável e sustentável”.

Espera-se que os custos das baterias (armazenagem), tecnologias de biomassa e fotovoltaicas vão diminuir, permitindo que futuros projectos requeiram investimentos menores e fiquem mais próximos da independência financeira. “Com isso abre-se de facto uma oportunidade de negócio” disse Pedro Neves Ferreira, adiantando que Moçambique “é um mercado interessante” para a EDP e “prioritário” no desenvolvimento deste tipo de projectos de produção descentralizada.

De resto, a EDP está “a ajudar o Governo moçambicano a angariar financiamento para apoiar os estudos necessários que conduzam à criação de um quadro regulatório” que permita que nasçam novos projectos para a electrificação rural numa lógica de sustentabilidade financeira.

São projectos que vão ao encontro da expectativa da Agência Internacional de Energia (AIE), que estima que “o problema de cerca de metade” dos 1,3 mil milhões de pessoas no mundo que ainda não têm electricidade possa resolver-se com produção através de mini-redes isoladas, “uma tecnologia mais competitiva para abastecer populações remotas para as quais a extensão clássica da rede não é economicamente viável”, referiu o gestor da EDP.

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