Mário Centeno, de “ministro-sombra” a ministro das Finanças

Foi um dos “12 apóstolos” do programa económico do PS. Esteve nas negociações com a esquerda. Rejeita o rótulo de liberal. Ficar com a pasta das Finanças não é uma surpresa.

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O ministro das Finanças diz que o executivo está concentrado em executar o orçamento de 2016 Nuno Ferreira Santos

Era um quase-desconhecido até António Costa o ir buscar para coordenar o cenário macroeconómico que serviu de base ao programa eleitoral do PS, mas rapidamente se tornou num “ministro-sombra” das Finanças. Em pouco tempo já era dado como muito provável num elenco governativo socialista. O papel que Mário Centeno assumiu nos últimos meses, em particular nas negociações do PS com os partidos à esquerda, colou-lhe à pele ainda mais essa figura.

Centeno, prestes a completar 49 anos, doutorado em Economia pela Universidade de Harvard, fez carreira no Banco de Portugal. Entre 2004 e 2013 foi director adjunto do Departamento de Estudos Económicos, até Carlos Costa o indicar como conselheiro especial da administração depois de o economista tentar, sem sucesso, chegar à liderança daquele importante departamento.

Centeno, especialista na área do trabalho, professor no ISEG (Lisboa) e na Universidade Nova, fez parte, em 2006-2007, da Comissão do Livro Branco das Relações Laborais. Quando o seu nome surgiu como coordenador da equipa dos “12 apóstolos” do programa económico do PS, foi de imediato cunhado como “liberal”, um “rótulo” em que não se revê. “Culturalmente, sou de esquerda”, comentava o economista à Visão há poucas semanas, já eleito deputado independente pelo PS.

Numa série de conversas publicadas pelo PÚBLICO em 2011 — as Entrevistas sobre o futuro —, Centeno foi um dos protagonistas. A reforma do mercado de trabalho era o tema incontornável, num ano que viria a ficar marcado pela chegada da troika e o início de uma série de alterações na legislação laboral. A ideia-chave: “A lei [do trabalho] protege, mas as pessoas não se sentem protegidas.”

As entrevistas que deu nos últimos meses não foram isentas de polémica. Em declarações prestadas ao Financial Times — que no desfecho das negociações do PS com o Bloco de Esquerda, PCP e Os Verdes já o apresentava como o mais do que provável ministro das Finanças —, o economista tentava tranquilizar as dúvidas sobre o cumprimento das metas orçamentais. E com a mesma entrevista motivaria mesmo uma alfinetada do Bloco de Esquerda, por dizer que “ninguém com bom senso pensará em não pagar as dívidas que contraiu”.

“Vamos continuar a reduzir o défice e a dívida, mas a um ritmo mais lento”, assegurava ao jornal britânico, no mesmo dia em que no Parlamento afirmara: “[O PS] assume as suas responsabilidades europeias e honrará todos os compromissos do país.” Quando voltar a falar no Parlamento, tudo o que ali disser, mesmo que nos próximos dias antes de ser empossado, já terá por baixo a responsabilidade explícita da assinatura de ministro.

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