Álvaro Beleza pede um congresso
“O partido tem de fazer uma forte reflexão e clarificação em relação ao que aconteceu. Há um ano abriu-se uma crise interna no partido porque a vitória não tinha sido aquela que se queria. Tivemos um mau dia para o PS, tivemos uma derrota, e, portanto, têm de se tirar as devidas consequências”, defendeu Álvaro Beleza, sublinhando que a reflexão interna tem de ser feita de “uma forma serena”.
Beleza revelou que na reunião da comissão política de terça-feira defenderá esta posição, "mas a dimensão da derrota exige a realização de um congresso”.
Reconhecendo que há posições divergentes no partido, Beleza considera que “não se compreenderia que não se fizesse um debate interno, e ele vai existir, mas far-se-á com tranquilidade entre camaradas que têm posições divergentes em algumas matérias”. Num registo de unidade, o ex-dirigente nacional fala do secretário-geral e elogia-lhe a galhardia que mostrou durante a campanha eleitoral, batendo-se pela vitória do partido. “O líder do partido bateu-se galhardamente pelo PS e eu tenho autoridade de quem tudo fez para a união do partido para que se apresentasse unido às eleições – aliás, até fui criticado por ser demasiado brando.” “Mas nunca se é demasiado brando porque o que interessa é o PS e os portugueses não nos perdoariam um partido dividido”, disse.
Sobre a disponibilidade de António Costa se manter na liderança do PS, Álvaro Beleza elogia-a sem grandes entusiasmos. “O secretário-geral manifestou vontade de continuar, isso abona em favor da ética republicana de uma forma transparente. Agora teremos de ter uma discussão interna e é poucochinho uma comissão política – tem de haver mais.”
No dia em que o PS perdeu as eleições e o secretário-geral disse: “Manifestamente não me vou demitir”, Beleza deixou uma garantia aos portugueses, assegurando que o partido será “um factor de estabilidade no país e uma oposição construtiva. O país é mais importante do que o partido e o partido é mais importante”.
Antes das declarações de Álvaro Beleza, que falou imediatamente a António Costa, o ex-deputado e antigo líder da federação distrital de Setúbal, Vítor Ramalho, confirmou a intenção de um grupo de socialistas para avançar com a proposta de agendar um congresso extraordinário do PS para depois de Março (quando toma posse o futuro chefe de Estado).
Além de Ramalho, essa tomada de posição pública deverá ser apoiada por militantes de renome, como o ex-membro do secretariado de Seguro Jorge Seguro Sanches, o presidente da Câmara da Covilhã, Vítor Pereira, e o ex-director da Acção Socialista no tempo da anterior direcção, Marcos Sá. À excepção de Ramalho, que sempre foi muito próximo do Mário Soares, todos os outros são dirigentes da liderança de António José Seguro.
O apelo interno que deverá ser oficializado nos próximos dias servirá também para alertar o partido para o risco de “haver precipitação” nos próximos dias. Ramalho considera que a actual direcção tem de ter condições para encarar as próximas batalhas políticas que se avizinham – que são a “passagem ou não do programa de governo, o próprio Orçamento e as presidenciais”.
Assegurando estar contra a demissão de António Costa, o debate que interessa, destacou, é mais sobre o ideário e a unidade do partido. Acrescenta que o PS deve agora pensar “num rumo” sem ter em conta os notáveis. “Sou contra a fulanização da política”: “Congresso extraordinário depois das presidenciais, onde aí se colocarão as candidaturas que entenderem.”