Moscovo e Teerão estão dispostos a aumentar apoio militar a Assad
A Rússia enviou dezenas de caças e centenas de militares para a base de Latakia ao longo do fim-de-semana.
“Teerão e Moscovo tencionam usar todo o seu potencial para ajudar a Síria a sair desta crise”, disse o ministro-adjunto dos Negócios Estrangeiros iraniano, de visita à Rússia, sublinhando a ideia já repetida pelo Kremlin de que Assad fará sempre parte de uma solução política para o conflito. Na capital iraniana, o Presidente Hassan Rouhani afirmou por ocasião do 35º aniversário do início da guerra com o Iraque que a região não deve ter demasiada fé “nos poderes ocidentais como seus defensores”. “[Se] os terroristas começarem a expandir, as únicas esperanças serão o exército iraniano e a Guarda Revolucionária.”
Há muito que os dois países apoiam o exército de Assad. O Irão fá-lo através do Hezbollah e outras milícias iranianas, que se tornaram aliados indispensáveis para Assad no terreno. Empresta também milhares de milhões de euros ao Governo e garante-lhe ainda crédito para combustíveis. O Governo iraniano diz que não tem militares ou conselheiros seus na Síria, mas são comuns avistamentos de membros da Guarda Revolucionária do Irão na Síria.
Teerão e Moscovo têm relações diplomáticas próximas, como o ilustram os frequentes encontros entre os seus responsáveis diplomáticos. Mas agora há informações de governos no Ocidente que sugerem que os dois países estão a coordenar esforços militares na Síria, como avançou na segunda-feira o Wall Street Journal. Segundo o diário norte-americano, o líder das forças de elite iranianas e figura maior na Guarda Revolucionária, o general Qasem Soleimani, visitou recentemente Damasco e Moscovo e foi decisivo para a decisão russa de enviar tropas para a base aérea de Latakia, no bastião alauita fiel a Assad.
É aí que fica a estratégia base militar do Kremlin na Síria e onde, segundo responsáveis norte-americanos, têm também chegado militares iranianos. Por enquanto, só a presença russa é abertamente assumida. Ao longo do fim-de-semana, aliás, o exército intensificou ostensivamente o seu destacamento em Latakia.
Há agora 500 marines russos quando na semana passada havia apenas 200; mais 24 caças de ataque terrestre – doze Su-24 e o mesmo número de SU-25 – quando antes havia apenas quatro caças de combate aéreo Flanker; há agora nove tanques T-90 e 15 helicópteros Hip e Hind, de transporte e ataque, respectivamente. A protegê-los, há pelo menos dois sofisticados sistemas antiaéreos SA-22. De acordo com o Financial Times, o plano do Kremlin é ter pelo menos 2000 militares em Latakia – número normal para gerir e defender uma base de ataques aéreos, segundo o jornal britânico.
Moscovo diz que nunca escondeu o seu apoio militar a Bashar al-Assad e que envia tropas para a Síria para combater grupos extremistas, entre eles o autoproclamado Estado Islâmico. Na segunda-feira, os russos começaram a patrulhar o terreno com drones de vigilância, embora os seus jactos ainda não tenham levantado da base na costa do Mediterrâneo.
A intervenção militar de Moscovo apanhou o Ocidente de surpresa. Uma das justificações mais credíveis sugere que o Kremlin se quer posicionar como um actor incontornável no conflito sírio e influenciar o seu desfecho político. Vladimir Putin pode fazê-lo já na Assemblei Geral das Nações Unidas, no final do mês, em Nova Iorque, ao centrar o debate sobre a Síria no combate ao extremismo islâmico e desviar o foco do regime do Presidente Assad.
O Presidente russo quer também sair do isolamento diplomático que lhe valeram as intervenções militares no Leste da Ucrânia. Nesse campo, já soma vitórias. Washington abriu uma linha de contacto na passada sexta-feira para garantir que as suas forças não entram em confronto no espaço aéreo sírio e, na segunda-feira, Putin recebeu em Moscovo o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu, que quer evitar que a intervenção russa arme ou fortaleça o Hezbollah e o exército de Assad. Putin assegurou Netanyahu que o exército sírio “não tem tempo para uma segunda frente” e que as intervenções russas no Médio Oriente “foram sempre muito responsáveis”.