Refugiados tentam entrar na Hungria antes que se erga o muro

Angela Merkel diz que, perante esta crise, é preciso escolher os que podem ser ajudados: "É uma escolha difícil, mas a Sérvia, a Albânia e o Kosovo não estão de momento em guerra civil."

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Uma família síria-curda passa a fronteira da Sérvia para a Hungria em Asotthalom Laszlo Balogh/Reuters

A maior parte dos que usam a rota dos Balcãs para entrar na União Europeia são sírios, depois surgem os afegãos e iraquianos, segundo os dados das Nações Unidas e da Frontex (agência europeia de controlo das fronteiras). As 2093 pessoas que entraram na Hungria na segunda-feira faziam parte de um grupo de sete mil que chegou à Sérvia, vindo da Macedónia, depois de ter ficado bloqueado na fronteira. A fronteira tinha sido fechada no fim-de-semana e ali tinham ficado, com muitos outros, até que que o Governo do país optou por os meter à pressa em comboios para a Sérvia. Dali, autocarros da ONU transportaram-nos até à fronteira com a Hungria.

"Fomos barrados na Macedónia durante dois dias, os motins foram terríveis, a polícia usou armas e gás lacrimogéneo", contou à AFP um engenheiro informático de 29 anos, que saiu de Mossul, no Iraque, para fugir ao grupo jihadista Estado Islâmico.

Quase todos querem chegar a um país próspero da União Europeia — a Alemanha, o Reino Unido, países do Norte. Só ao chegarem à Hungria pedem asilo político. Este ano já cem mil pessoas pediram ali asilo político, mais do dobro do ano passado (em 2012 tinham sido apenas dois mil, segundo os dados obtidos pela AFP).

A escala da crise de refugiados que assola a Europa reflecte sobretudo o agudizar dos conflitos no Médio Oriente e na Ásia (Afeganistão, Paquistão), apesar de também haver grupos oriundos de países africanos como a Mauritânia, o Quénia ou o Sudão. A resposta europeia tem sido pautada pela falta de resposta à origem dos problemas. Os governos têm investido em medidas de força, como a construção de muros (na Hungria e em Calais, onde barreiras de arame farpado foram erguidas junto ao túnel que liga a França ao Reino Unido), a militarização das fronteiras (a Bulgária anunciou o envio de soldados e tanques para a sua fronteira com a Macedónia para impedir entradas no seu território), ou a adopção de legislação punitiva dos indocumentados (Reino Unido).


Na segunda-feira, a chanceler alemã e o Presidente francês, Angela Merkel e François Hollande, disseram em Berlim que a União Europeia deve dar uma resposta comum a esta crise migratória. "É preciso criar um sistema unificado para tratar do direito de asilo. Devemos organizar-nos e reforçar as nossas políticas", disse Hollande. Merkel quer uma decisão até ao fim do ano.

Já esta terça-feira, o Governo de Berlim — a Alemanha é o país da UE que mais tem absorvido imigrantes e refugiados — anunciou que deixa de reenviar os refugiados sírios que ali chegam para os países por onde entraram na União Europeia. Mas, no país, sobe a contestação à presença destes grupos de pessoas — um centro de acolhimento de refugiados em construção foi incendiado no fim-de-semana, e não foi o primeiro. Centena e meia já sofreu o mesmo destino este ano.

"A Europa está numa situação que não é digna da Europa e é preciso dizê-lo", disse Merkel esta terça-feira num encontro com cidadãos em Duisbourg-Marxloh, uma zona industrial onde vive uma importante comunidade de imigrantes. Mas defendeu que deve ser feita uma escolha dos que devem ser ajudados e dos que devem voltar para os seus países — ou ser "repatriados".

"É uma escolha difícil, mas a Sérvia, a Albânia e o Kosovo não estão de momento em guerra civil. E os que têm direito a asilo, por exemplo os sírios, devem ser repartidos de forma equilibrada pela Europa", disse, defendendo que mais uma vez a distribuição dos refugiados pelos países da UE de acordo com a riqueza dos países. A Alemanha, como país "economicamente forte", deve assumir uma maior responsabilidade. "Porém, três ou quatro países entre 28 não podem assumir toda essa carga: não é a União Europeia que nos sustenta."

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