Operações militares turcas podem "mudar o equilíbrio" na Síria e no Iraque, diz Ancara
Ancara e Washington têm plano de criação de "zona de segurança aérea" que levará ao recuo do EI e beneficiará as forças que combatem Assad. Reunião entre turcos e NATO marcada para terça-feira.
"A presença de uma Turquia susceptível de usar eficazmente a força pode permitir mudar o equilíbrio na Síria e no Iraque e em toda a região. O mundo deve ter consciência disso", disse Davutoglu em Ancara durante uma longa conversa com os chefes de redacção de uma série de jornais do país.
O chefe do Governo islamo-conservador assegurou também que o seu país não enviará tropas para o terreno na Sìria. "Não enviaremos tropas", mas "não queremos o Daech [acrónimo árabe para o Estado Islâmico] junto da fronteira turca".
O primeiro-ministro justificou a ofensiva contra o EI - que tornou também um aguerra contra os curdos - com o atentado em Suruç, há uma semana, e à morte de um soldado turco. "Queremos garantir que o grupo paga caro pela morte de 32 pessoas, para que não volte a fazer um ataque. A morte do nosso soldado só acelerou a nossa reacção", disse o primeiro-ministro.
Davutoglu não quis revelar detalhes do acordo com os Estados Unidos para a utilização da base aérea de Incirlik (no Sul) no âmbito dos bombardeamentos aéreos contra os jihadistas na Sìria e no Iraque. Mas indicou que a pressão da Turquia para que seja criada uma zona de exclusão aérea no Norte da Síria está, "em certa medida", a ser tida em consideração. "Se não enviamos tropas para o terreno, coisa que não vamos fazer, então certos elementos [da oposição moderada ao regime de Damasco] que cooperam connosco no terreno devem ser protegidos", defendeu.
Segundo as edições desta segunda-feira dos jornais americanos The Washington Post e New York Times, a Turquia e os Estados Unidos traçaram já um plano para a criação dessa "zona aérea segura" ao longo da fronteira turco-síria. Fontes dos dois países disseram ao jornal que o acordo inclui um plano para empurrar o EI para fora de uma área de 109 km a este do rio Eufrates, até à província síria de Alepo, permitindo que esta ficasse sob o controlo da oposição síria que combate o EI mas também o regime de Bashar-al-Assad. A concretizar-se, a zona de exclusão aérea também levaria os aviões americanos para a proximidade das bases aéreas e das defesas aéreas de Damasco, o que também beneficiaria os que combatem o regime.
Quanto às operações contra o PKK (que o Governo turco considera um grupo terrorista), Davutoglu disse que visam "restabelecer a ordem" na Turquia. O primeiro-ministro disse que os curdos intensificaram os ataques contra as forças de segurança na sequência do atentado de Suruç (sud).
O Governo de Ancara está a ser acusado de aproveitar a guerra contra o jihadismo para retirar vantagens na sua agenda interna contra os curdos; pela primeira vez, um partido pró-curdo, o HDP, conseguiu representação parlamentar nas recentes legislativas — nestas, o partido no poder, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP, Partido Democrático do Povo), de Davutoglu e do Presidente Recep Erdogan, perdeu a maioria absoluta e decorriam difíceis negociações para a formação de um novo executivo. Os conservadores turcos já pediram a ilegalização do HDP.
Carros de combate turcos bombardearam uma vila no Norte da Síria, na província de Aleop, ocupada por forças curdas, matando quatro pessoas entre os combatentes rebeldes, anunciaram nesta segunda-feira as Unidades de Protecção do Povo Curdo (as YPG) e uma organização não governamental síria.
"Em vez de [atacarem] as posições ocupadas pelos terroristas do EI, as forças turcas atacam as nossas posições de defesa", deninciaram as YPG em comunicado. "Apelamos aos dirigentes turcos no sentido de porem fim a esta agressão e de respeitarem as directivas internacionais".
Para explicar a sua acção militar e tentar conseguir apoio para a sua posição, a Turquia pediu uma reunião coma NATO, que se realiza terça-feira.