Guerra aos curdos para ganhar eleições?
Erdogan junta-se combate ao EI e, pelo caminho, arrasa com os curdos no Sul da Turquia.
É uma guerra onde todos lutam contra todos e não é claro quem está ao lado de quem. A Turquia luta contra o regime de Bashar al-Assad, contra os grupos separatistas curdos, contra o autoproclamado Estado Islâmico (EI). Os curdos dão a cara pela luta contra os radicais jihadistas e combatem na fronteira contra o regime turco de Erdogan. O dito EI luta no território de Assad, mas já terá perdido a tolerância e a complacência dos turcos. Combate os curdos e quer derrubar tudo que lhe apareça à frente, com laivos de barbárie. E os norte-americanos aparecem no meio desta guerra, num habitual exercício de malabarismo no Médio Oriente, ao lado dos turcos, já que ambos classificam os rebeldes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) como um grupo terrorista. Embora os turcos não tenham, pelo menos até agora, tido grande vontade de fazer parte da aliança de Barack Obama na região para derrubar o EI.
O que fez a Turquia mudar de posição e ter esta semana pela primeira vez atacado os jihadistas? Sobretudo tendo em conta que até agora tem assumido uma postura isolacionista face ao conflito na Síria. E até foi acusada pelos curdos de estar a colaborar activamente com os jihadistas para atacarem posições das milícias curdas no Norte da Síria. E ainda acusada de ter uma aliança com os jihadistas para o comércio de petróleo e servir de porta de entrada para os estrangeiros de várias partes do mundo que se querem juntar aos terroristas do EI.
A causa imediata para Erdogan se juntar ao conflito foi um ataque suicida do EI há precisamente uma semana, que matou 32 jovens activistas curdos. Os curdos turcos, que há muito que se queixam de não terem a protecção do regime Erdogan, viraram-se precisamente contra o Governo turco e seguiu-se uma série de ataques, sendo que ainda neste domingo mais dois soldados foram mortos na província curda de Diyarbakir.
É o rastilho que o Presidente turco Recep Tayyip Erdogan esperava para fazer uma espécie de guerra de dois em um. A Turquia prometeu combater “sem distinção” o EI e os rebeldes curdos, estilhaçando um débil cessar-fogo que existia desde Março de 2013. Um ataque conveniente para Erdogan, já que à medida que os curdos ganhavam territórios ao EI a Sul da Turquia, iam declarando governos provisórios e acalentando uma maior esperança de um dia poderem vir a ter um Estado autónomo. Mas haverá uma motivação bastante mais egoísta e imediata no horizonte de Erdogan. E é dentro da fronteira da Turquia. Ele sabe que depois de o AKP ter perdido a maioria absoluta, terá até meados de Agosto para conseguir um parceiro de coligação. E como o mais provável é haver eleições antecipadas, esta guerra até lhe dá jeito para criar um sentimento anti-curdo e evitar que os pró-curdos do HDP, que lhe roubaram a maioria absoluta, se voltem a sentar no Parlamento.