Brian Vibrações

Uma obra sobre a infância que é infantil e que espreita a loucura e o medo – de Brian Wilson, dos Beach Boys – de forma amedrontada

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A Forc¸a de um Ge´nio cria a si próprio dificuldades de adulto que não ultrapassa
Kid’s stuff

: assim parece o nascimento no estúdio de

Good Vibrations

perante a reencarnação dos Stones no

Sympathy for the Devil

tal como foi testemunhada por Jean-Luc Godard – citação, em

Força de um Génio/Love and Mercy

, de Bill Pohland, do

One Plus One

(1968). Mas atenção: não é a música dos Beach Boys que faz figura de “coisa de crianças”, é o cinema, é o filme de Pohland, uma obra sobre a infância que é infantil e que espreita a loucura e o medo de forma amedrontada. Nunca se atreve a fazer aquilo que faz numa sequência – abrir a porta, olhar de frente, expor-se... – a personagem interpretada por Elizabeth Banks perante a personagem interpretada por Paul Giamatti. Ela é a mulher que salvou Brian Wilson (o biografado) das garras de quem o agrilhoava, ele é o Dr. Eugene Landy, o ogre manipulador.

Essa sequência fica como uma espécie de wishful thinking de A Força de um Génio, um filme sobre o pico criativo e o abismo psicológico do líder dos Beach Boys (o que ele viveu entre Pet Sounds e Smile) que nunca concretiza o desejo. Passa o tempo a esconder-se, a atemorizar-se, a inventar manobras de diversão e a criar a si próprio dificuldades de adulto que não consegue ultrapassar. Como essa de ter dois actores (Paul Dano e John Cusack) a interpretar Wilson em momentos diferentes da vida. Um dos argumentistas é Oren Moverman (também realizador), a quem se deverá algo do exercício poliédrico que foi o I’m not There de Todd Haynes. Mesmo sendo árido o filme de Haynes, havia nele uma determinação ensaística de ler Bob Dylan que não só é inatingível como é impensável em A Força de um Génio. E também se esvai qualquer possibilidade de aliança surrealista – como acontecia entre as obviamente diferentes Conchita do Esse Obscuro Objecto do Desejo de Buñuel, interpretadas por Angela Molina e Carole Bouquet, que às tantas passavam para o espectador a ser... a mesma. Aqui estamos sempre a esbarrar na diferença, e sobra para Cusack a parte mais frustrante e inglória da coisa. Não era necessário: afinal, quando se vê Brian Wilson, ele próprio, no genérico final (a interpretar Love & Mercy), podia mesmo ser, isto sim é que é ilusão surrealista, Paul Dano com maquilhagem.

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