Combates perto de Donetsk aumentam receios de nova escalada da guerra

Confrontos desta quarta-feira ocorreram depois de ter sido adiada uma reunião em Minsk para fazer avançar os acordos de paz

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Efeitos, em Donetsk, de bombardeamento atribuído à artilharia ucraniana Alexander Ermochenko/Reuters

“Cerca das 4h, os terroristas russos, em violação dos acordos de Minsk, lançaram uma ofensiva sobre as posições ucranianas”, indica um comunicado do Estado-Maior.

O alvo seriam as posições próximas de Marinka, uns 20 quilómetros a oeste de Donetsk, um feudo dos rebeldes. “O inimigo enviou em direcção a Marinka mais de dez carros de combate e até mil homens contra as forças ucranianas”, diz o comunicado.

Viatcheslav Abroskine, chefe da polícia da região de Donetsk, leal ao Governo de Kiev, disse à AFP por telefone que Marinka e Gueorguiivka, também controlada pelo exército, foram alvejadas por lança-rockets Grad e carros de combate.

O Estado-Maior acrescentou ter repelido a ofensiva, com recurso a artilharia montada à distância. Os acordos Minsk 2, que em Fevereiro permitiram o frágil cessar-fogo que tem vigorado formalmente, apesar de não impedir combates ocasionais em algumas zonas, determinaram o recuo da artilharia.

Mas o porta-voz militar ucraniano Andriï Lyssenko, citado pela AFP, recusou qualificar a ofensiva como sendo de envergadura. Foi uma “tentativa de avançar mas o ataque teve apenas lugar num pequena parte da frente, não podemos falar de uma ofensiva de grande envergadura”, disse à imprensa.

Citado pela Reuters, o ministro da Defesa, Stepan Poltorak, afirmou que, “por agora, as operações de assalto foram interrompidas”.

Os separatistas negaram ter lançado uma ofensiva que as autoridades de Kiev apresentam como a mais séria dos últimos tempos, mas confirmaram combates perto de Marinka e acusaram as forças ucranianas de terem feito fogo de artilharia sobre zonas à volta de Donetsk, provocando a morte de 15 pessoas. “Não fizemos qualquer ofensiva, e ainda menos de envergadura. As tropas de Kiev abandonaram por si próprias Marinka ”, disse Eduard Bassurine, um comandante dos combatentes da República de Donetsk, citado pela agência russa Interfax.

As informações sobre vítimas na frente de Marinka divergem conforme a fonte. Um responsável do campo separatista avançou um civil morto e quatro feridos. Do lado do Governo de Kiev, as indicações são de 11 soldados e seis civis feridos.

Os confrontos desta quarta-feira ocorreram depois de uma reunião, prevista para Minsk, na terça-feira, com o objectivo de dar continuidade aos acordos de paz, ter sido adiada.

Proibir ONG
As autoridades da autoproclamada República Popular de Donetsk decidiram entretanto proibir a existência de organizações não governamentais (ONG) financiadas por países estrangeiros que considerem apoiar “pontos de vista nacionalistas ucranianos”.

Um decreto do líder, Alexandre Zakhartchenko, divulgado nesta quarta-feira, fala num aumento de actividades das organizações que diz serem usadas como “cobertura para espionagem”. Até 30 de Junho será feito o levantamento das ONG que actuam no território rebelde de Donetsk e decidido quais serão proibidas.

Uma medida semelhante foi recentemente tomada pela Rússia. O Presidente, Vladimir Putin, promulgou uma lei que permite a interdição de organizações consideradas “indesejáveis” pelo estado russo.

No terreno estão organizações como Cruz Vermelha, Médicos sem Fronteiras, Amnistia Internacional e Human Rights Watch. Num relatório publicado em Maio, a Amnistia denunciou o recurso regular à tortura e a actuações extrajudiciais tanto por parte dos rebeldes como do exército.

No final de Abril, sete norte-americanos e europeus pertencentes à ONG International Rescue Committee (IRC) foram acusados de espionagem e expulsos de Donetsk. Informações das autoridades rebeldes divulgadas pela AFP indicam que desde o início da guerra foram expulsos oito estrangeiros que trabalhavam para organizações do género.

A guerra na Ucrânia já fez mais de 6400 mortes desde Abril de 2014. O Governo de Kiev e os países ocidentais acusam a Rússia de apoiar e armar os separatistas, o que é negado por Moscovo.

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