Jean-Marie Le Pen suspenso da Frente Nacional, o partido que fundou

O até agora presidente honorário da formação de extrema-direita diz-se “repudiado” e garante que continuará a falar.

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Jean-Marie Le Pen à saída da sede nacional da Frente Nacional Philippe Wojazer / Reuters

O seu afastamento da presidência honorária do partido, votado pelo conselho executivo na sua sede nacional em Nanterre, nos arredores de Paris, só será confirmado quando for realizada uma assembleia-geral extraordinária, onde serão modificados os estatutos da Frente Nacional (FN). Fica assim consagrada a marginalização do fundador do partido de extrema-direita, anti-imigração e eurocéptico, pela nova liderança, que tem à frente a sua filha Marine Le Pen.

No domingo, Marine Le Pen já tinha deixado o caminho aberto a sanções duras contra o próprio pai. “Jean-Marie Le Pen não deve poder expressar-se mais em nome da Frente Nacional, as suas posições são contrárias à linha fixada”, disse a líder numa entrevista televisiva.

Em causa estão os comentários recentes de Jean-Marie, que reafirmou que as câmaras de gás do Holocausto são “um detalhe da História” — uma posição que já defendia enquanto líder da FN e que lhe valeu processos judiciais. Dias depois, numa entrevista à Rivarol, uma revista de extrema-direita, Le Pen dizia que o marechal Pétain — chefe de Estado colaboracionista durante a ocupação nazi — foi tratado de forma “muito severa” após a libertação.

Comentários como este têm sido comuns, mas foram sempre desvalorizados pela filha, que recusou entrar numa guerra aberta. No entanto, a tensão no interior do partido — que se encontra num processo de “limpeza” de imagem à medida que tenta aproximar-se do poder — levou Marine Le Pen a afastar o pai das listas do partido às regionais que se vão realizar em Dezembro. Entrou a neta, Marion Maréchal-Le Pen, de 25 anos, para o seu lugar na região da Provença-Alpes-Côte d’Azur, onde a FN espera obter bons resultados.

O peso do fundador no partido não é irrelevante, e ele não tem jogado pelo apaziguamento, antes pela provocação, como na segunda-feira, quando abandou a sede no momento em que começava o encontro que devia decidir o seu destino partidário. Jean-Marie Le Pen, que é também eurodeputado, preferiu não esperar pela deliberação do órgão executivo e abandonou a sede do partido ao final da manhã. “Recuso ir ao comité executivo”, disse o antigo líder aos jornalistas, já de saída. “Fui repudiado.”

O pai da líder do partido francês de extrema-direita garantiu que vai continuar a falar “livremente”, algo que, diz, “choca um certo número de pessoas”. “O presidente fundador da FN considera que é contrário à sua dignidade apresentar-se perante uma assembleia, como posso dizer, disciplinar, enquanto ele se considera perfeitamente inocente e ter agido no quadro do seu mandato parlamentar, porque um parlamentar é pago para falar”, acrescentou, referindo-se a si próprio na terceira pessoa.

Resta saber se esta afirmação de força de Marine e do actual núcleo de poder na FN conseguirá vingar e manter o partido unido, sem causar uma nova cisão, num momento em que a FN está ainda a ser investigada por financiamento ilegal.   

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