Campanha eleitoral chega ao fim sem rasgos inovadores e sem “chama”
Jardim aparece no último dia de campanha para avalizar uma das últimas obras que ainda não está terminada: um passeio pelo novo cais de acostagem, orçamentado em 17,8 milhões de euros saídos da Lei de Meios.
Neste adeus dramático de quem deixa a Madeira em sarrafos, o senhor que foi da ilha visita esta sexta-feira à tarde o novo cais do Funchal de atracagem de navios de cruzeiro, ainda em fase de construção, uma obra estimada em 17,8 milhões de euros, e contestada pelo anterior presidente da Câmara Municipal do Funchal e atual líder do PSD, Miguel Albuquerque, candidato às eleições de domingo, assim como por ambientalistas, partidos da oposição e por larga faixa da população. “Um escarcéu”, como disse, na altura. Com 300 metros de extensão, esta intervenção sobre a zona do depósito de inertes, consequência do temporal de 20 de Fevereiro de 2010, incluiu a junção da foz de duas ribeiras e outros arranjos urbanísticos.
E é assim que Jardim se despede. Com um passeio à beira-mar e com a garantia do INE de que a região tem pelo segundo ano consecutivo um superavit nas contas da Administração Pública Regional (APR) no valor de 89,2 milhões de euros, de acordo com os dados reportados à Direção Regional de Estatística (DRE), embora a Divida Bruta (dívida global), em 2014, se situasse em 4.468,3 milhões de euros, tendo aumentado cerca de 177,4 milhões de euros em relação ao ano de 2013. Uma notícia que cai no fecho da campanha.
Mas como até ao lavar dos cestos é vindima, as 11 forças políticas em disputa num boletim de voto com 12 siglas – o PDR não vai a jogo mas aparece na impressão papelinho das opções – não há minutos a perder. Com Albuquerque a encher jantares comício e a fazer-se acompanhar por antigos adversários políticos internos e velhos jardinistas, o PSD Madeira sente-se já à beira do poder com promessas de um novo ciclo para a região, acabando os dias de propaganda com a tradicional carana à volta da ilha.
Neste balanço de campanha chega-se à conclusão que, se o PS tivesse feito coligação com o CDS, com uma lista forte encabeçada por uma figura saída da sociedade civil, como tinha proposto José Manuel Rodrigues, líder regional dos populares, o caminho dos sociais-democratas estaria mais dificultado. Tal não aconteceu. O PS preferiu juntar-se ao PTP de José Manuel Coelho, ao MPT e ao PAN, numa fase em que todos acreditavam que seria desta vez, sem Jardim, que a oposição conseguia dialogar e demonstrar unidade em torno de um projecto comum.
Mais uma vez assiste-se a uma fragmentação. O surgimento de pequenos novos partidos aumenta a hipótese de uma pulverização de votos, sobretudo à esquerda. E a abstenção tende a aumentar, depois de uma campanha morna, antiga, com fórmulas de comunicação gastos pelo uso, nada inovadoras e que transmitiram cansaço. Saúde, educação, administração pública, desemprego, pobreza, plano de resgate, foram assuntos partilhados por todos.
Tal como o BE, a Coligação Mudança tentou atacar o PSD, fazendo uma ligação de Albuquerque à gestão da autarquia funchalense e à herança jardinista. Os socialistas contaram com a presença de António Costa numa viagem relâmpago e nesta sexta-feira recebem Carlos César. O BE teve Francisco Louçã, Mariana Mortágua e Catarina Martins.
Victor Freitas (PS, cabeça de lista da coligação Mudança) bem desafiou Albuquerque a incluir Passos Coelho na campanha do PSD. Tal não aconteceu. Já o CDS trouxe Paulo Portas e Assunção Cristas e ambos defenderam a “necessidade” de o PP entrar num próximo governo, com José Manuel Rodrigues a pedir ao eleitorado para não colocar os ovos todos no mesmo cesto.
Quem pode surpreender é o recente partido Juntos pelo Povo (JPP), nascido de um movimento de cidadãos, e que pode atingir três ou quatro deputados. Encararam esta corrida de forma positiva, dando para exemplo a gestão “séria e construtiva” da autarquia de Santa Cruz, ganha pela JPP nas últimas autárquicas e que retirou a vitória do PSD. Num balanço da campanha, Filipe Sousa, mandatário do candidato, considerou que tem sido de “forma coordenada, planeada, sem qualquer tipo de atropelos, sem ataques pessoais”, lamentando que outros partidos estejam a apontar o JPP como “principal alvo de ataque”.
Quem seguiu, ainda, o discurso anti-protesto foi a Plataforma dos Cidadãos (PDA/PPM) que sempre defendeu uma cultura de estabilidade. Miguel Fonseca, ex-socialista, queria inclusive que Alberto João Jardim fosse escolhido como presidente da região (figura inexistente em termos constitucionais), ficando a um nível superior ao presidente do governo, contribuindo, desta forma, “com a sua longa experiência” para o futuro regional.
Quem deitou âncora na Madeira foi o membro do Comité Central do PCTP/MRPP Garcia Pereira, neto de Pestana Júnior, ministro das Finanças da Iª Republica, nascido na ilha do Porto Santo, e um dos homens da Revolta da Madeira de 4 de Abril de 1931 contra Salazar (o avô de Miguel Albuquerque, tenente Francisco Machado, também participou nesta revolta) e que vem apelando ao voto para evitar maiorias na composição do parlamento, acreditando que é possível ter um deputado na Assembleia Legislativa da Madeira. "Estamos também disponíveis para votar a favor de quaisquer propostas, venham elas de onde vierem, que visem defender o povo da Madeira e do Porto Santo", disse.
Mais modesto, e sem aparatos, andou nos últimos dias o PNR pelas ruas num combate contra a burocracia e a favor da energia limpa enquanto o Movimento Alternativa Socialista (MAS) passeou o cão Quico, um São Bernardo transformado em mascote para “farejar o grave cheiro da corrupção”.