Em tarde de arruadas, PSD e CDS fazem tudo para não se cruzarem

Assunção Cristas participou na acção de campanha no Funchal dos centristas, mas foi confrontada com a polémica frase dos “cofres cheios” de Maria Luis Albuquerque.

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Assunção Cristas Rui Farinha/Arquivo

Os centristas recebiam a ministra da Agricultura e do Mar, Assunção Cristas. O PSD jogou com a prata da casa num tarde em que uma sondagem da Antena 1/RTP /Universidade Católica dava a maioria absoluta do PSD, com 49% e uma projecção entre 27 e 23 deputados, margem mínima caso 8 das 11 candidaturas obtenham nas urnas uma representação parlamentar.

Miguel Albuquerque estava radiante e garantiu que o trabalho iria continuar no terreno porque nada estava garantido, num apelo claro à maioria e aos abstencionistas. Na rua Fernão de Ornelas, uma mulher gritava “olha o rapaz mais bonito”, enquanto a meio do aperto de mãos um homem repetia vezes sem conta: “Vais ser o presidente do governo”.

Com risos pelo meio e o som sincopado da música “Paz, Pão, Povo e Liberdade”, os gritos “Albuquerque, olé”, estilo claque de futebol, ecoavam por uma das artérias principais do Funchal. Minutos antes passara por ali o CDS, que garantia ser “A Força da Madeira”, slogan de campanha. Com a Coligação Mudança em 2º lugar, 18% ( 8 a 10 deputados) e o CDS a manter os 11% (4 a 6 deputados), os centristas não valorizam os estudos de opinião e remetem para domingo o “verdadeiro” sentir do povo.

Com a animação de rua, bandas de música e muito barulho, as abordagens dos lideres aproveitaram para dar os abraços, as esferográficas, isqueiros e as camisolas de sempre. Assunção Cristas assumiu aos jornalistas que estava no Funchal para dar “muita força” ao CDS madeirense “enquanto amiga da Madeira”.

Questionada pelo PÚBLICO se o CDS estaria à espera de uma possível coligação PSD/CDS na Madeira para depois anunciar a coligação a nível nacional, Assunção Cristas recusou comentar, preferindo abordar o “trabalho extraordinário” que os populares madeirenses têm realizado, classificando José Manuel Rodrigues como “o melhor lider da oposição, muito forte e responsável numa região onde ela era necessária, um trabalho que deve ser reconhecido”.

O problema é que o PSD de Albuquerque ainda esta semana disse que os entendimentos futuros não têm de ser forçosamente à direita. Assunção Cristas deixou a pergunta no ar, optando por reiterar que os populares são a voz da “mudança”.

Enquanto os músicos da banda tocavam a “Jardineira”, com refrão “foi a Camélia que caiu do galho. Deu dois suspiros e depois morreu”, uma lojista de 40 anos, Teresa Silva, questionava a ministra com voz firme demonstrando o seu descontentamento pelo “descrédito” em que caíu o país. “Os cofres estão cheios? [alusão à frase da ministra das Finanças, Maria Luís Albuquerque]. Estão cheios mas o povo passa fome. É uma vergonha. Vou pensar muito bem em que vou votar”. Assunção Cristas bem tentou dar explicações. “Os cofres estão cheios para pagar a dívida”, disse.

Mas Teresa não se calava. “Olhe que a dívida não foi só na Madeira. Os Continentais também fizeram. A dívida é de todos. Vejam lá se baixam o IVA”. Ricardo Vieira, ex-lider do CDS Madeira, tentou acabar com a conversa. Estava a ficar tarde.

Mas as arruadas não se ficaram pelos maiores partidos. O Juntos pelo Povo (JPP), a novidade destas eleições e que na sondagem da Católica surge como quarta força política, com dois a três deputados, seguida da CDU, com a mesmo probabilidade, também andou pela baixa do Funchal. Élvio Sousa, cabeça de lista, referiu-se às “reacções nervosas” e ao “medo” que a JPP provoca nos partidos tradicionais, apresentando-se como o partido capaz de implementar uma “reciclagem da classe política” da Madeira.

Pelos lados da Coligação Mudança, (PS, PTP, MPT e PAN), José Manuel Coelho, do PTP, defendeu o perdão da dívida da Madeira. Victor Freitas, candidato socialista, considerou que esta posição trata-se de uma "visão partidária" e que "a síntese" da postura da coligação é a defesa de uma renegociação da dívida, com alargamento do prazo de pagamento.

No terreno estão ainda os comunistas a dar tudo por tudo. Edgar Silva (CDU) desafiou as pessoas a “não terem medo de dar força, dar mais votos a quem pode fazer a diferença para melhor”, enquanto José Carlos Jardim, do Movimento Alternativa Socialista (MAS), referia-se ao parlamento nestes termos: “Um autêntico chiqueiro, uma autêntica pocilga, onde uma data de porcos andam a comer do mesmo gamelão”.

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