Veterano da ditadura é o primeiro Presidente eleito democraticamente na Tunísia

Com o processo eleitoral terminado, falta agora perceber se os vencedores estão dispostos a procurar consensos e a apostar num país de todos.

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Essebsi, veterano da política na Tunísia, foi eleito Presidente aos 88 anos Anis Mili/Reuters

Essebsi, que obteve 55,68% e 1,7 milhões de votos contra 44,32% (1,3 milhões) de Marzouki, já tinha reivindicado a vitória antes do anúncio dos resultados. O seu Nidaa Tounès, formado em 2012, foi o partido mais votado nas legislativas de Outubro, com 86 deputados, mas vai ter de negociar para obter maiorias numa Assembleia de Representantes do Povo com 217 lugares.

Mal os media tunisinos começaram a avançar números da votação, ainda no domingo à noite, houve confrontos na localidade de Hamma, no Sul, onde nasceu o líder do Ennahda, Rached Ghannouchi. “Marzouki já disse que se vai conformar com os resultados. Querem ser mais papistas do que o Papa?”, reagiu Ghannouchi, apelando aos habitantes para regressarem a casa. Conhecidos os resultados, manifestantes incendiaram a sede do Nidaa Tounès em Tataouine, igualmente no Sul.

Com várias correntes do partido de Essebsi a defenderem a repressão dos islamistas, enquanto se opõem ao julgamento dos crimes da ditadura, os militantes do Ennahda (que elegeu 69 deputados) temem o regresso aos tempos onde ser religioso bastava para arriscar ser perseguido.

Marzouki tinha sido escolhido pela assembleia eleita no fim de 2011, dominada pelo Ennahda. Apesar de liderar um partido secular, o Congresso para a República, aceitou na altura aliar-se ao Ennahda, “em nome da revolução”. Com o anúncio dos resultados oficiais, deu os parabéns a Essebsi.

A União Europeia saudou esta eleição, considerando que “ao eleger pela primeira vez livremente o seu Presidente da República, os tunisinos escreveram uma página histórica na transição democrática do país”. “Ao longo de todo o processo eleitoral, os tunisinos transmitiram uma mensagem de esperança a todos os que, como eles, aspiram a um futuro pacífico, democrático e próspero”, lê-se no comunicado da chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini.

Mas no comunicado diz-se ainda que Bruxelas quer trabalhar “com as novas autoridades tunisinas, e com todos os sectores da sociedade”. O porta-voz da Casa Branca também disse que Washington “quer trabalhar estreitamente com o Presidente eleito e com o novo governo enquanto estes se empenham na concretização dos ideais da revolução e na resposta às aspirações dos tunisinos de mais segurança, oportunidades económicas e dignidade”.

Essebsi foi muito mais próximo do primeiro chefe de Estado da Tunísia independente, Habib Bourguiba, do que de Ben Ali, e foi considerado suficientemente moderado para ocupar o cargo de primeiro-ministro provisório logo após o derrube da ditadura, em Fevereiro de 2011. Mas muitos tunisinos não esquecem que ocupou as pastas do Interior, da Defesa e dos Negócios Estrangeiros com Bourguiba e foi líder do Parlamento com Ben Ali – em 2012, chegou a ser acusado na justiça, num processo movido por um movimento de oposição cujos membros foram torturados quando era ministro do Interior.

Sem a vontade de consenso do Ennahda, que deixou cair a chamada lei de “imunização da revolução”, que excluiria todos os responsáveis do antigo regime do processo eleitoral, nem Essebsi nem perto de metade dos deputados que o seu partido elegeu se poderiam ter candidatado. Cabe agora ao Nidaa Tounès provar se está disposto ao mesmo grau de compromisso e se tenta formar um governo onde estejam representadas as principais sensibilidades políticas do país.

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