Presidenciais na Tunísia vão ter segunda volta
Antigo ministro de Ben Ali parece ter vantagem sobre Presidente interino, um opositor à antiga ditadura.
Apesar de ser o candidato associado ao antigo regime – foi ministro do pai da independência, Habib Bourghiba, e antigo chefe do Governo de Ben Ali, derrubado na primeira das revoluções da chamada "Primavera Árabe", Béji Caïd Essebsi apresentou-se na segunda-feira como o verdadeiro democrata da corrida, dizendo que quem votou no seu adversário foram “islamistas, quer dizer, os quadros do Ennahda (…), e também o apoiaram os salafistas jihadistas”, declarou.
Marzouki foi eleito Presidente interino com o apoio do Ennahda, mas nestas eleições o partido islamista moderado não indicou nenhum candidato. O Presidente é um político secular que esteve exilado depois de ter concorrido contra Ben Ali em 1994, as primeiras eleições com outros partidos sob a égide do antigo Presidente, que davam a Ben Ali invariavelmente vitórias de mais de 90% dos votos.
Sublinhando a mudança, um tunisino dizia à agência Reuters quão orgulhoso estava destas eleições: “Somos o único país do mundo árabe em que não se sabe quem vai ser o Presidente até acabar a votação.”
Alguns temiam que Essebsi, 87 anos (fará 88 na altura da tomada de posse), protagonizasse um regresso ao passado, outros que acumulasse demasiado poder, já que o seu partido, Nidaa Tounès (O Apelo da Tunísia), saiu vitorioso nas legislativas.
Marzouki, 69 anos, avisou para o perigo da ascensão de figuras da era do partido único, em que não só não havia liberdades políticas, mas também havia um grande problema de corrupção.
Após a votação de domingo, o candidato pediu a “todas as forças democráticas com quem [lutou] nos últimos 30 anos por um Estado verdadeiramente democrático para romperem com o passado”. “Eu sou o seu candidato natural.”
O Presidente interino, eleito pela assembleia constituinte no final de 2011, terá sido prejudicado por ter liderado o país nos últimos tempos em que tem havido manifestações e descontentamento pela situação económica que tarda em melhorar, e alguns assassínios políticos.
"Sabemos dizer: 'Fora!'”
Mas muitos julgavam que o perigo do regresso de figuras ligadas a Ben Ali não era demasiado grande. “Agora vivemos numa democracia e podemos escolher”, dizia uma eleitora, Khira Ben Abdelrrahmen, ao diário norte-americano New York Times. “Antes tínhamos medo, mas agora sabemos dizer: 'Fora!'” Se não correr bem com Essebsi, podemos tirá-lo de lá”, garantiu.
Quando se aguardam os resultados da votação (até agora conhecia-se apenas a participação, que foi de 64,4%), ambos os campos diziam estar em vantagem, ainda que se esperasse que Assebsi fosse o mais votado – sondagens à boca das urnas realizadas por empresas privadas e citadas pelo New York Times davam-lhe entre 42% e 47%, enquanto Marzouki se teria ficado por 29% a 32%.
Mas com 24 candidatos a concorrer efectivamente (começaram por ser 27) não era possível prever como poderá ser a segunda volta que deverá realizar-se a 28 de Dezembro. Outras formações ainda estão a definir quem vão apoiar.
Em Outubro, nas legislativas, o partido de Essebsi venceu elegendo 86 deputados em 217, enquanto o Ennahda obteve 69 lugares.
A cooperação entre islamistas moderados e anti-islamistas como são os do partido de Essebsi tem sido uma marca da situação política na Tunísia e, dizem analistas, o sucesso da relativa estabilidade do país, o único dos países das revoluções das "primaveras árabes" que, com uma Constituição moderna e eleições livres, está a caminho de se tornar uma democracia.