UKIP elege segundo deputado e sonha com resultado histórico em 2015
Partido antieuropeu conquistou círculo de Rochester aos conservadores, um resultado que promete redobrar a pressão sobre o primeiro-ministro, David Cameron.
“Se o UKIP pode ganhar aqui, pode ganhar em qualquer ponto do país”, afirmou Mark Reckless, o segundo deputado a abandonar em Agosto a bancada dos conservadores para se juntar ao partido de Nigel Farage. A formação, que apesar de ter vencido as eleições europeias de Maio não tinha ainda conseguido franquear as portas do Parlamento britânico, não desperdiçou o impulso e, depois de em Outubro ter vencido em Clacton, no Essex, quinta-feira arrebatou o segundo círculo que os tories consideravam seguro.
Reckless foi reeleito com 42% dos votos e uma vantagem de quase três mil boletins face a Kelly Tolhurst, a candidata conservadora que nos últimos dias de campanha adoptou o tom duro sobre a imigração que o UKIP popularizou. O resultado também não foi auspicioso para os trabalhistas, que dominavam o círculo antes das legislativas de 2010 e agora não foram além dos 17%. Os liberais-democratas, parceiros na coligação liderada por Cameron, registaram o seu pior resultado de sempre (349 votos apenas) e voltaram a ser ultrapassados pelos Verdes.
No discurso de vitória, Reckless afirmou que a sua vitória é um prenúncio de um resultado histórico para o UKIP nas eleições do próximo mês de Maio: “Seja qual for a vossa circunscrição, seja qual for a vossa filiação partidária, pensem no que será ter uma bancada de deputados do UKIP em Westminster grande o suficiente para deter o equilíbrio do poder.”
Farage não definiu ainda qual o seu objectivo para as legislativas, mas há muito que não esconde o desejo de vir a ser o fiel da balança num Parlamento em que nem conservadores nem trabalhistas tenham maioria absoluta – e quanto mais o UKIP cresce, menor é a hipótese de Londres voltar a ter um governo de um só partido, tradição que o sistema eleitoral (círculos uninominais com eleição por maior simples) até agora favorecia.
Depois destas intercalares, o desfecho das legislativas do próximo ano tornou-se “para lá de imprevisível”, disse Farage numa entrevista à BBC Radio 4, explicando que Rochester ocupava o 271.º lugar na lista de círculos onde o partido acredita ter mais hipóteses de conquistar. “Está tudo em aberto”, sublinhou. A eurodeputada Diane James disse ao Financial Times que, depois de Rochester, o partido está confiante em eleger pelo menos 20 deputados. “Seria a cereja no topo do bolo.”
A liderança dos tories admitiu estar desiludida com a derrota, mas David Cameron disse estar “absolutamente determinado” a reconquistar o círculo nas legislativas, quando a participação eleitoral é habitualmente superior aos 50,6% registados na votação de quinta-feira. “O resultado foi mais renhido do que as sondagens previam”, afirmou o primeiro-ministro, insistindo no argumento de que só um voto nos conservadores impedirá o regresso dos trabalhistas ao Governo em 2015.
Os tories acreditam que a margem relativamente estreita da vitória de Reckless poderá dissuadir outros deputados de desertar – apesar de o deputado ter dito no dia da votação que dois antigos colegas de partido estavam a ponderar seguir-lhe o exemplo. E Cameron obtém algum alívio por ver que o Labour não está a aproveitar as intercalares para ganhar votos nos círculos que precisa de reconquistar para vencer as legislativas do próximo ano.
Mas Cameron, que se empenhou pessoalmente na campanha, visitando por cinco vezes o círculo, não sai incólume desta derrota. Com a subida dos populistas nas intenções de voto, o seu lugar na liderança dos conservadores não está a salvo de eventuais rebeliões. E a ala mais à direita do partido vai aumentar a pressão para que endureça a sua posição face à União Europeia, com a tónica na questão da imigração. O primeiro-ministro prometeu para as próximas semanas um discurso em que apresentará as suas propostas para limitar as entradas de cidadãos oriundos de outros países da UE, mas é estreita a sua margem de manobra para o fazer sem violar o princípio da livre circulação.