Informadores executados em público em Gaza pelo Hamas
Rocket palestiniano matou criança israelita de quatro anos e Netanyahu promete vingança.
O Hamas já levou a cabo execuções de alegados colaboracionistas duas vezes desde o início da guerra com Israel. Mas ainda não o tinha feito em público. Nesta sexta-feira, quando os fiéis saíam das orações na mesquita Omari na Cidade de Gaza, viram sete palestinianos, sacos enfiados na cabeça, serem levados por homens vestidos de preto e metralhadoras a tiracolo. Juntou-se uma multidão, e, pouco depois, os sete foram mortos a tiro.
Outros 11 foram mortos numa esquadra de polícia abandonada um pouco mais longe, disseram fontes do Hamas.
As execuções aconteceram depois da operação em que Israel matou três importantes comandantes do movimento radical palestiniano, as mais importantes baixas dos islamistas nesta guerra. Na véspera, um outro ataque aéreo deixou morta a mulher e filho de Mohammed Deif, comandante do Hamas, que terá sobrevivido.
No terceiro dia após a quebra da trégua que vigorou enquanto decorriam conversações no Cairo, não pararam os bombardeamentos israelitas sobre a Faixa nem os lançamentos de rockets palestinianos. Um deles provocou a morte de uma criança no sector de Sdot Negev, a Leste da Faixa de Gaza - é o quarto civil morto em Israel, num conflito que dura há mais de um mês e em que morreram mais de 2000 palestinianos, a maioria dos quais civis. De acordo com uma responsável da missão da UNICEF em Gaza Pernilla Ironside, 469 das vítimas mortais dos bombardeamentos israelitas são crianças.
"O Hamas pagará caro por este ataque. Vão ser intensificadas as operações até ser alcançado o objectivo" da operação contra Gaza, iniciada a 8 de Julho, declarou o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu.
Mas em Gaza, o principal acontecimento do dia foram as execuções. Não é claro de que modo é que informação prestada por locais terá ajudado nestas operações, mas Israel tem recorrido a informadores na Faixa, oferecendo dinheiro ou fazendo chantagem com autorizações de saída. A organização israelo-palestiniana Médicos pelos Direitos Humanos deu pormenores de casos em que palestinianos com autorização de sair de Gaza para receber tratamento médico na Cisjordânia ou em Israel tinham sido interrogados antes de sair e chantageados: ou davam informação ou não saíam. Houve casos de doentes com cancro ou problemas de coração para os quais não há tratamentos em Gaza que regressaram sem tratamento.
O Ministério do Interior de Gaza recusou confirmar a acção. Mas um site gerido pelo ministério declarava: “Não haverá compaixão pelos colaboracionistas que forem apanhados.”
Uma declaração atribuída à “Resistência” e publicada em vários sites, alguns ligados ao Hamas, dizia que tinha sido formado um “tribunal revolucionário”, de acordo com “as circunstâncias de guerra”. Isto deverá querer dizer que participaram nos julgamentos vários movimentos palestinianos, provavelmente não apenas o Hamas.
Um site ligado aos islamistas sublinhava que todos os acusados tinham sido alvo de uma investigação e que, confrontados com as acusações, tinham acabado por confessar. O movimento islamista avisou que “o mesmo castigo vai ser em breve imposto a outros”. E acrescentou: “As circunstâncias actuais forçaram-nos a tomar estas decisões.”
A acção deverá servir para desencorajar potenciais futuros informadores – os acusados agora executados deveriam estar detidos há algum tempo.
As vítimas não foram identificadas “para não envergonhar as suas famílias”. Testemunhas dizem que duas eram mulheres. O Centro Palestiniano de Direitos Humanos pediu o fim imediato das execuções extrajudiciais.