Netanyahu tenta golpe decisivo com morte de três comandantes do Hamas
Israel tenta levar o movimento palestiniano a negociar numa posição de fraqueza, mas não é claro qual poderá ser o resultado do novo desenvolvimento da operação militar na Faixa de Gaza.
Este poderá ser um golpe de força decisivo para primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que conseguiu uma vantagem decisiva após ter sido acusado de fraqueza ao lidar com o Hamas, opina o diário hebraico Ha’aretz.
Depois da quebra da trégua na terça-feira à noite, a aviação israelita tinha tentado matar Mohamed Deif, o comandante da ala militar do movimento, aparentemente sem sucesso. Comentadores referiam que não havia nada pior para fortalecer o Hamas: uma tentativa falhada, que só daria mais incentivos ao Hamas para lutar.
No ataque seguinte já não foi assim: fontes palestinianas dizem que morreram três importantes comandantes do Hamas – o responsável pela zona de Rafah, Raed al-Attar; o encarregado da divisão sul, Mohammed Abu Shmallah e outro comandante, Mohammed Barhoum. Israel confirmou apenas a morte dos dois primeiros, e justificou-as com uma lista de ataques contra o Estado hebraico que cada um ajudou a planear.
Raed Attar, diz o exército israelita, planeou a captura do soldado Gilad Shalit, que esteve cinco anos refém do Hamas até ser negociada uma troca e libertados prisioneiros palestinianos que estavam em cadeias israelitas.
Na véspera, Israel tinha levado a cabo um ataque contra Deif. É a sexta vez que tenta assassinar o alto responsável e figura cada vez mais mítica do Hamas – diz-se que foi acumulando ferimentos graves, sofridos em dois dos ataques israelitas.
A imprensa israelita ainda lançava uma sombra de dúvida sobre se a operação teria mesmo falhado, mas fontes palestinianas disseram que Deif estava vivo e que nem se encontrava na casa atingida na altura do ataque que vitimou a mulher e o filho bebé. Fontes de Israel acreditam que havia informação de que Deif estava naquela casa para um encontro breve com a mulher e o filho e, se for esse o caso, dizem que seria difícil que não tivesse ficado gravemente ferido.
Benjamin Netanyahu afirmou, numa conferência de imprensa na quarta-feira à noite, que as operações militares israelitas contra o Hamas iriam continuar até ser restabelecida a calma. “O Hamas sofreu o mais duro golpe desde que foi criado”, assegurou.
Com a morte dos comandantes fica claro o esforço de Israel para atacar os altos responsáveis do movimento palestiniano. Antes, durante a incursão terrestre, a aviação tinha bombardeado a casa do antigo primeiro-ministro do Hamas em Gaza, Ismail Haniyeh, mas este não estava lá. Também a rede de túneis subterrâneos serve para os responsáveis do Hamas assegurarem que não serão mortos por uma bomba lançada por um avião israelita (no caso da operação contra Deif, foram usadas cinco bombas anti-bunker).
O que mudou?
Não é claro o que mudou para estas acções ocorrerem agora, admite o Ha’aretz. Atacar figuras importantes do Hamas teria sido um objectivo de Israel – embora não a destruição do movimento, pois vários analistas sublinham que um sucessor seria certamente mais radical. Pode ter havido mais informação do lado do exército, ou ter havido uma ordem política para os militares correrem mais riscos. O plano de Netanyahu é enfraquecer o Hamas, e levá-lo a negociar a partir de uma posição mais fraca. Mas como várias previsões de possibilidade de acordo falharam, continua o jornal, não é claro se este plano poderá resultar.
Em termos de política interna de Israel, Netanyahu sai com uma imagem de líder forte e ponderado, que começa a agradar a uma base mais centrista.
O ritmo de rockets lançados de Gaza em resposta aos ataques israelitas diminuiu. Na quarta-feira, o dia tinha sido intenso, com 168 projécteis, mas na manhã de quinta-feira, apesar de o Hamas ter ameaçado lançar projécteis contra o aeroporto de Telavive, não houve fogo significativo. Ainda assim, a imprensa israelita notava que o movimento pode ainda ter alguma carta na manga – algum ataque usando algum túnel que Israel possa não ter descoberto, por exemplo. Os túneis são difíceis de localizar e as saídas finais em território israelita são muitas vezes escavadas dias antes da infiltração.
Israel e o Hamas travaram uma guerra que incluiu uma operação terrestre do exército do Estado hebraico, com mais de 2000 mortos do lado palestiniano e 66 israelitas, dos quais dois civis, e ainda um imigrante tailandês. Os dois lados mantiveram conversações indirectas mediadas pelo Egipto para um acordo de cessar-fogo, difíceis pois Israel queria a desmilitarização da Faixa de Gaza e o Hamas o levantamento do bloqueio ao território imposto pelo Egipto e Israel.