A escola para os filhos

Carta de uma mãe:
Caro professor, sou leitora habitual das suas crónicas. Nem sempre concordo com o que escreve, sobretudo quando fala de política. Por favor, não transforme este seu espaço de jornal em mais uma crónica sobre os nossos políticos! Apesar de às vezes repisar um pouco os assuntos, acho que nunca deve deixar de falar dos temas em que é especialista, como a família e a escola. Por isso, aqui lhe deixo um desafio, muito importante para mim.
Sou mãe de uma menina que faz seis anos no final deste mês e que vai para a escola em Setembro. A questão é: que escola deverei escolher, pública ou privada? Receio que o ensino público não seja muito bom e que a Marta seja confrontada com muitas crianças com problemas. Eu e o pai ganhamos pouco, mas com esforço conseguiremos colocá-la numa escola privada, talvez na cooperativa ao pé de casa que a Marta já frequenta no pré-escolar. Que outros aspectos devo ter em conta?

Leitora amiga, vou tentar responder à sua importante questão. O tempo passa depressa e em breve vai ter mesmo de inscrever a Marta!

Como pode optar, não centre a sua análise no público ou no privado. Essa é, aliás, uma visão redutora dos problemas, que infelizmente faz o seu caminho na sociedade portuguesa. Há excelentes escolas públicas e péssimas privadas, como poderá comprovar em análise atenta.

Que interessa, então? Em primeiro lugar, tente compreender se a escola centra a sua acção no desenvolvimento global da criança e não está apenas focada na preparação para os testes. Por exemplo, certifique-se se existe preocupação com o bem-estar emocional dos alunos (o melhor é falar com alguns pais de lá), se o desporto tem um papel importante e se estará contemplada alguma formação artística que, como sabe, deve ser iniciada bem cedo. Verifique também os espaços para recreio (sobretudo em dias de chuva!) e, se possível, meta conversa com alguns auxiliares de educação, agora chamados “assistentes operacionais”: oiça o que dizem, observe como se dirigem aos alunos, se respeitam e são respeitados, se gritam ou se sabem controlar-se nas situações de tensão. Fale com alguns professores, não se limite a ouvir o discurso oficial da directora. Se tiver tempo, visite várias escolas com vaga para o 1.º ano de escolaridade. Depressa sentirá, em visitas breves, como o clima escolar é melhor numas do que noutras. E depois opte, sem medo, com uma certeza: a escola também virá a ser construída por si e pela Marta.

Na nova escola, procure desenvolver uma relação de confiança com a professora da sua filha, nunca esquecendo que existem muitas mais crianças na turma. Fale com a Marta de uma forma positiva, sem dar muito troco a queixas do dia-a-dia, habituais em períodos de mudança, mas esteja atenta a todas as referências sobre questões de saúde e segurança.
Não estimule a competição. Ajude a sua filha a fazer bem, mas não tenha a obsessão que ela tem de ser a melhor. As crianças desenvolvem competências com ritmos diferentes, alguém que parece começar com lentidão pode acelerar e passar para a frente.

A avaliação da sua escolha vai ser trazida para casa pela sua filha: se depois do Natal a Marta tiver curiosidade e interesse em aprender mais, não desistir depressa perante as inevitáveis dificuldades e tiver uma relação tranquila e alegre com a professora e os colegas, a escolha da escola foi adequada. 

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