Uma obra-prima da TV

Na mesma semana vi o pior e o melhor da HBO dos últimos anos: o pseudo-documentário Sex/Now e o primeiro episódio de True Detective, com dois grandes actores principais (Woody Harrelson e Matthew McConaughey), um só argumentista (Nic Pizzolatto) e um só realizador (Cary Fukunaga) para os oito episódios da primeira temporada.

Não há equipas de escritores e de realizadores como acontece com as outras grandes séries de televisão, chefiadas por um escritor-chefe: como Vince Gilligan em Breaking Bad e Matthew Weiner em Mad Men.

Tanto Breaking Bad como Mad Men tiveram episódios (e às vezes temporadas inteiras) muito inferiores à média. Com True Detective pode falar-se, finalmente, de uma televisão de autor.

A música do genérico (Far From Any Road dos Handsome Family, de 2003) não poderia ter sido mais bem escolhida. O cenário é uma terra de ninguém no meio do Louisiana e o personagem de Matthew McConaughey é um pessimista gloriosamente deprimido e eloquente. O parceiro dele, interpretado por Woody Harrelson, é uma celebração da honestidade individualista.

Como sempre no cinema americano é a relação entre os dois homens que mais importa. Mas aqui há uma empatia radiante entre dois figurantes que começaram mal mas têm espantado toda a gente como actores.

É uma obra-prima, não haja dúvida. Tem defeitos (o crime é um lugar-comum; o niilismo é de pacotilha) mas a unidade estética e dramática é digna de um filme menor de John Ford.
 

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