Provedor do Leitor do PÚBLICO: em prol da credibilidade
Procurarei ler e interpretar nas questões pertinentes levantadas pelos leitores a minha contribuição para que o jornalismo no PÚBLICO, quer no suporte de papel, quer no suporte digital, não desvirtue a confiança que nele depositam os cidadãos.
O juízo que os outros fazem de cada um de nós é sempre mais correcto do que aquele que nós fazemos. A partir de agora, caberá àqueles que me escolheram, àqueles que fazem o PÚBLICO e aos leitores que o lêem avaliar o desempenho da minha missão. Doravante, o juízo feito pelos leitores será o mais importante e decisivo.
A minha ligação ao jornalismo começou lá longe. Eu sei que ser provedor não é ser jornalista. Mas é uma forma de estar próximo. De estar comprometido com a vida dos media. Devo, assim, agradecer à administração do PÚBLICO que, segundo o regulamento interno, é quem escolhe. Devo agradecer à direcção e ao conselho de redacção (por certo consciência colectiva dos jornalistas do PÚBLICO) pela homologação da escolha. Espero que a uns e a outros, nesta mediação entre eles e os leitores, não os desiluda.
Desde sempre, logo que tomou forma este projecto do PÚBLICO, levado a efeito pelo meu amigo e consagrado jornalista Vicente Jorge Silva, e sua equipa fundadora, habituei-me a ler este jornal. De forma mais aprofundada no suporte papel. De modo mais apressado e ligeiro no suporte digital. O PÚBLICO não me é estranho. Mas tenho a consciência de que, a partir de agora, essa minha leitura e acompanhamento têm uma responsabilidade maior. Ser intermediário entre aqueles que lêem o PÚBLICO e aqueles que o "produzem" é um papel intrínseco à própria qualidade do jornal.
A velha designação sueca ombudsman define provedor como «o homem defensor do povo». A terminologia adoptada em diferentes países reflecte uma certa atitude de entender este papel. Os espanhóis, por exemplo, chamam-lhe o «defensor do público». Os franceses preferem a expressão mais suave de o "mediateur/mediador". Procurarei adoptar este modelo. Sem recusar ou alienar as responsabilidades do cargo, procurarei ser "mediador" entre quem faz o jornal e quem o lê. Leitor e provedor são directos responsáveis pelo jornal que se faz. Quero partilhar, no meu lugar e função, um jornalismo mais íntegro, honesto, sério, independente, em estreita interligação com um público leitor, rigorosamente crítico, justo, participativo, pois é nesta transacção entre leitor e profissional de informação que se joga a credibilidade do jornalismo.
Avisaram-me de que os leitores do PÚBLICO são muito exigentes. Com o jornal. Com os jornalistas. Provavelmente com o provedor. E, porventura, com eles próprios. José Queirós, o meu antecessor, em artigo de despedida, no dia 24 de Fevereiro de 2013, caracterizava assim a imagem com que partia do leitor do PÚBLICO: "A de um leitor culto e exigente, que aprecia o rigor, a isenção e a profundidade das notícias, que valoriza a qualidade da informação e da opinião, que é pouco tolerante face a erros e falhas profissionais." Esta qualidade dos leitores do PÚBLICO compromete-me bastante. Procurarei respeitá-la.
Estamos todos, hoje, numa sociedade de visíveis rupturas civilizacionais, de enormes contradições, resistências e contra-resistências. Não é fácil ter em cada instante o discernimento, a exacta medida do que está certo, justo, verídico. Ninguém é dono da verdade única. A realidade é sempre uma construção cognitiva e social produzida pela percepção humana. Os campos da opinião no leque infinito das crenças, das ideologias, das visões interpretativas dos factos fogem a ter fronteiras definidas. O jornalismo move-se neste terreno e não noutro. Ainda assim, quando num mundo tão controvertido tudo se discute, tudo se encara com certo descrédito, não obstante os seus inegáveis defeitos, erros e omissões, eu continuo a pensar que está no jornalismo, nos jornalistas, uma trave mestra do podermos viver em democracia. Acredito na prática de um jornalismo esforçadamente rigoroso, culto, isento, independente.
E para o defender procurarei ler e interpretar nas questões pertinentes levantadas pelos leitores a minha contribuição para que o jornalismo, no PÚBLICO, quer no suporte de papel, quer no suporte digital, não desvirtue a confiança que nele depositam os cidadãos.
A propósito da função de provedor
"Alguém designou os provedores dos leitores como fiscalizadores da ética jornalística. Confesso que não me revejo na tarefa de fiscalizador, seja em nome de uma ética jornalística pré-fabricada, supostamente acima da política e da ideologia, seja como base numa visão toda-poderosa dos códigos deontológicos do jornalista"
Mário Mesquita, ex-provedor do Diário de Notícias, in O jornalismo em análise. A coluna do Provedor dos Leitores, Coimbra, Minerva, 1998.
"Por um lado, há a necessidade de fundamentar a responsabilidade social dos media e, por outro, é preciso considerar o público enquanto protagonista e não mero receptor passivo do processo informativo"
Joaquim Fidalgo, ex-provedor do PÚBLICO, "Notas sobre o lugar da ética e da auto-regulação na identidade profissional dos jornalistas», in Comunicação e Sociedade, n.º 11, 2007, pp.37-56".
"A defesa da credibilidade jornalística viria a ser o motor da instituição dos provedores"
Daniel Okrent, ex-director e primeiro provedor do The New York Times, in O Provedor, Lisboa, Edições 70, 2008.
"Nenhuma redacção dispõe da massa de conhecimentos e da capacidade crítica que os leitores de um jornal representam. Atender, analisar e encaminhar as dúvidas, queixas e sugestões dos leitores são competências do provedor que contribuem para aumentar a confiança dos leitores no seu jornal diário e para tornar mais transparentes os processos e decisões jornalísticos que intervêm na produção das notícias."
Do Estatuto do Provedor do PÚBLICO, 7 de Fevereiro de 2011
BLOGUE – Provedor do Leitor do PÚBLICO
Para um contacto mais imediato com os leitores, manterei em aberto o BLOGUE DO PROVEDOR DO LEITOR DO PÚBLICO, dando continuidade à experiência de anteriores provedores. Nem por isso será um espaço menos responsável. Todavia, sei que um jornal, hoje, não sai uma vez por dia. Já as páginas online davam uma vida constante ao jornal. Mas, sobretudo agora, com o PÚBLICO em papel ou em suporte digital, a cada momento, junto do leitor, esta imediação pode ser permanente. Porém, este estar contínuo sobre a hora não poderá ser o modo habitual de um trabalho do provedor que exige tempo, ponderação reflexiva. Para responder a esta dimensão de dar tempo ao tempo reservo a página semanal que o PÚBLICO me disponibiliza todos os domingos. Para assuntos mais breves, troca mais apressada de informações ou opiniões, utilizarei, utilizaremos, eu e os leitores, este blogue.